Exigência de Amorim justifica-se: "Muitos jogadores estão abaixo daquilo que podem fazer"
Amorim fez saber aos jogadores que não está satisfeito com o rendimento e o painel ouvido por O JOGO compreende-o. Tonel e Delfim, dois ex-jogadores do clube, e Luís Martins, antigo técnico na formação leonina, consideram normal que o técnico peça mais dos seus futebolistas para tentar inverter os resultados.
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Anteontem, no dia seguinte à derrota com o Varzim, que ditou a eliminação da Taça de Portugal, Rúben Amorim falou com o plantel em Alcochete e, dando "um murro na mesa", deixou claro aos seus jogadores que não está satisfeito com o rendimento destes por diversos motivos. Mais, fez questão de passar uma mensagem clara: exige-se mais esforço, maior intensidade e mais cabeça fria.
Reparos com o objetivo de despertar o plantel para a necessidade de dar a volta ao mau momento e retomar o trilho das vitórias o quanto antes.
O JOGO procurou perceber se são ajustadas e justificadas as exigências do treinador leonino, ouvindo um painel de quatro personalidades com ligações ao Sporting: dois ex-jogadores, Tonel e Delfim, um ex-treinador, Luís Martins, e um ex-dirigente, Menezes Rodrigues. E tirando o último, que vê a presente crise mais como um problema "emocional", que caberá a Rúben Amorim resolver, do que uma questão de "atitude ou falta de esforço" dos atletas, os restantes veem legitimidade para Rúben Amorim exigir mais e há até quem considere que tem faltado alguma falta de compromisso.
Tonel, antigo central dos leões onde alinhou cinco temporadas, sinaliza o plantel, comentando que "muitos jogadores estão abaixo daquilo que podem fazer e já mostraram no passado". De resto, considera: "Um futebolista para jogar no Sporting tem de estar sempre nos limites, dar o máximo em campo, com uma entrega, uma determinação e uma raça que não deixem margem para dúvidas sobre o compromisso", sentenciando: "Parece-me que num ou noutro jogo não se viu isso."
Luís Martins, durante várias épocas técnico na formação do Sporting e também coordenador técnico, explica que um treinador "deve ser um eterno insatisfeito" para justificar que Amorim, como qualquer técnico, tem "motivos para esperar e pedir mais" dos seus jogadores. E reforça que "num momento em que os resultados são maus, há mais motivos para aumentar a exigência" e "esperar mais da equipa tanto na vertente coletiva como individual". Martins reforça também que "é no treino que essa exigência se deve fazer sentir para que depois tenha reflexos na competição".
Delfim, antigo médio campeão pelo Sporting em 2000, assinala que "um treinador tem sempre legitimidade para pedir e exigir mais de todos os jogadores em prol do bem coletivo". Por outro lado, regista que "alguns resultados resultaram de erros individuais", o que sendo normal e fazendo parte do futebol, também justifica que um técnico peça mais dos seus jogadores.
Direção peca por falta de presença
Num momento de crise, Amorim não deveria ser o único a dar a cara. Assim o entendem Luís Martins, Delfim e Tonel. Este último defende que o treinador "não pode ser o único a falar em público", até pelo "desgaste para a sua imagem", pedindo que outras pessoas com responsabilidade apareçam. Luís Martins vê aqui um padrão. "Esta Direção nunca foi interventiva em alturas difíceis. Peca por falta de intervenção pública", diz. Já Delfim gostaria ver a Direção "passar uma mensagem de união, porque a atualidade parece demonstrar o contrário".
INQUÉRITO
1 - Considera que Rúben Amorim tem motivos suficientes para exigir mais dos seus jogadores?
2 - Parece-lhe que face aos resultados a Direção deveria ter um papel mais interventivo em público?
Luís Martins, treinador
1 Do meu ponto de vista, um treinador tem sempre razões e motivos para esperar e pedir mais dos seus jogadores, até porque um técnico deve ser um eterno insatisfeito. Num momento em que os resultados são maus, há mais motivos para aumentar a exigência. Acredito que o Rúben tem capacidade para, ao pedir mais e esperar mais da sua equipa tanto na vertente coletiva como individual, inverter a situação. É no treino que essa exigência se deve fazer sentir para que depois tenha reflexos na competição, porque a função do treinador é em primeiro lugar treinar e só depois liderar a equipa em competição.
2 Esta Direção nunca foi interventiva em alturas difíceis, praticamente só aparece quando há bons resultados. A meu ver, uma Direção é avaliada de forma mais positiva quando dá a cara nos momentos difíceis, aparecendo em público. Não quero dizer que eles não apoiem a equipa técnica em privado, dentro do clube, mas penso que a Direção do Sporting peca por alguma falta de intervenção pública, em especial nestas situações em que os resultados não estão a ser os melhores.
Tonel, ex-jogador do Sporting
1 Sim. Um futebolista para jogar no Sporting tem de estar sempre nos limites, dar o máximo em campo, com uma entrega, uma determinação e uma raça que não deixem margem para dúvidas sobre o compromisso. São coisas que têm de estar sempre presentes. A mim parece-me que num ou noutro jogo não se viu isso, o que é fundamental. Acho também que este plantel tem mais qualidade do que aquela que tem demonstrado esta época. Muitos jogadores estão abaixo daquilo que podem fazer e já mostraram no passado.
2 As conversas entre a Direção, equipa técnica e jogadores devem ter lugar em privado. Contudo, faz falta aparecer uma segunda pessoa do clube a dar a cara em público, em particular nos momentos delicados. Não pode ser só o Rúben Amorim a dar o corpo às balas, a falar de tudo, do futebol, da equipa, das vendas, das finanças. Não é bom para o clube nem para o treinador. Provoca um excesso de exposição, causa desgaste à imagem do treinador. Há outras pessoas com responsabilidades que deveriam aparecer a falar. O Amorim tem as suas, mas o seu foco deve ser treinar a equipa e tirar o melhor rendimento da mesma.
Menezes Rodrigues, ex-dirigente do Sporting
1 Falando de uma questão de esforço, não tenho muita certeza disso, até em função de declarações do treinador a dizer que os jogadores deixaram tudo em campo. Isso não quer dizer que não haja problemas, certamente os maus resultados têm razões que podem ser de ordem emocional e tática. Penso que têm sido cometidos alguns erros técnicos dos jogadores com consequências. Penso que estes têm dado o seu melhor, mas emocionalmente a equipa não tem estado tão bem e compete a Rúben Amorim procurar resolver isso.
2 Acho que a Direção da SAD tem feito bem o seu papel. Não é ela que prepara os jogos ou vai para dentro de campo. Imagino que tenha conversas com a equipa técnica e juntos devem procurar uma solução. Parece-me que esses assuntos devem ser tratados em privado e não em público, onde se corre o risco de criar ruído. Podem e devem dar apoio à equipa técnica e plantel e, eventualmente, passar para fora essa mensagem de confiança.
Delfim, ex-jogador do Sporting
1 Um treinador tem sempre legitimidade para pedir e exigir mais de todos os seus jogadores em prol do bem coletivo e do que é melhor para todos, apesar de não estar por dentro do momento que o Sporting vive internamente. Alguns dos maus resultados obtidos também resultaram de erros individuais, o que é normal numa equipa e faz parte do futebol. Mas, também por isso, considero ser normal um treinador pedir mais dos seus jogadores.
2 Sim, podia ter um papel mais ativo, desde que, com essa intervenção, passasse uma mensagem concisa e procurando demonstrar que há união entre a estrutura, o treinador e a equipa, porque a atualidade parece demonstrar o contrário.