Ex-jogadores do Nantes recordam Conceição: "regime militar", "loucura", "proteção" e "discursos de arrepiar"
Sérgio Conceição volta a defrontar um clube francês esta quarta-feira e a RMC Sport quis saber mais do técnico que orientou o Nantes em 2016/17. Leia os testemunhos de alguns jogadores daquela equipa.
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No dia em que o FC Porto defronta o Lyon, na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, a RMC Sport procurou conhecer um pouco melhor Sérgio Conceição, treinador dos dragões que passou pelos franceses do Nantes na época 2016/17. Alguns jogadores que trabalham com o técnico recordam o método rígido, mas também o lado protetor do português.
"Era quase um regime militar que ele impunha no grupo. Às vezes, aparecíamos no balneário para treinar, o treinador fazia-nos esperar 1h30 ou 2h e depois chamava-nos de repente, apitava, e nós sabíamos que o treino ia começar. Foi assim durante duas ou três semanas. Nós dizíamos entre nós: 'Isto não é possível, não podemos continuar assim, é muito rígido'. Mas percebíamos o que ele estava a tentar fazer", explicou o médio Guillaume Gillet sobre a chegada do treinador ao clube.
O defesa Anthony Walongwa falou de uma história que mostra bem a forma como o técnico leva o trabalho a sério.
"Naquela altura, eu precisava de perder alguns quilos. Ele falou comigo: 'A tua situação é complicada, és suplente, mas não te vou deixar ficar para trás. Começou a correr comigo no final dos treinos, 20/25 minutos. Ele queria ter soldados e não rejeitar ninguém. Antes da paragem de natal, perguntou-se se eu tencionava ir de férias e eu disse que queria apenas aproveitar alguns dias com a família. Ele respondeu: 'Ah? Acho que vais é ficar aqui a trabalhar com os meus adjuntos'. Eu achei que ele estava a brincar, mas não estava", revelou.
Para Rémy Riou, um dos guarda-redes do Nantes naquela época, havia uma certa "loucura" em Sérgio Conceição e lembrou, bem-humorado, um treino... às escuras: "Um dia, estávamos a treinar ao fim da tarde e não havia luz já. O treino começou às 15h e às 17h30 não se via. Estava a ficar cada vez mais escuro e nós no campo. E o Sérgio Conceição não queria parar. Víamos cada vez menos, ele ficava cada vez mais nervoso. Finalmente, lá acabámos o treino com escuridão total. Era uma certa loucura dele."
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E se a forte pressão é uma das imagens de marca do FC Porto de Sérgio Conceição, também já o era em França. "O Conceição queria que fôssemos efetivos na pressão. Para ele, a chave é saber como ganhar a bola cinco segundos depois de a perder. É essencial bloquear o adversário. Mesmo com equipas grandes, jogávamos o nosso jogo e corria bem. Uma vez até vencemos o Marselha (3-2)", recorda o belga Guillet. "Em poucos dias, cada jogador sabia perfeitamente o que tinha de fazer em cada situação do jogo. Era um grande trabalho dele, especialmente utilizando o vídeo. Para ele era muito sério", contou Maxime Dupé, outro dos guarda-redes, à RMC Sport.
A fechar, Guillet abordou o lado protetor e as palestras que arrepiavam. "Acho que ele dava a vida para proteger os jogadores. Defendia-nos sempre, desde que déssemos tudo em campo. Os discursos dele fascinavam, em algumas palestras até ficávamos arrepiados. O Conceição é isto: pode ficar completamente passado se o trabalho for desleixado, mas também é muito protetor", afirmou o futebolista, que não deixou de lamentar a saída do treinador - rumou ao FC Porto em 2017/18: "Para mim e para outros jogadores, foi duro de aceitar. Quando te identificas tanto com um treinador, é complicado... O Nantes foi buscar o Claudio Ranieri, mas já não era a mesma filosofia".
O Nantes de Sérgio Conceição foi sétimo na Ligue 1 e ficou às portas dos lugares europeus.
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