"Eustáquio tem um conjunto de requisitos que vão ser aproveitados por Conceição"
Daniel Ramos treinou o médio no Chaves e fala de um jogador que pode render bastante tanto a jogar a 6 como a 8.
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Obcecado pelo trabalho, 100 por cento profissional e adepto da análise estatística. Assim é definido Stephen Eustáquio, o primeiro e para já único reforço de inverno do FC Porto, que chega para um setor onde a concorrência é muita.
O facto de poder jogar a 6 e a 8 podem ajudar à afirmação de um médio que precisa de melhorar o jogo aéreo e ser mais agressivo nos duelos.
Daniel Ramos trabalhou com o jogador em Chaves, em 2018/19, e conversou com O JOGO para recordar os conselhos que lhe deu numa fase inicial da carreira. O treinador acredita que o internacional canadiano tem tudo para vingar no Dragão e fala de um bom aluno que gosta de aprender. "Falávamos bastante, muitas vezes depois dos treinos. Era algo natural. Muitas vezes era ele que aparecia para falar, noutras era eu que o chamava. Quando temos um atleta preocupado em melhorar ficamos até mais responsáveis em dar-lhe essa formação", conta-nos o atual treinador do Al-Faisaly, da Arábia Saudita. "Dizia-lhe para ver mais campo, para ter um pescoço superior. Tinha de rodar o pescoço mais vezes no sentido de perceber se podia ou não ficar com bola ou se tinha de jogar ao primeiro toque. Dizia-lhe para não perder a bola na primeira fase de construção. Tinha ainda de perceber a ocupação dos espaços para não pisar os mesmos do outro médio, sendo ele um 6 ou um 8. Foram aspetos que foi melhorando e agora vejo-o um jogador muito mais maduro. Evoluiu muito", considera.
A polivalência no meio campo pode ser um trunfo, ainda que Daniel Ramos não consiga dizer onde o vê render mais. "Era um das dúvidas que eu também tinha, se era 6 ou 8, porque pode desempenhar bem as duas funções. Não é um trinco, um 6 puro, por isso é que o vejo como 6/8 de rotação. Não sendo um jogador robusto fisicamente, filtra jogo e tem recuperações de bola. Além disso, participa bem nas dinâmicas ofensivas. Pode ser um 8 com chegada mais à frente ou o primeiro a construir a partir de trás", esclarece, enumerando alguns aspetos que ainda pode melhorar: "Apesar de não ser muito alto e de não ser mau no jogo aéreo, pode melhorar esse aspeto. E pode ser ainda mais agressivo nos duelos."
Ainda assim, Ramos diz que Eustáquio pode ser um jogador importante no último terço do campo. "Tem boa capacidade para "encostar" na hora de finalizar. Tem bom passe, executa com critério e tem capacidade para aparecer em segundas linhas, junto à grande área, para surgir a finalizar. Não é um jogador de grande remate exterior. Não é mau, mas não é o seu forte. Oferece muitas finalizações dentro ou próximo da grande área. É muito competente e percebe as dinâmicas que o treinador lhe pede. Está muito direcionado para aquilo que o treinador pede", elogia.
Feliz pelo salto do seu antigo "aluno", Daniel Ramos não está surpreendido com a transferência para o FC Porto. "O Eustáquio merece o que lhe está a acontecer e dou-lhe os parabéns, porque já quando o treinei era super interessado, queria melhorar, era bastante dedicado ao treino e muito profissional. Estava sempre preocupado com os detalhes e em saber o que estava a fazer de errado. Tivemos muitas conversas no sentido de ele melhorar as capacidades. Além do potencial, víamos que tinha bastante vontade de ser jogador. Isso muitas vezes faz a diferença e, no caso dele, foi decisivo para chegar a patamares superiores, porque, por vezes, temos bons atletas, mas depois não se preocupam com os detalhes e em melhorar, mas ele era muito determinado em ser competente", recorda sobre um jogador que, mal termina os seus jogos, gosta de analisar as estatísticas para perceber o que pode melhorar.
"O que está a conseguir é fruto da sua persistência e resiliência. Isso permitiu-lhe esse crescimento que tem demonstrado e agora tem a possibilidade de jogar ao mais alto nível no FC Porto", atira Daniel Ramos
Eustáquio chega ao FC Porto aos 25 anos e, segundo o treinador, vai beneficiar por trabalhar com Sérgio Conceição. "O FC Porto é forte, mas ele pode dar boas soluções, porque é um jogador rotativo, que evoluiu no conhecimento do jogo, tem passe e não se esconde para ter bola. São aspetos fundamentais para jogar numa equipa de alto nível e de alta intensidade. Tem um conjunto de requisitos que vão ser aproveitados pelo Sérgio Conceição", conclui.