Eustáquio, líder sem braçadeira: "Ser frontal não é dizer o que querem ouvir..."
Médio abraçou o repto de Vítor Bruno para o aparecimento de novas lideranças no FC Porto. Pedro Caixinha orientou-o no México e diz que tem o perfil certo
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A saída de Pepe criou um vazio na liderança do balneário que Vítor Bruno desafiou o plantel a preencher e Eustáquio começa a dar sinais de estar a abraçar esse repto. As intervenções públicas nos momentos mais atribulados da época [derrotas com a Lázio e empate com o Anderlecht], a forma como defendeu alguns companheiros na sequência de erros cometidos [Pepê, em Bruxelas] e a forma esclarecida como abordou o desempenho do FC Porto após o jogo com o Midtjylland caíram bem junto dos adeptos e revelam traços típicos de um capitão, mesmo sem a braçadeira no braço esquerdo.
O ex-treinador do canadiano garante que as palavras deste no final do jogo com o Midtjylland foram sem segundas intenções. “Ser frontal não é dizer o que as pessoas querem ouvir”, frisa.
Eustáquio foi capitão na última temporada de Paços de Ferreira e, recentemente, também assumiu posição de vice-capitão na seleção do Canadá
O médio tem essa experiência do Paços de Ferreira e, mais recentemente, da seleção do Canadá, pelo que foi com naturalidade que esta temporada escalou na hierarquia de capitães dos dragões, da qual já fazia parte em 2023/24, embora numa posição de menor mediatismo. Nada que Pedro Caixinha não perspetivasse quando o levou para os mexicanos do Cruz Azul.
“Quando chegou ao Cruz Azul já se via que tinha esse perfil e esse traço pela forma clara como falava do jogo e do conhecimento que tinha”
“Naquele contexto não foi necessário, porque tínhamos um grupo de líderes muito claro e definido. No entanto, já se via que tinha esse perfil e esse traço pela forma clara como falava do jogo e do conhecimento que tinha”, revela em O JOGO o treinador, que nunca perdeu o contacto com o internacional canadiano. Mesmo depois de os dois terem seguidos caminhos distintos. “É um dos jogadores com os quais trabalhei com quem falo mais sobre o jogo e o treino. Em determinado momento, pedia-me a opinião e perguntava-me se podia falar sobre determinado momento de um jogo que tivesse visto, no sentido de melhorar a sua prestação e comportamento”, conta.
“Estamos a falar de um jovem que passou pelo estrangeiro quando ainda era uma criança e que, pela perda dos pais, também teve de dar um passo em frente”
O respeito do plantel por Eustáquio é enorme e ficou publicamente exposto com a morte prematura dos pais, experiência que, para Pedro Caixinha, acabou por lhe “moldar a personalidade”. “Estamos a falar de um jovem que passou pelo estrangeiro quando ainda era uma criança e que, pela perda dos pais, também teve de dar um passo em frente. Mas o perfil do Stephen [Eustáquio] é natural”, afiança o treinador, função que Vítor Bruno já perspetivou como sendo o futuro do médio. Por isso, a opinião manifestada no rescaldo do jogo de anteontem, com o Midtjylland, deve ser vista por esse prisma e não como uma crítica dirigida aos companheiros.
“Ser frontal não é dizer o que as pessoas querem ouvir, mas o que se sente e pensa naquele momento. Ele fala de maneira aberta, do coração, mas sem segundas intenções”
“Temos de nos habituar a ser mais abertos, transparentes e frontais, embora no futebol nem sempre lidemos com isso da melhor maneira e, por vezes, ocultemos coisas que são evidentes”, sustenta Caixinha. “O Stephen [Eustáquio] tem esse caráter quando lhe damos a oportunidade. Ser frontal não é dizer o que as pessoas querem ouvir, mas o que se sente e pensa naquele momento. Ele fala de maneira aberta, do coração, mas sem segundas intenções. É apenas e só uma expressão do que está a sentir”, completa.
Nomeado para prémio no Canadá
Peça-chave na caminhada do Canadá até ao quarto lugar na edição de 2024 da Copa América, Eustáquio está nomeado para o prémio de Jogador do Ano daquele país. O médio do FC Porto, que leva dois golos e duas assistências esta temporada, tem a concorrência de Moise Bombito, Maxime Crépeau, Jonathan David, Alphonso Davies, Alistair Johnston, Cyle Larin e Jacob Shaffelburg. O vencedor será conhecido a 20 de dezembro.