Eustáquio lembra o drama familiar no qual perdeu os pais: "Não queria ser egoísta..."
Eustáquio, médio do FC Porto, recordou a perda dos pais no espaço de um ano. Emocionado, assume que foi no relvado que se refugiou
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Afastado de ir à final pela Argentina (0-2), o Canadá de Eustáquio ficou a saber na madrugada de quinta-feira que irá defrontar o Uruguai para a atribuição do terceiro e quarto lugares da Copa América. Concentrado na competição em que o seu país participa pela primeira vez e na qual está a fazer história, o médio do FC Porto concedeu uma entrevista ao “The Athletic” em que falou sobre o drama familiar que viveu nos últimos dois anos, nos quais perdeu os pais, devido a doenças.
Stephen abriu o coração e não escondeu que o futebol foi o seu refúgio nos momentos mais complicados por que passou, tendo mesmo abdicado dos dias de folga que o FC Porto lhe concedeu para fazer luto. Agora, quando entra em campo, diz, não o faz apenas por si, mas também para honrar a memória dos pais que morreram em circunstâncias trágicas.
A mãe, Esmeralda, não resistiu a um cancro no cérebro em 2022. “Ela estava a sofrer. E houve uma altura em que não era saudável nem para ela. Não foi saudável para o meu pai porque estava por dentro de tudo e tentava ajudá-la. Não era saudável para nós”, contou. A 15 de abril de 2023, Eustáquio foi titular com o Santa Clara, sendo substituído aos 56 minutos e foi nessa altura, quando chegou ao banco, que Sérgio Conceição lhe disse para se preparar para o pior. Ao dirigir-se para o balneário viu a namorada Constança e o médio percebeu logo o que tinha acontecido. “Não queria ser egoísta e pensar: ‘quero que a minha mãe viva mesmo nestas condições’”, disse.
Conceição ofereceu ao médio quase duas semanas de folga dos jogos e treinos para fazer o luto, mas este não quis: queria jogar para honrar a memória da mãe. “Se me perguntassem aos 20 anos se, em todos os treinos e em todos os jogos, pensava que seria o último jogo da minha vida? Não, eu era criança, era ingénuo. Mas agora tenho de ter em conta: ‘OK, para que estou aqui?’”, questionou.
O pai, por causa do trabalho em França, acompanhou pouco o crescimento de Stephen, mas as conversas eram constantes, sobretudo depois dos jogos. Em abril deste ano, pouco depois de ter conhecido a neta Benedita, Armando sofreu um ataque cardíaco fatal. O mundo voltou a desabar. Eustáquio voltou a receber todo o apoio do FC Porto, dos colegas e da equipa técnica, que lhe ofereceu mais dias de folga, novamente recusados por achar que treinar e jogar aliviaria a sua mente sobrecarregada. “Se perdes alguém, investes mais em tudo o que podes controlar na tua vida. Agora que sou responsável por uma família. Cada treino que tenho, cada jogo que faço, posso não ficar louco com isso, mas, ao mesmo tempo, sei que esta é uma grande oportunidade. Tudo o que faço é para oferecer à minha família as melhores condições no futuro através do meu trabalho. Tenho um motivo para trabalhar, para viver...”, concluiu.
Na madrugada de sábado para domingo, frente ao Uruguai, Eustáquio não jogará apenas para o bronze, mas também em nome dos pais.