Esteve quase três anos sem jogar e agora é destaque no Varzim: "Estava desesperado"
Chicão esteve quase três anos sem jogar e é agora um dos jogadores em destaque no arranque poveiro na Liga 3
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Nascido no Maranhão e criado na cidade de Praia Norte, no Estado de Tocantins, Chicão é o mais novo de quatro irmãos. Desde o futebol de rua ao futsal, antes do futebol de 11, a história foi sempre de superação, e continuou a sê-lo em Portugal, onde esteve quase três anos sem jogar, devido a lesões.
Brasileiro, de 25 anos, já está em Portugal desde 2018, ano em que chegou para o Famalicão. Cresceu num meio agreste e esse percurso, repleto de obstáculos, permitiu-lhe superar a agonia.
O seu sonho foi sempre ser jogador?
—Comecei a jogar na rua com os amigos até experimentar o futsal, aos 10 anos, mas não fazia ideia se iria ser jogador, até por morar no interior profundo de Tocantis, onde faltam oportunidades. Aos 13, passei para o futebol de 11, até despertar o interesse de um clube chamado Capital.
E quando é que percebeu que podia fazer disso profissão?
—O Tiba, um antigo internacional brasileiro, viu-me jogar e chamou-me para uma escola de treinos individualizados, onde aprendi durante seis meses. Criou uma equipa na região apenas com a intenção de levar uma pessoa do Palmeiras para ver-me jogar e, a partir daí, tudo começou. O olheiro do Palmeiras gostou de mim e fui lá treinar, mas não consegui ficar e andei por vários clubes da região até parar no Grémio Osasco. Fiz um bom campeonato e o Famalicão pagou pela minha contratação, em 2018.
Como correu a experiência em Famalicão?
—Foi muito complicado, porque, após três dias, fraturei a tíbia e estive cinco meses parado, mas o Famalicão deu-me todo o suporte. No primeiro ano quase não joguei, sendo que a estreia até foi contra o Varzim, pelos sub-19. Lesionei-me outra vez nesse jogo. Voltava a treinar e rasgava. Andei quase três anos nisto. Estava desesperado e já não conseguia raciocinar direito. Em nenhum momento cheguei a pensar em desistir, focando-me na procura da origem das lesões. Cheguei à conclusão de que colocava muita pressão em mim, por ter vindo de uma zona pobre do Brasil, até porque era o jogador mais novo do Famalicão e, supostamente, vinha para jogar e ser vendido. As pessoas que estavam no meu redor também me colocavam muita pressão, eu era muito jovem e não sabia lidar com isso. Dei a volta por cima ao mudar a minha mentalidade e ao deixar de estar com pessoas que eram negativas para a minha vida, mudando o chip. Comecei do zero, o Famalicão emprestou-me ao Londrina e voltei de lá lesionado. O Famalicão já tinha praticamente desistido de mim, mas consegui dar a volta por cima e, no meu último ano, ainda fiz mais de 20 jogos pelos sub-23.
Seguiram-se o Fafe e o Leixões...
—As coisas começaram a levar um rumo diferente, deixei de ter lesões, apanhei um grupo muito bom em Fafe, uma cidade boa, com pessoas que gostavam de mim. Fiz uma boa época e seguiu-se o Leixões, mas não tive muitas oportunidades e, a meio da época passada, fui emprestado ao Varzim.
E o que encontrou no Varzim?
—Encontrei uma casa, tal como tinha acontecido no Fafe. Tenho conseguido jogar e estou a passar por clubes em que toda a gente me trata bem. As pessoas do Varzim querem que eu esteja aqui, e isso ajuda muito. Ando feliz no trabalho e em casa.
Já criou empatia com os adeptos, que parecem rever-se em si.
—Vejo que gostam de mim, e fico feliz por sugerir que se reveem em mim, por carregar os valores do clube. Sinto-me muito bem no clube, temos um grande grupo e sinto que sou importante. É um casamento perfeito. Temos um ambiente de família no balneário e sente-se uma energia diferente.
E até onde pode chegar esta equipa, sabendo que os adeptos só pensam na subida...
—Também pensamos nisso no dia a dia, trabalhando no limite. Queremos ficar entre os quatro primeiros e depois colocar o nosso nome na história do Varzim. As coisas estão a ser bem feitas, e estamos mais perto de ter sucesso que o contrário. Quando estive no Fafe e vim jogar fora contra o Varzim, foi o único estádio em que me senti jogador. O ambiente é muito bom, superando muitos clubes dos escalões superiores. Tal como adeptos, nós também queremos subir de divisão, mas sem o apoio deles é impossível. Apoiem e cobrem, sabendo que estamos todos a lutar pelo mesmo.