Estes gauleses estão loucos: craques de baixa e adeptos em protesto antes do Braga

Nice atravessa uma crise profunda
AFP
Terceiro clube português a cruzar-se com o Nice esta época, a visita dos minhotos coincide com um dos momentos mais agitados de sempre no Gym
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O Braga pode dar hoje em Nice um passo importante na qualificação direta rumo aos oitavos da Liga Europa, restando depois mais duas jornadas para gerir contas que, face ao sétimo lugar atual, lhe são favoráveis. Sem perder há cinco jogos, e com Ricardo Horta afinado a conduzir a orquestra, os guerreiros cruzam-se com um adversário em brasa: sete derrotas consecutivas; boicote da claque aos jogos; agressões a jogadores; um treinador que ameaçou bater com a porta e dirigentes que não sabem bem o que dizer. Está montado um autêntico circo à volta do clube e, zangados, os adeptos espalharam por alguns pontos da cidade cartazes com um palhaço a anunciar os jogos como se fossem sessões circenses, incluindo este, com o Braga.
A história da crise do Nice, ou Gym como é popularmente conhecido em França, já tinha, antes desta visita bracarense, umas linhas significativas em português, não só porque o Benfica arruinou o sonho da Champions logo a abrir a época, mas também porque, mais recentemente, o FC Porto se juntou a uma longa lista de cicatrizes acumuladas, naquela que foi a quinta de sete derrotas seguidas, encadeamento que acabou com a paciência dos adeptos. Aliás, logo a seguir à sexta houve uma noite de terror, com ecos que ainda perduram.
Dois craques metem baixa
No regresso de Lorient, onde sofrera novo golpe, a equipa tinha à espera um grupo enfurecido, que, segundo os relatos, entre insultos e agressões, deixou o clube em alerta máximo. O treinador, Franck Haise, ameaçou ir-se embora, dois dos jogadores agredidos, Jérémie Boga e Terem Moffi, solicitaram atestados para baixas clínicas por razões psicológicas e outros, segundo a Imprensa francesa, desataram a ligar aos empresários para que os tirassem da bela Côte d'Azur o mais rapidamente possível.
Pelo meio desta agitação, num caldeirão de emoções à flor da pele, outras feridas ficaram expostas. A gigante britânica Ineos, que comprou o clube em 2019, foi acusada de inércia, e não apenas em surdina. O treinador, em declarações ao "L'Équipe", queixou-se abertamente do silêncio do dono, mais concretamente de Jean-Claude Blanc, a voz que o representa, depois do episódio de terror vivido naquela noite de domingo, dia 30 de novembro. Com ironia, Haise acrescentaria que até tinha sido ele a ligar ao presidente, Fabrice Bocquet, e que as primeiras palavras de Blanc, por mensagem, chegaram só na quarta-feira seguinte.
"Pedreiros" boicotam
Entre apelos dos dirigentes à serenidade, na tentativa de colar os cacos do caos, uma das claques mais emblemáticas, a Populaire Sud, partiu para a violência. Desta vez por escrito, a oficializar o divórcio com a equipa. "Nós, pedreiros, estudantes, desempregados, vamos voltar para as nossas famílias; vocês já não fazem parte dela", anunciaram, em comunicado, no qual refutaram também as agressões aos jogadores e ao diretor-desportivo de que tinham sido acusados. E na lavagem de roupa suja, ainda denunciaram que alguns jogadores estavam a tentar fazer a cama a Franck Haise e que, de forma hipócrita, procuravam fingir coesão à boleia das tais agressões, que motivaram a abertura de uma investigação policial que continua em curso. O boicote dos adeptos já foi sentido no último domingo, na receção ao Angers. A Allianz Riviera esteve às moscas e os poucos que apareceram trocaram os aplausos por assobios.
Treinador sem "électrochoc"
No final da sétima derrota, o lugar de Franck Haise, que tem contrato até 2029, voltou a estar em causa. Mas a chicotada, que em França se conhece por "électrochoc", não está nos planos. "Já propus o "électrochoc" depois do jogo de Marselha, e não o vou fazer todas as semanas", comentou o técnico, que contestou a ideia de que teria pedido uma choruda indemnização para sair. "Todos sabem que eu estava disponível para abdicar de 43 salários", reagiu.É neste caldeirão de gauleses enfurecidos que o Braga vai tentar encontrar a poção mágica para se manter entre os oito primeiros e deixar o Nice num trapézio sem rede.

