"Espero que haja alguém que tenha também a capacidade e a visão de dar continuidade a este trabalho"
Pedro Proença e Rui Moreira desafiam sucessores a fazer melhor sem estragar
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Pedro Proença e Rui Moreira, de saída das presidências da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e da Câmara Municipal do Porto, partilharam esta terça-feira o desejo de quem os substituir não estrague o trabalho feito e faça ainda melhor.
Os dois dirigentes partilharam a sua cumplicidade para a construção da nova sede, num encontro inserido na apresentação do livro Arena Liga Portugal – Passado, Presente e Futuro, na Arena, no Porto.
O ainda líder da Liga é candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), enquanto Rui Moreira vai deixar a Câmara do Porto para dedicar o seu tempo a outros assuntos que tem descurado, como o futebol.
“Não vejo [saída da Câmara do Porto] com nostalgia. As coisas que me propus fazer ou já foram feitas ou não são exequíveis. É altura de vir alguém que não destrua o que está bem e faça melhor ainda”, disse Rui Moreira.
Quanto ao futuro, o ainda presidente da autarquia portuense, que foi convidado por Pedro Proença para integrar e liderar um futuro Conselho Superior, um das propostas lançadas pelo candidato à FPF.
Rui Moreira, quando abordado por Pedro Proença para trocar ideias sobre a ampliação da antiga sede, casa agora da Ágora (departamento de cultura e desporto da CM Porto), lançou o desafio para um novo edifício, que fosse um espaço único, icónico e futurista.
“Este peixe não vai sair daqui [Porto], vai ter um aquário maior”, adiantou Rui Moreira, elogiando a capacidade de Pedro Proença em tirar a Liga de uma situação financeiramente complicada e transformá-la numa marca nacional e internacional.
Pedro Proença deixa a Liga com pena de não acompanhar o fecho de alguns dossiers importantes, como a centralização dos direitos televisivos, mas com a certeza de que a Liga está lançada e de que quem o suceder terá a vida facilitada.
Declarações de Pedro Proença:
“Recuando no tempo, Rui Moreira faz parte do meu imaginário enquanto líder e lembro-me perfeitamente a primeira vez que trocámos uma série de ideias sobre o assunto. A Liga, naquela altura, estava num espaço limitado e projetávamos a possibilidade de criarmos outro tipo de infraestrutura. Inicialmente pensámos na ampliação do próprio edifício da Liga, na Rua da Constituição, mas o Rui Moreira é um empreendedor e, ao contrário do habitual presidente de Câmara, não cria dificuldades, mas sim soluções. Hoje temos aqui este edifício, e Rui Moreira é muito o pai desta ideia, porque desafiou-nos que fosse construído na cidade do Porto, enquanto nós utilizámos as nossas ideias para erguer um edifício absolutamente inovador.”
“Este é um espaço único na cidade, um edifício icónico feito por um conjunto de arquitetos que conseguiu projetar a nossa ideia. Além de tudo isso, criámos um conceito único no mundo do Futebol Profissional, com muitas outras valências além da organização de eventos, como projeção de marca, projeção de conhecimento, capacitação e atividade de entretenimento. É isso que conseguimos através do conceito Liga Portugal Experience.”
“Este edifício corporiza 10 anos de trabalho de uma equipa absolutamente multidisciplinar, que foi capaz de recuperar a identidade da própria Liga. Em 2015 falava-se da possibilidade de o Futebol Profissional voltar a integrar a Federação Portuguesa de Futebol, que não fazia sentido haver um organismo que fosse só ele o gestor do Futebol Profissional. Conseguimos que isso não acontecesse, num processo de recuperação e maturidade. Este edifício é verdadeiramente icónico também por isso, pois vinca esse momento de afirmação de uma marca nacional e internacional como é hoje a Liga Portugal, que tem a sua própria identidade e robustez. O legado que deixamos é a identidade que a Liga Portugal ganhou e que vai afirmar-se com um conjunto de desafios futuros, como a centralização dos direitos audiovisuais, a redução dos custos de contexto, dossiers que tenho alguma pena e até certo saudosismo por não poder vir a acompanhar. Espero que haja alguém que tenha também a capacidade e a visão de dar continuidade a este trabalho, até porque o grande capital que vamos deixar na Liga Portugal não são as infraestruturas, mas sim as pessoas. São as pessoas que acreditam verdadeiramente em tudo isto.”
“Tenho uma máxima que utilizo muito com os presidentes que é ‘a única coisa que nos separa são os 90 minutos, em tudo o resto somos parceiros de um negócio em que todos os interesses são comuns’. Eles acreditam verdadeiramente nisto. É uma convicção. Está aqui a pessoa que me convenceu a ser Presidente da Liga, em 2014, que me disse: ‘Tu tens tudo. És capacitado, percebes que o futebol é uma atividade de entretenimento e que tens a qualidade de unir todas as pessoas.’ Foi também esta pessoa que me convenceu a ser candidato à Federação Portuguesa de Futebol, dizendo-me que aquilo que fiz nos últimos 10 anos vou conseguir fazer também no futuro. Hoje as pessoas acreditam que é possível fazer tudo e aqueles 90 minutos são o único espaço em que são adversários. Em tudo o resto temos de ser pessoas capazes de pensar em comum e que temos de saber tratar do Futebol de forma diferente."
Declarações de Rui Moreira:
“A questão foi: como vamos encontrar um modelo que acautele os interesse da cidade e da Liga Portugal, que permita que aquele antigo edifício não se perca, mas possibilite, ao mesmo tempo, que se encontre um sítio especial para construir uma nova sede? Vamos aproveitar o antigo edifício para uma empresa municipal, dedicada ao desporto, enquanto este edifício é de vivência! O sonho de Pedro Proença era ter ume edifício que fizesse a festa do futebol, e este edifício é a festa do futebol. Nós visitamo-lo e percebemos que está completamente aberto, que temos a possibilidade de comprar equipamentos dos clubes e até bilhetes para todos os jogos. Existe um conjunto de atividades lúdicas que faz com que o futebol esteja cá dentro, não apenas a organização, mas mais do que isso.”
“Não sei se haverá outro na Europa. Igual não há certamente, e melhor duvido muito. O mérito é de Pedro Proença e da sua equipa, nós apenas aproveitámos a ocasião de dizer: este peixe não vai sair daqui e vai ter um aquário melhor. E este é de facto um fantástico aquário.”
“Conseguiu fazer com que os clubes percebessem que há um negócio conjunto. Uma coisa é a rivalidade em campo, outra é o negócio conjunto. Isso é o grande mérito, e que daqui a 20 anos seguramente lhe vão reconhecer. Atualmente, o raciocínio e o diálogo é diferente e isso é o grande futuro do futebol. É as pessoas perceberem que ao fim dos 90 e tal minutos, no dia seguinte, têm de se encontrar, seja onde for, e perceber que existe um negócio para tratar e que, se não o tratarmos, os que estão à nossa volta não nos vão ajudar.”