Mike Leigh, acionista minoritário da SAD do Elvas, que disputou o CdP, fala da paixão que encontrou no Alentejo, acredita numa subida e num projeto de cinco anos até presença na Liga. Confessa ligação impagável que tem com o clube e do orgulho com que trajou Gascoigne com um cachecol dos elvenses
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Elvas tem Badajoz à vista mas tem também o suporte de uma SAD para se tentar deslocar a breve prazo por todo o Portugal, disputando as provas profissionais. O histórico clube alentejano, que registou épocas na 1ªDivisão nos anos oitenta, assinou campanha bem regular no Campeonato de Portugal, ganhando alicerces para ser o embaixador futebolístico do Alentejo numa tentação crescente que emerja um novo Campomaiorense. Com capital predominantemente suíço, o inglês Mike Leigh, acionista minoritário com ações em trânsito, foi um dos elementos que fez atrair o principal investidor. Mike, reconhecido responsável de um podcast de culto do universo do Tottenham, fala da relação construída e das motivações que o vão manter em Portugal na busca de outros clubes necessariamente inspiradores.
"Mudei-me para Portugal com a minha família em agosto de 2022. Como grande fã de futebol quis logo assistir a jogos. Estava a viver no Estoril e comecei por ver Estoril, Casa Pia, Atlético. Fui ficando impressionado com várias equipas de contexto pequeno mas apoio bastante fanático. Comecei a investigar as regras de investimento dos clubes e como seria a sua operacionalidade no país", recorda. "Achei interessante que várias equipas pequenas conseguissem com escassos recursos chegar de forma consistente à 1ª Divisão com o investimento certo", explica. De amigo em amigo, um projeto surtiu efeito. "O Miguel Silva, um amigo português, conhecia o Ricardo Sereno que nos informou que a SAD do Elvas estava numa situação difícil e desesperada por financiamento. Não sabiam, na altura, se conseguiam competir no Campeonato de Portugal", situa-nos sobre o complexo mas profícuo desdobramento de diligências.
"Ficamos impressionados com a paixão das pessoas do clube, além de claramente conhecedoras. Era um gigante adormecido que poderia voltar ao topo, a palcos desconhecidos há mais de trinta anos. Fomos ao encontro de investidores e procedemos à modernização e mudança de coisas dentro do clube. O treinador foi fantástico. Estou muito satisfeito pelo que fizeram os investidores, espero que assim continuem, que possam avançar mais. A certeza é que existe uma equipa vibrante e jovem que emociona as bancadas. Fomos da zona de despromoção â primeira metade. Estou certo do potencial para disputarem os play-off da subida na próxima temporada", relata Mike Leigh, que anda nas nuvens pelo que vê em Portugal, mesmo numa linha geográfica mais interiorizada e desertificada. "Existem imensos clubes maravilhosos fora das grandes cidades portuguesas. Com investimento e gestão adequados, podem reunir a comunidade local e voltar a ser ponto central da convergência das pessoas. Muitos sofrem de má gestão e, infelizmente, há uma porta giratória de investidores. É preciso escolher o investimento certo, as pessoas certas, que comprem o futebol mas abracem a comunidade", sustenta Leigh, que não raras vezes falou do Elvas no seu podcast e até trajou Gascoigne com um cachecol dos alentejanos, partilhando até vídeos nas redes sociais de jogos do Elvas na 1ª Divisão.
Espero levar Gazza ao Patalino na próxima época
"Quis mostrar que chegar lá não é um sonho, é algo que pode ser realidade. O Patalino, nessa época, juntava de forma consistente 12 mil pessoas a ver o Elvas em casa. Não tenho dúvidas que o fará novamente. É uma cidade dentro de uma região apaixonada pelo futebol e que o entende bem. Elvas merece estar na 1ª Divisão", assume Mike Leigh, fazendo o diagnóstico dos meses de trabalho nos elvenses. "Quando se chegou era tudo uma confusão mas, menos de uma temporada, já se viu como demos a volta por cima. Com a gestão certa, crescer e progredir é o caminho até à 1ª Divisão. Espero que isso aconteça em cinco anos e que o Elvas lá permaneça", afirma, agarrado afetivamente pelos alentejanos, talvez sonhando com uma ida dos alentejanos a White Hart Lane. E se cumpra outra vontade, fazer Gazza ver jogar o Elvas. "Contei-lhe muito sobre o clube e ficou interessado em transmitir seu conhecimento aos jovens jogadores. Espero levá-lo a um jogo na próxima temporada e, espero, poder juntá-lo a uma sessão de treino. Ele adoraria o clube e a bela cidade. Como um homem entusiasta de lugares humildes, tenho certeza de que adoraria o campo e seu povo", frisa Leigh, que detém a empresa de consultadoria com Miguel Silva - M&M. Já estão no terreno à procura de mais clubes abertos a invenstimento externo.
Expert em podcast e paixão absoluta pelo Tottenham
Sobre o culto e paixão que o faz agarrar o Tottenham pelos braços, gozar a sua história e brindar o público com pura nostalgia, Leigh é o criador do podcast Spurs Show, que começou em 2007. "Sou adepto do Tottenham desde 1973, não me conheço sem assistir a jogos. Tenho a sorte de ter tido imensos ex-jogadores e ex-treinadores no meu programa como Gazza, ainda recentemente, Harry Redknapp, Glenn Hoddle, Archibald, Martin Chivers e até o nosso icónico Jimmy Greaves, já falecido. É o podcast de fãs mais antigo e mais ouvido mas a minha empresa ainda produz podcast's para o Arsenal, Chelsea, Manchester City, West Ham, Glasgow Rangers e muitos mais", partilha Leigh, qualficando a experiência com Gascoigne como inspiradora. "As histórias não dão para as reproduzir mas foi um convidado engraçado, inteligente e apaixonado. Foi um dos maiores jogadores que vi jogar entre finais de oitentas e início de noventas. Sabemos das dificuldades que tem tido fora do campo desde que deixou o futebol mas não tenho dúvidas que está recuperado e assim vai continuar", sustenta.
"Hoddle terá sido o melhor que vi jogar, o seu alcance de passes nunca o vi. Os seus pés eram como tacos de golfe. Gazza foi incrível durante o pouco tempo que esteve com o Tottenham, assim como Bale. Também tive o prazer de ver Ardiles, Klinsmann, Modrid e, claro, Harry Kane, o mais prolífero goleador da história do futebol inglês", recorda o empresário, agente de artistas e com, Miguel Silva, sócio de uma agência de consultadoria que faz pontes entre clubes e investidores. Falando de futebol, está munido de memórias inesquecíveis e dolorosas. "Não posso ignorar o caminho extraordinário para a final da Liga dos Campeões de 2019, a vitória nos quartos sobre o City com a decisão do VAR a nosso favor. Depois a noite de Amsterdão, que conseguimos recuperar desvantagem de três golos para vencer com hattrick de Lucas Moura. Noites que fazem do futebol o melhor jogo do mundo. Infelizmente, na final correu tudo mal a partir do primeiro minuto com um penálti muito controverso. Mas foi uma noite em Madrid que ninguém esquecerá", avalia.
"Pedro Mendes foi maravilhoso e Dominguez emocionava"
Impossível de dissociar ou minimizar, também os portugueses têm marcado obra em White Hart Lane, alguns como regalo, outros como catalisadores de emoções. Mike Leigh começa por analisar as lideranças de André VIllas Boas e José Mourinho. "Com VIllas Boas tivemos uma fase de um futebol fantástico, fez Gareth Bale arrancar para a sua melhor temporada. Já com Mourinho temos a lamentar que a sua melhor época tenha coincidido com o Covid e não foi possível assistirmos aos jogos. Penso, porém, que as suas táticas não estavam talhadas e alinhadas com o estilo matriz do Tottenham, de futebol rápido e fluído", critica, jogando uma comparação. "Bem ao contrário do que agora vemos sob comando de Postecoglu. Ainda é muito cedo para dizer algo mas ele só joga de uma forma, sem plano B. Quando o meio-campo perde a bola, com laterais avançados, estamos sempre expostos", argumenta a raiz de um problema que ainda persegue o Tottenham e o afasta da disputa de um grande título.
"Estou à espera de um grande investimento na contratação de um número 6. É o que falta. Deveremos terminar em posição de acesso à Liga Europa, espero que se dê seguimento no plantel aos extraordinários lucros da faturação do novo estádio. Na temporada passada foi superior a 580 milhões de euros e a cada dia estão a receber imenso dinheiro em bilhetes, produtos alimentares e diverso merchandising. Estimo que se vendam mais de 1000 camisolas de Heung Min Son em cada jogo em casa", destaca Mike Leigh, lembrando ainda jogadores portugueses que o encantaram. "Pedro Mendes foi maravilhoso, Dominguez era alguém que nos emocionava com a bola nos pés. Ricardo Rocha foi elegante na defesa e Postiga foi uma grande compra, embora bastante jovem e teve dificuldades em se adaptar". argumenta Mike Leigh, fascinado com a qualidade abundante do jogador nacional na elite inglesa. "Adoro-os, pela habilidade e paixão pelo jogo. Terá que haver uma razão para que a Liga mais rica do mundo, a inglesa, tenha tantos jogadores e treinadores portugueses", declara.
Aprova Villas-Boas presidente
Leigh aprova ainda André Villas-Boas como presidente do FC Porto. "Conhece bem o clube, teve lá grande sucesso e sou sempre favorável a que apareçam mais presidentes que jogaram ou treinaram ao nível mais alto." Sobre a Liga Portuguesa, que caminha para o fim, resume o que mais gostou. "Gosto muito do estilo do Sporting e adoro o guarda-redes do FC Porto, que estará brevemente em algum dos melhores clubes da Premier League."