Nos últimos dez anos, Paulinho marcou mais, mas Slimani reina no ar. 42% dos tentos no Sporting foram de cabeça.
Corpo do artigo
Slimani habituou os adeptos do Sporting aos golos, festejando 57 vezes pelos leões. Desses, 24 foram pelo ar (42%), uma tendência que se estabeleceu nos restantes clubes na Europa.
Dos 102 golos marcados em dez anos, 42 (média de 41,1%) foram cabeceamentos certeiros. A testa do argelino está tão oleada que dobra os registos de Paulinho, numa comparação com o principal concorrente no ataque, que só tem 26 dessa forma nos 121 golos que marcou nos últimos dez anos.
Apesar de o canhoto ter sido preponderante em Trofense, Gil Vicente, Braga e Sporting, mais do que Slimani em Inglaterra ou França, Paulinho tem uma percentagem de 21,5% de golos de cabeça, metade da de Slimani.
O JOGO consultou Rui Águas e Lourenço, ex-avançados de Benfica e Sporting, que analisam a capacidade de Slimani. "Tem uma ótima colocação na área e sabe o timing certo para atacar a bola. Faz muito desse tipo de treino, certamente, porque se nota como finaliza de primeira. Tem muita técnica. É mais do que decisivo, é mortífero", destaca Lourenço.
"O Slimani é uma referência no ataque. Ele e Paulinho não são iguais a jogar e no ar o Slimani é muito forte. É um valor maior. Há jogadores mais altos do que Slimani que não cabeceiam bem. Tem uma intuição acima da média, lê muito bem o jogo", lembra Águas, especialista nas alturas.
Manuel José, ex-treinador de Sporting, Benfica, Boavista ou Belenenses, por exemplo, torna o painel unânime. "O Sporting pode até mudar para 3x5x2 porque ele é realmente exímio no jogo aéreo", afirma o algarvio, que abre a porta a uma alteração tática. "O treinador já disse que mudou um pouco a forma de jogar. O Paulinho é mais móvel, deixa espaço aos extremos para entrarem e liga mais o jogo enquanto o Slimani é mais ponta de lança. Vão existir carradas de jogos e o Rúben Amorim pode alternar. Sai a ganhar porque as equipas já conhecem o jogo do Sporting", diz Luís Lourenço.
"Alternativas ao Paulinho não existiam. A dúvida é de que maneira será utilizado e se, eventualmente, poderá caber no mesmo onze. São jogadores de corredor central e podem coabitar", analisa Rui Águas.
Manuel José esteve dez anos no Egito, ganhou quatro Ligas dos Campeões Africanas e detalha as características dos argelinos. "Conheço-os bem. São agressivos e fortíssimos mentalmente. Joguei várias vezes contra eles: era um problema porque nunca se entregam", recorda, explicando porque Slimani não vingou em Inglaterra e França: "Há muita densidade defensiva na Liga Portuguesa, mas há muitas equipas a jogar para não descer. Não oferecem tanta resistência. Saiu de um clube grande e não foi para jogar para o título. Isso influenciou".
Manuel José
Treinador de futebol
"Vai ser suplente para utilizar no fim"
"Vai ser um suplente a utilizar nas últimas fases do jogo. Jogando com o Sarabia, o Pote e o Paulinho não é fácil ele entrar a titular. Há alguma anemia do Pedro Gonçalves, pode ser ele o elo mais fraco. Agora, o Sporting ficou a ganhar com a vinda do Slimani. Não havia mais solução nenhuma para substituir Paulinho ou jogar com o Paulinho na área em simultâneo, até porque mesmo o Tiago Tomás é rápido, mas não muito técnico e saiu."
Rui Águas
Ex-avançado do Benfica
"Os dois avançados podem coabitar"
"Está adaptado ao clube e não deve ter os problemas normais de quem não conhece o clube. Embora mais velho, pode ser útil até porque é um trabalhador nato, uma referência no ataque. O Sporting pode, com ele, jogar de forma diferente, até porque as opções atacantes passam a variar. É que antes não existiam alternativas ao Paulinho. São jogadores de corredor central, mas podem coabitar nalguns momentos".
Luís Lourenço
Ex-avançado do Sporting
"Não pode ser considerado velho"
"Foi a solução possível. Já há algum tempo que o Sporting o queria. Não pode ser considerado velho, basta ver o Pepe, que é um dos melhores centrais com a idade que tem. Não acredito que o Paulinho vá sentir mais pressão. O Sporting pode jogar mais pelos corredores, ele conhece o clube, falta perceber o modelo de jogo do treinador, mas vai ser uma luta agradável. O Rúben Amorim vai ter uma boa dor de cabeça para decidir quem joga."