Tudo sobre os 16 anos em que as equipas africanas das ex-colónias deram outro travo ao sabor único da prova-rainha.
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Tem ouvido falar de um Fabril-FC Porto que aí vem para mais uma edição de Taça, correto? E alguma vez lhe chegou aos olhos e ouvidos um certo CUF-FC Moxico? E um Textáfrica-Leixões jogado em Vila Pery..., não? E aquela dos 21-0 do Sporting ao Mindelense? Nada sobre um Independente de Porto Alexandre-União de Coimbra???...E de um Ténis de Bissau-Braga disputado na Guiné? Ah pois é! O leitor vai saber e ler aqui, que O JOGO conta-lhe tudo sobre os 16 anos em que as equipas africanas das ex-colónias deram outro travo ao sabor único da prova-rainha.
Foi assim a vida de uma Taça ultramarina...
Portugal era um sítio diferente em 1958. Muito diferente. Em tudo. Estávamos a 16 anos do começo do fim do primeiro império colonial da Europa moderna e da estação desportiva 1957/58 tinha arrancado o comboio da 18ª edição da Taça. O figurino da competição fora alterado - como tantas vezes sucedeu antes e depois. A grande novidade era a primeira participação de equipas das províncias ultramarinas. Foram designados os campeões de Angola (Ferrovia de Nova Lisboa) e de Moçambique (Desportivo de Lourenço Marques) para entrarem na festa da taça pela porta das meias-finais. Para poupar nas despesas, todos os encontros foram jogados na metrópole.
A aventura começou no dia 25 de maio de 1958 e os africanos saíram amolgados da estreia. Em Alvalade o Ferrovia "recebeu" o Benfica, que goleou por 6-2, e no mesmo dia o FC Porto foi ao Restelo aplicar igual resultado ao Desportivo laurentino. Na segunda mão, a dose servida foi maior ainda, quase o dobro: o Benfica acolheu os ferroviários do sul de Angola na Tapadinha e desmontou-os em 11-1! Melhor sorte não tiveram os "cães malhados", que foram sovados por 9-1 nas Antas - o FC Porto seria eventual vencedor da prova, batendo o Benfica por 1-0.
Na época seguinte, a prova começou por jogar-se numa fase de grupos - seis, mais precisamente, compostos por quatro equipas cada. Seguiram-se os 16 avos de final, com os esquadrões das colónias a surgirem nos quartos de final. Só o Ferroviário de Lourenço Marques participou, frente ao FC Porto. Alcântara voltou a ser a casa adoptada dos moçambicanos, que depois jogaram a segunda mão nas Antas. A queda foi novamente aparatosa com um agregado de 16-0 - 9-0 em Lisboa, com poker de Hernâni, e 7-0 no Porto.
As diferenças de nível explicavam-se pelo estado ainda menos profissional com que o futebol era encarado nas antigas colónias e também, salvo raros casos, à importação rápida ao primeiro vislumbre de talento - craques como Peyroteo (anos 1940), Águas, Arcanjo, Mário Wilson, Juca, Matateu, Coluna, Costa Pereira, Vicente, Carlos Duarte, Yaúca, Santana e Hilário (anos 1950), Eusébio, Jacinto João, Dinis, Jordão, Seninho e Néne (anos 1960/70), a par de tantos outros, vieram muito jovens para o futebol maior da metrópole.
Em 1959/60, o Belenenses ganharia o caneco, não sem antes eliminar um adversário africano. Coube ao Portugal de Benguela assinalar a presença africana na 20ª edição da taça. As tareias continuaram: 6-0 (Restelo) e 3-0 (Campo Grande), sempre a favor dos azuis. Na temporada seguinte, a prova conheceria um vencedor-surpresa (Leixões), cabendo ao Sporting de Lourenço Marques fazer as honras coloniais. Continuaria tudo como dantes: duplo 4-1 aos pés do Belenenses, em Alvalade e depois no Restelo. Sempre nos "quartos", os castigos continuariam: em 1961/62 a Luz e a Tapadinha viram o Benfica trucidar em Lisboa o Ferroviário da Beira (Moçambique) com um agregado de 14-1, por culpa de dois 7-1 e na época subsequente os leões laurentinos disfarçaram perante o irmão mais velho da capital (perderam 3-1 e 4-2 em Alvalade, mas houve novidades em 1963/64.
De Lourenço Marques a Angra do Heroísmo
Campeão moçambicano, o Ferroviário de Lourenço Marques teve de haver-se com o campeão angolano para participar na Taça de Portugal. Os laurentinos bateram o Sporting Luanda a duas mãos e enfrentaram nos quartos da Taça o Lusitânia dos Açores. Angra do Heroísmo foi o primeiro local fora de Portugal de Continental a receber um encontro oficial entre equipas insulares e africanas. E foi assim que a 7 de junho de 1964 açorianos superaram (3-1) moçambicanos. Para que todos poupassem despesa, a segunda mão foi disputada na Tapadinha (palco alugado de eleição na prova, como já se vê) e houve sensação: o Lusitânia seguiu em frente, mas o resultado de 2-2 tornou os ferroviários na primeira equipa ultramarina a não perder um desafio de Taça - o bis do moçambicano Zeferino ficou para a história.
Sem grandes por perto, a coisa compunha-se.
Guiné, Cabo Verde e o espectro da guerra
Chegou 1964/64 e, com a Taça dessa época, os africanos chegaram mais cedo (oitavos de final). Chegou também à prova a primeira equipa guineense: a UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau), que foi logo sacudida pelo Olhanense (4-0 em Olhão e 3-2 em Marvila). O segundo representante do Ultramar foi o Portugal de Benguela, esmagado pelo eventual vencedor dessa edição, o V. Setúbal. Breviário do atropelamento: 5-2 no Restelo e 6-1 no Bonfim.
Com a tensão a subir face ao recrudescer da Guerra Colonial e ao incremento do contingente militar português nas áreas de conflito (as hostilidades tinham-se iniciado em Angola, na Guiné alastravam já para o leste do território e em Moçambique a ação violenta estalava a norte), o representante africano veio de uma zona pacífica. Os cabo verdianos do Mindelo saíram da Ilha de São Vicente até à Ilha da Madeira, onde o Marítimo triunfou nas duas mãos com folga larga: 4-2 e 7-0.
Tudo voltaria ao "normal" em 1966/67, com dois estreantes na competição: Angola "enviou" o ASA, de Luanda, e a Guiné o Ténis de Bissau. Os luandinos foram atirados como um pano de trapo para o lado pela Académica em Coimbra (7-0 em Coimbra e 2-1 no Campo Grande, Lisboa). Os guineenses lá se deram à tareia da ordem, às mãos do Beira-Mar que venceu por 6-0 em Aveiro e por 5-3 em Marvila.
Benfica, o visitante pioneiro
Com a situação política em Portugal a agudizar-se perante a emergente crise estudantil, pese a promessa da Primavera Marcelista, as turmas coloniais só voltariam à Taça em 1968/69, após uma época de interregno. O regresso não podia ter sido mais em peso, com a presença de equipas de Moçambique, Guiné e Angola, justamente os territórios onde movimentos de libertação enfrentavam Portugal pela força das armas. Esta edição da prova-rainha seria não menos histórica, por motivos sociais, políticos...e coloniais.
Antes de bater a Académica numa final famosa pela manifestação académica nas bancadas do Estádio Nacional - reclamando liberdades, mais direitos e melhor ensino -, o Benfica, tirando partido da sua vasta popularidade, foi a primeira equipa a visitar em África o opositor ultramarino. O ASA recebeu os encarnados no Estádio dos Coqueiros, perdendo por 4-0, com direito a hat-trick de Eusébio para tudo ser mais africano ainda. A segunda mão também foi para luandino ver. Outra vez nos Coqueiros, mas com "score" mais apertado: os lisboetas passaram (3-2), com mais dois tiros no alvo do Pantera Negra.
Nas outras eliminatórias, nada de novo: o Sporting "aviou" sempre em Alvalade a UDIB num agregado de 17-1 (12-0, com cinco golos de Lourenço, e 5-1) e no velho Calhabé a Académica saiu por cima nos dois duelos ante o Ferroviário de Lourenço Marques: 4-1 e 1-0.
Ténis de Bissau quebra o serviço, e o Independente grita vitória
Na vez da Taça de 1969/70, novamente presença de trio ultramarino e com direito a mini-sensação: os angolanos do Independente (atenção a esta equipa...) perderam o duplo embate com o União de Tomar à beira do Nabão (4-0 e 5-1); o Belenenses seguiu o exemplo do Benfica e foi ao oriente africano bater no Campo da Soalpo, em Vila Pery (hoje Chimoio), o Textáfrica por 6-2, viajando depois 200 kms rumo à Beira, onde tornaram a derrubar o campeão moçambicano (3-0) no reduto do Ferroviário. Mas a surpresa veio da África Ocidental. O Braga foi a Guiné (ah pois é...) e num duplo embate jogado no Estádio Sarmento Rodrigues (atual Lino Correia) os minhotos tiveram de saltar uma barreira chamada Ténis de Bissau... não sem antes tropeçarem no último obstáculo. Depois do resultado favorável de 3-0 na primeira mão, como visitante, no segundo duelo os apurados minhotos passaram a ser a primeira equipa metropolitana a perder ante um adversário africano - o Ténis ganhou 1-0! Histórico, pois então.
Em 1970/71, veio a "independência" desportiva... e a mãe de todas as goleadas. Os oitavos de final jogaram-se a uma só partida e foram assim, ultramarinamente falando: por 21-0 (leu bem...) o Sporting despachou os mansos caboverdianos do Mindelense num resultado-recorde que continua por bater - só Peres fez sete golos. Por 4-1, outro grande, o FC Porto, desembaraçou-se nas Antas do Ferroviário de Lourenço Marques, mas os angolanos do Independente também foram notícia - e que notícia! Ao afastarem o União de Coimbra (1-0), no Municipal de Porto Alexandre, hoje Tômbua, a equipa de Estrela e de Estrelinha (pai e tio, respetivamente de Wilson, futuro central do Belenenses e internacional angolano) consagrou-se como a primeira ultramarina a eliminar uma formação metropolitana da Taça de Portugal. Era obra!
O Independente seria parado logo depois em Lisboa pelo Benfica, nuns quartos de final sem espaço a veleidades: os encarnados impuseram-se 6-0 na Luz e 2-0 em Marvila.
A edição da época seguinte meteu novos viajantes improváveis até terras distantes e logo nos 16 avos de final. O grande esquadrão dos "bebés" do Leixões fez a longa viagem até Vila Pery para bater o "repetente" Textáfrica por 3-1 e o Sintrense (exatamente...) foi a Bissau superiorizar-se ao Sporting local por 2-0. Cá no retângulo, o Independente voltou a arranhar a superfície da glória e só no prolongamento foi ultrapassado pelo Tirsense (2-1).
A aventura estava quase a acabar, mas nos 16 avos da Taça de 1972/73 o Atlético saiu de Alcântara e só parou em Nova Lisboa (hoje Huambo) para mostrar ao Benfica local quem mandava (2-1), com a CUF a "despachar" no Lavradio o Sporting de Lourenço Marques (3-1). Já o Farense "desmontou" a UDIB no São Luís (6-0).
E a aventura acabou aqui: época 1973/74. Na 5ª eliminatória, a CUF tornou a entrar em cena, recebendo e trucidando os angolanos do FC Moxico por 6-0, o Atlético foi a Vila Pery despedir-se de Moçambique ao bater o Textáfrica por 1-0 e o Oriental fez o mesmo em Bissau, perante o Sporting da capital da Guiné Bissau, a qual já declarara a independência unilateral. Todos os desafios foram disputados a 7 de abril de 1974, 18 dias antes de Portugal gritar liberdade.
Muitas aventuras, muito futebol, muitas distâncias e 52 jogos depois, África desaparecia do mapa da Taça de Portugal. Para sempre.
O que é feito deles?
Boa parte dos clubes que escreveram a história do futebol na África Portuguesa - onde a cultura da prática desportiva era profundamente fomentada e ia muito além do desporto-rei - sofreram transmutações de ordem vária. Uns apenas mudaram de designação, outros reconverteram-se por completo em novas agremiações, obedecendo à emergente ordem política de então, e há ainda os casos dos que foram desativados.
O JOGO recorda o destino dos emblemas ultramarinos que participaram na Taça de Portugal.
Desportivo de Lourenço Marques >> Hoje Grupo Desportivo de Maputo, é dos mais populares emblemas da baixa da capital moçambicana. Embora de tradição branca, era, porém, mais popular junto das comunidades negra e mestiça do que o rival Sporting de Lourenço Marques. Fundado a 30 de maio de 1921, tinha união umbilical com o Benfica, de que era delegação. A ligação aos encarnados nem sempre foi bem acolhida internamente, o que levou a uma cisão e à posterior fundação, em 1955, do Sport Lourenço Marques e Benfica. Com a independência e as alterações toponímicas, Lourenço Marques passou a designar-se Maputo e o Desportivo seguiu a mudança.
De grande tradição polidesportiva, os cães malhados eram o clube da preferência de Eusébio, revelaram Coluna, mas nunca tiveram o mesmo protagonismo no pós-independência e ainda hoje enfrentam agudas dificuldades. Competem no Moçambola.
Ferrovia Nova Lisboa >> Embora em Angola o estado tenha optado maioritariamente por criar novos clubes sem eliminar os deixados pela herança colonial, as alterações toponímicas levaram a que o Ferrovia Sport Clube de Nova Lisboa se tornasse no Clube Desportivo Ferroviário do Huambo. Fundado a 1 de dezembro de 1930, ganhou o campeonato provincial de Angola em 1951 e 1974. Era a principal força desportiva da sua região até à inependência, mas perdeu fulgor. Conseguiu na última época a promoção da Segundona para o Girabola, topo do futebol angolano.
Ferroviário da Beira >> No Portugal colonial, os ferroviários da segunda maior cidade de Moçambique eram, no futebol e não só, o principal antagonista do Sporting e do Benfica locais. O Clube Ferroviário da Beira tem 96 anos de idade (nasceu a 29 de julho de 1924), mantém o mesmo nome, símbolo, cores e tradição do tempo ultramarino e conta no currículo pós-colonial com uma liga moçambicana e quatro taças. Defendeu o seu país na Liga dos Campeões e na Copa das Confederações de África.
Portugal de Benguela >> Quase centenário - foi formado a 24 de junho de 1920 -, o Sports Clube Portugal de Benguela passou a designar-se Sports Clube Nacional de Benguela no pós-independência, respondendo hoje por Clube Nacional de Benguela. Além de representarem Angola na Taça de Portugal, os elefantes foram campeões provinciais por cinco ocasiões na era colonial (1952, 1959, 1960, 1961 e 1964). Fundador do Girabola, o clube benguelino disputou e perdeu a primeira "final independente" frente ao 1º de Agosto do campeonato angolano e venceu a Taça de Angola em 1980. Em 2012, os elefantes foram notícia por uma dívida ao técnico português Álvaro Magalhães, motivo pelo qual foram impedidos pela FIFA de participar em provas internacionais.
O Nacional de Benguela é o clube que revelou Akwá, ídolo dos palancas que teve fugaz passagem pelo Benfica. Milita no Girabola.
Sporting de Lourenço Marques >> Mais do que filial nº6 do Sporting Clube de Portugal, os leões laurentinos ficaram sobretudo conhecidos na ex-metrópole por revelarem Eusébio e também Hilário. O Sporting Clube de Lourenço Marques foi formado em 20 de maio de 1920 por um grupo de estudantes do Liceu 5 de Outubro e deixou marca profunda no panorama desportivo local, sobretudo nas disciplinas de futebol e basquetebol. Visto com desconfiança pelos estratos sociais de base graças à sua união estreita à Polícia e ao Serviço Municipalizado de Água Eletricidade, o Sporting laurentino foi progressivamente ganhando raízes em todo o tecido social sendo prova disso os seus atletas das camadas negra, mestiça, indiana e chinesa, as quais tinham, note-se, as suas próprias agremiações desportivas - de notar que o Sporting moçambicano recusou jogar na África do Sul por não poder utilizar os seus futebolistas negros.
Com a revolução, o Sporting de Lourenço Marques mudou para Sporting Clube de Maputo em 1976 e dois anos depois passou a chamar-se Clube Desportivo Maxaquene, alterando cores e símbolo. Entre o período colonial e independente, tem 26 títulos. Está na segunda divisão.
Ferroviário de Lourenço Marques >> Centro desportivo com várias delegações desportivas afetas aos trabalhadores dos caminhos de ferro - o Ferroviário da Beira era um deles -, mudou a sua alteração de Clube Ferroviário de Moçambique - Sede para Clube Ferrroviário de Lourenço Marques (atual Clube Ferroviário de Maputo), a fim de se distinguir.
Fortíssimo no futebol, no hóquei em patins e no basquetebol, manteve tais pergaminhos no pós-colonialismo. Nasceu em 1924 e produziu atletas como Costa Pereira e passaram pelas suas fileiras Acúrcio e Abel, que se destacaram no FC Porto. Compete no Moçambola.
UDIB >> Primeiro representante da Guiné na Taça de Portugal é ainda hoje, a par do Sporting e do Benfica de Bissau, dos mais populares emblemas do antigo território português. A União Desportiva Internacional de Bissau viu a luz do dia durante os anos 1950, mas só foi registado a 1 de maio de 1971. Tem 11 títulos nacionais, participações em provas continentais e está na divisão de elite do futebol guineense. Lemos, antigo craque do FC Porto e do Boavista, representou a UDIB durante o serviço militar, sendo que no clube de Bissau jogou ainda Nino Vieira, antigo presidente da Guiné assassinado em 2009.
Atualmente, a UDIB tem a sua sede cedida ao estado para acolher todo o tipo de iniciativas de combate à pandemia da covid-19.
Mindelense >> Decano dos clubes de Cabo Verde, o Mindelense surgiu a 1919 e foi registado a 25 de maio de 1922. Sagrou-se 47 vezes campeão regional e 20 vezes campeão cabo-verdiano.
O clube da Ilha de São Vicente começou por chamar-se Naval e orgulha-se de ser não só o mais antigo como o mais apoiado daquele arquipélago africano, mas tem como página mais célebre além-fronteiras a célebre goleada sofrida em Alvalade perante o Sporting - os tais 21-0. O Clube Sportivo Mindelense é campeão em título da Liga Cabo Verde.
Ténis de Bissau >> Antes de mudar a designação para Mavegro Futebol clube no final de 1994, ano em que tinha ganho os seus únicos títulos de relevo até então, o Ténis Clube de Bissau vivera na sombra dos locais Sporting e Benfica de Bissau, assim como da UDIB. O deflagrar da Guerra Colonial na Guiné obrigou mesmo à paragem da competição interna na década de 1960, nada que impedisse o Ténis Clube de ser o escolhido para representar mais de uma vez a então colónia na Taça de Portugal. Teve a honra de ser o primeiro africano a infligir uma derrota a uma equipa metropolitana na Taça: o Braga, por 1-0. Como Mavegro, o clube conquistou mais duas taças domésticas.
ASA >> O Atlético Sport Aviação (ASA), de Luanda, é emblema de incontornável tradição em Angola. Os aviadores nasceram a 1 de abril de 1953 e eram, até à sua descida de divisão em 2017, o clube que há mais anos seguidos estava no Girabola, o topo da pirâmide do futebol angolano, contando com a era colonial.
Foi vindo do ASA que chegou ao Sporting Joaquim Dinis, o "Brinca n"Areia" que marcou o futebol português na primeira metade dos anos 1970, foi internacional luso e teve depois breves passagens no FC Porto e no Leiria. Hoje, o "clube que veio do ar", detentor de 12 títulos nacionais, vive em crise e foi impedido de competir na Segundona (segundo escalão angolano) por irregularidade na inscrição.
Textáfrica >> Com inúmeros títulos nacionais e regionais antes e depois do Moçambique independente, o Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica, de Vila Pery (hoje Chimoio), era o braço desportivo da empresa têxtil a que pediu emprestado o nome e foi a principal força do futebol da ex-colónia portuguesa na viragem dos anos 1960 para 1970. Os fabris foram ainda o primeiro campeão de Moçambique livre em 1977, depois dos títulos "coloniais" adregados em 1969, 1971, 1973 e 1976. O clube da província de Sofala chegou a ser orientado por Mário Coluna, mas nunca mais reviveu os dias de glória, embora se mantenha no Moçambola.
Independente >> Durante a era colonial, o Independente Sport Club, de Porto Alexandre (atual Tômbua), foi o mais representativo do sul de Angola, logrando o tricampeonato local entre 1969 e 1971 - feito nunca repetido. Fundado em a 8 de dezembro de 1928, foi a primeira equipa (e única!) ultramarina a eliminar da Taça de Portugal uma turma metropolitana, o União de Coimbra, em 1971. Longe dos tempos de euforia, o hoje Independente de Tômbua não disputa o Girabola há 21 anos.
Sporting Clube de Bissau >> Seguindo parte do exemplo de Angola, a Guiné atendeu à preferência da maioria do público pelos emblemas da ex-metrópole e da sua ligação intensa às filiais dos três grandes de Portugal existentes por vários pontos do território, que não apenas Bissau. Assim, o Sporting de Bissau, em atividade desde 24 de setembro de 1936, manteve-se inalterado face à independência. É o emblema que mais vezes se sagrou campeão guineense: 13.
Nova Lisboa e Benfica >> Campeão angolano em 1972, tinha surgido 41 anos antes, batizado de Sport Nova Lisboa e Benfica, sendo filial do clube da Luz. Com a revolução, foi dos poucos clubes ligados a emblemas com herança direta de Portugal a alterar o nome e por mais de uma vez. A contragosto, o clube passou a designar-se Estrela Vermelha do Huambo em 1975, oito anos depois alterou para Mambroa Sport Clube até que em 1990 passou a Sport Huambo e Benfica. Até hoje. O clube do bairro das Cacilhas está afundado nos escalões inferiores e não tem estádio próprio, pois as obras do novo foram abandonadas.
FC Moxico >> Filial do FC Porto e conhecido como o "Clube das Terras do Fim do Mundo", a leste de Angola, foi fundado e sediado na cidade de Luena. Os azuis e brancos sagraram-se campeões de Angola em 1973, contando nas suas fileiras com Seninho, um craque do FC Porto, também ele angolano de nascimento. O FC Moxico como que desapareceu do mapa competitivo, não tem registos de atividade recente e a sua região é hoje representada pelo Bravos do Maquis e pelo Juventude do Moxico.