Há boas oportunidades de negócio na reabertura de inverno, mas as aquisições, essencialmente para os grandes, devem ser pontuais e atentas às necessidades. A era do esbanjamento já lá vai.
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Esta janela de transferências cumpre os prazos habituais (de 4 de janeiro a 1 de fevereiro), mas nunca o início deste período foi tão próximo do fecho do mercado de verão (encerrado a 6 de outubro).
Isso não deve afetar eventuais transferências, muito embora, o empresário Jorge Teixeira, da Global Sports, alerte para o facto do "período de adaptação dos jogadores ter sido mais curto". O que interfere nos negócios, dizem os empresários ouvidos por O JOGO, é a falta de receitas.
"Essa proximidade não será problema, a maior dificuldade nas transferências deve-se à falta de receitas que as sociedades desportivas têm. Estão, neste momento, com dificuldades financeiras, os clubes não têm fundo de caixa", afirma António Araújo, da Onsoccer, lembrando que este é um problema mundial. "Andava-se a gastar muito. Temos o Barcelona a renegociar contratos e o Milan a queixar-se das receitas", dá como exemplo o empresário Rui Vieira Costa. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, António Salvador, do Braga, entre outros, são as vozes da nossa Liga que mais têm apontado o problema da falta de receitas dos clubes, muito pela falta de público nos estádios.
"Janeiro, por si só, já não é um mercado que mexa muito. As contratações são pontuais. Este ano, a meu ver serão menos e com um investimento melhor. O mercado vai sempre funcionar porque há sempre clubes insatisfeitos com resultados", analisa Jorge Teixeira, antevendo as transferências, "mais paradigmáticas" que o habitual, possam "incidir muito em empréstimos e partilha de passes" ou "pagamentos prolongados no tempo", ou jogadores que venham a custo zero. Habituados à agitação destes dias, os empresários afirmam que os três grandes, Braga, V. Guimarães e Famalicão - "também consegue jogadores interessantes", reconhece Rui Vieira Costa - podem ter novidades. Do meio da tabela classificativa para baixo, alegam, é mais difícil. "Daí para baixo, os clubes vão fazer o que sempre fazem, socorrer-se dos clubes maiores", vinca António Araújo.
Ora, assim sendo, atletas cujos contratos terminem em 2021 são bons negócios para fechar já este mês. A listagem que apresentamos de complemento a este texto (ver peça acima) é um exemplo disso. E até Cavani é uma hipótese! Por falar em Cavani, Rui Vieira Costa acredita que, à semelhança do mercado de verão, o Benfica será o emblema nacional mais ativo e o Sporting poderá ter de lidar com interesse em alguns dos seus jovens talentos a despontar.
Já a norte, António Araújo não acredita que os azuis e brancos possam ter muitas mudanças. "Conseguiram fazer a campanha a nível da Champions de excelência, os jogadores mais importantes, independentemente se vão ou não terminar o contrato, não deverão sair", pondera. Pinto da Costa também o afirmou, numa entrevista ao nosso jornal, que não haverá saídas "do núcleo base". No essencial, "serão sempre os três grandes e o Braga e dependendo da perda deste ou aquele jogador", avançou Jorge Teixeira. "O V. Guimarães poderá acertar o seu plantel", acrescentou António Araújo.
De acordo com os números vindos a público, no mercado de verão, o Benfica foi quem gastou mais (99 milhões por nove contratações), fechando mesmo a maior transferência no futebol nacional: Darwin Nuñez por 24 milhões de euros. Os encarnados gastaram muito mais que todos os outros adversários da I Liga, já que o bolo total das contratações terá ficado nos 143,85 milhões. Famalicão (21), Boavista (19), V.Guimarães e Gil Vicente (ambos 17 jogadores) foram quem mais contratou, embora procurando jogadores a custo zero e empréstimos, uma tendência a manter neste mês. O Braga foi quem contratou menos, apenas seis atletas, mas foi o segundo emblema a dispensar mais: 15 jogadores que valeram um encaixe de 31 milhões. No início de fevereiro, voltamos a fazer as contas...
As vantagens de cruzar o Atlântico para compras
A América Latina é um mercado preferencial para os clubes nacionais, por vários motivos. Destes países, o Brasil tem maior peso.
Sem muito dinheiro para gastar, os clubes nacionais deverão continuar a olhar para o outro lado do Atlântico. A contratação de jogadores nos países da América Latina - o Famalicão já foi buscar o jovem Manuel Ugarte ao Uruguai - é benéfica para os clubes, com vantagens económicas de futuro e investimento reduzido (bom para quem tem problemas de receitas, portanto), assim como para atletas que encaram Portugal como uma boa porta de entrada no futebol europeu.
"Temos um futebol mais técnico, a língua é similar e a integração torna-se fácil para os jogadores que veem oportunidades num país seguro, tranquilo, de onde saíram Ronaldos e Figos. Além disso, em Portugal trabalha-se muito bem o futebol. Os clubes sabem que precisam de fazer esse movimento e os atletas percebem que estar aqui é sinónimo de crescimento. Na maioria das vezes, são negócios baratos para os clubes, comparados com o valor das vendas", explana Rui Vieira Costa. Em janeiro, e nesta zona do globo, o Brasil ainda se surge no horizonte como a melhor hipótese, diz António Araújo: "É um país de portas abertas e que sempre foi o maior fornecedor de jogadores para Portugal, até porque os campeonatos estão a terminar e os jogadores podem ficar livres".
É um facto que todos os plantéis da I Liga têm atletas de nacionalidade brasileira, sendo altamente provável que o número destes atletas possa vir a aumentar.