Álvaro Magalhães e Augusto Inácio viveram o clássico por dentro. Apontam favoritismo às águias, mas admitem surpresa dos leões. Em termos de figuras que podem desequilibrar o jogo, ambos apontam Rafa e Neres do lado do Benfica, e Porro e Edwards no Sporting como fortes candidatos a marcar a diferença.
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O dérbi dos dérbis realiza-se no domingo no Estádio da Luz, opondo um Benfica que lidera a Liga Bwin e um Sporting que segue em quarto lugar a 12 pontos de distância. Factos que justificam um favoritismo maior das águias mas tratando-se do clássico entre rivais da Segunda Circular nada é garantido. Este é um daqueles jogos que, pode dizer-se, é imune a estados de alma e cujo resultado é sempre incerto.
Assim o confirmam duas pessoas que viveram por dentro o dérbi. Álvaro Magalhães jogou nas águias entre 1981 e 1990 e também fez parte da equipa técnica do clube entre 2003 e 2005. Augusto Inácio vestiu a camisola dos leões entre 1974 e 1982 e depois treinou o clube entre 1999 e 2000, tendo ainda exercido a função de dirigente nos verdes e brancos.
O primeiro salienta que "o dérbi é sempre um jogo de resultado imprevisível" e que "apesar da classificação dizer que o Benfica está melhor, nada garante que vença o jogo". O antigo lateral espera um jogo "muito disputado, onde o contra-ataque e a velocidade podem fazer a diferença", com duas equipas "apostadas em explorar os erros alheios". E, para dar força à teoria de que tudo é possível, recorda uma derrota que viveu no Estádio da Luz em 1986. "Lembro-me sempre daquele dérbi que o Sporting nos ganhou (1-2) e que custou o campeonato, com o FC Porto a acabar por nos ultrapassar e fazer a festa em Setúbal."
Inácio também sublinha que "o dérbi é inexplicável", lembrando: "Há quem diga que quem está pior costuma vencer, a história demonstra que não é bem assim, mas essa perceção serve para demonstrar que nada é certo num jogo destes." E reforça que apesar de ambos os conjuntos terem argumentos para saírem vencedores tanto "pode acontecer um jogo equilibrado como dar-se uma goleada... Já sucedeu antes".
Olhando às individualidades que podem marcar as diferenças, os dois antigos internacionais portugueses destacam os mesmos nomes: Rafa e Neres, do lado do Benfica, Porro e Edwards, pelo Sporting. Mas há mais armas de ambos os lados: Inácio refere a importância de Enzo Fernández no meio-campo encarnado e as bolas paradas de Grimaldo, por exemplo. Quanto a Magalhães, não esquece Nuno Santos, também referido por Inácio, como um jogador importante nos leões.
Última oportunidade do Sporting
A 12 pontos de distância do Benfica, o Sporting está praticamente arredado do título e mesmo uma vitória no dérbi poucas esperanças dará aos leões, que terão comprometido quase definitivamente as suas aspirações com a derrota na Madeira na jornada anterior.
"Se tivesse ganho ao Marítimo e vencesse agora o dérbi ficaria a seis pontos. Já antes não acreditava muito no título, mas agora...", comenta Inácio, sublinhando: "Espero, contudo, que vençam. É fundamental para manter uma chama acesa e também por causa da luta pelos lugares de acesso à Champions, um objetivo importantíssimo. Não se podem atrasar mais para Braga e FC Porto."
Álvaro Magalhães concorda: "O Sporting tem obrigatoriamente de sair vencedor para reabrir a luta do título e deixar o campeonato mais aberto, até para os outros rivais de ambos."
INQUÉRITO
1 - Benfica e Sporting jogam em sistemas táticos diferentes. De que forma cada um deles pode ferir o rival?
2 - Olhando aos plantéis, que futebolistas vê como os principais candidatos a desequilibrar a balança das respetivas equipas?
3 - A diferença pontual pode influir na pressão sobre as equipas e na forma como estas vão gerir o jogo?
4- As notícias de mercado, nomeadamente sobre Enzo Fernández e Pedro Porro, podem afetar o desempenho destes jogadores?
Álvaro Magalhães, treinador e ex-jogador do Benfica
1 - As duas equipas jogam em sistemas que estão bem mecanizados. O Benfica pode explorar a subida dos laterais do Sporting, porque estes são muito ofensivos e deixam espaços atrás, sobretudo em transições rápidas. O Sporting deverá ter algumas cautelas para não expor tanto os seus três centrais. Os laterais do Benfica, a meu ver, defensivamente não são muito fortes, embora o Grimaldo esteja mais seguro. O Sporting irá tentar explorar as costas da defesa, projetando os seus laterais e procurando ferir o Benfica por aí.
2 - No Sporting há dois desequilibradores por natureza: o Edwards e o Pedro Gonçalves. E ainda o Porro e o Nuno Santos pela forma como atacam o espaço e surgem a cruzar ou a rematar. No Benfica, o Neres pode ser muito importante. Tem velocidade, é muito forte no um para um. Mas o Rafa é o mais perigoso. Estando ao nível habitual, pela técnica e velocidade com bola pode criar muitos problemas à defesa do Sporting.
3 - Pode ter alguma influência, embora ambas queiram sair vencedoras. O Benfica está numa posição melhor e pode jogar com alguma paciência, mais na expetativa do erro. O Sporting está mais pressionado a ganhar, se perder fica completamente afastado da luta pelo título. Mas duvido que jogue abertamente ao ataque. É um jogo muito importante para ambos, para as contas do campeonato e é um dérbi sempre de resultado imprevisível. O Benfica é favorito mas pode ser surpreendido.
4 - Os atletas têm de estar preparados para lidar com estas notícias e manter o equilíbrio psicológico. O Enzo ficou para já resolvido. Estas coisas mexem sempre com a cabeça dos jogadores, mas estes têm de estar motivados para um jogo como este. E se apresentarem um alto rendimento mais cobiçados serão no futuro.
Augusto Inácio, treinador e ex-jogador do Sporting
1 - Tem mais a ver com as dinâmicas que as equipas apresentarem. O Braga foi a equipa que melhor expôs as fragilidades do Benfica até aqui. Jogou com agressividade e teve a bola num sentido positivo, sempre de olho na baliza. É o que ambas terão de procurar fazer no dérbi. O Braga travou a dinâmica do Benfica, vamos ver se o Sporting o consegue. Pode ser um jogo aberto ou muito tático. A qualidade das individualidades e as bolas paradas podem ter um papel decisivo.
2 - No Sporting há um jogador fundamental que é o Porro, pela qualidade, rapidez na saída para o ataque, cruzamentos e remate. O Nuno Santos dá profundidade. Um Edwards, como o que vimos na Champions, se tiver espaços pode fazer a diferença. Gosto muito do Trincão, mas ainda não explodiu nem mostrou todo o seu talento. No Benfica, Rafa pela velocidade destaca-se, assim como o Neres, um jogador diferenciado. O Enzo pauta o jogo a meio-campo e há ainda o Grimaldo, que é muito forte nas bolas paradas.
3 - Não creio. Este é o dérbi dos dérbis, não interessa se estão separados por muitos pontos. Mesmo quem está pior pode ganhar. É imprevisível, pode cair para cada lado, embora, eu dê sempre um pequeno favoritismo a quem joga em casa. A diferença pontual não reflecte a diferença real entre as equipas, mas é claro que o Sporting começou muito mal a época e não tem sido regular como o Benfica, que está mais forte também por isso.
4 - O Porro tem sido exemplar. O Enzo Fernández talvez tenha ouvido mais os seus empresários nesta situação e teve um comportamento que o Benfica e os seus adeptos não mereciam. Pode ter alguma influência no desempenho deste último, se as coisas não lhe estiverem a sair bem o público pode não lhe perdoar o que fez e manifestar isso.