Após 13 anos com Fernando Gomes, a FPF vai passar a ser liderada pelo atual presidente da Liga ou pelo ex-líder da AF Lisboa
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Quando forem sensivelmente 20 horas, José Luís Arnaut, presidente da Comissão da Liga Eleitoral da FPF, vai anunciar quem sucede a Fernando Gomes, que nos últimos 13 anos construiu um legado de reconhecido sucesso global. Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, pela lista 1, e Nuno Lobo, que liderou a AF Lisboa desde 2013, pela lista 2, submetem-se à votação secreta dos 84 delegados da Assembleia Geral da FPF, 29 por inerência dos cargos e 55 eleitos.
Na campanha eleitoral, o antigo árbitro internacional, de 54 anos, anunciou que tinha apresentado 63 subscrições (20 do futebol profissional, 22 das 13 associações, seis da ANTF, seis da APAF, seis do Sindicato dos Jogadores, e mais uma da AMEF (médicos), uma da ANDIF (dirigentes) e outra da ANEDAF (enfermeiros), apontando para a reedição do percurso de Fernando Gomes, que em dezembro de 2011 transitou da Liga para a FPF, vencendo Carlos Marta, que foi impedido de ser delegado, como representante do Tondela, no ato eleitoral desta tarde por ter sido condenado em 2019 a quatro anos de prisão, com pena suspensa, pelos crimes de prevaricação de titular de cargo político e de falsificação de documentos.
Pouco depois de ter decidido terminar, em janeiro de 2015, um percurso de excelência como árbitro - dirigiu, por exemplo, as finais de 2012 da Liga dos Campeões, na qual o Chelsea venceu o Bayern, e do Campeonato da Europa, conquistado pela Espanha, Pedro Proença, com formação e carreira em gestão de empresas, assumiu a Liga Portugal a 28 de julho de 2015, derrotando nas eleições Luís Duque, o seu antecessor.
A nomeação para presidir à Associação de Ligas Europeias, a 20 de novembro de 2023 - foi proposto no princípio deste mês para ser presidente honorário -, mereceu críticas por algumas medidas internacionais, designadamente a distribuição dos pagamentos de solidariedade, que pode afetar os clubes nacionais. Um dos críticos foi precisamente Nuno Lobo, candidato pela lista 2. Natural de Viseu, o advogado de 47 anos foi presidente da Associação de Futebol de Lisboa desde 2013 - saiu do cargo para se candidatar à FPF, sucedendo-lhe esta semana Vítor Filipe -, depois de ter sido chefe de gabinete de Fernando Seara, então presidente da Câmara Municipal de Sintra. O seu grande desafio, diz, “é apenas um: não estragar o que Fernando Gomes fez”.
Corrida renhida pela arbitragem
Os conselhos de Arbitragem e Fiscal são eleitos em listas próprias. De acordo com a alínea e) do artigo 28.º dos estatutos da FPF “devem possuir um número ímpar de membros, por maioria simples”. Pela lista 1, Luciano Gonçalves é o candidato a presidente do Conselho de Arbitragem. Líder da APAF desde 2016, o dirigente natural da Batalha mede forças com Jorge Sousa, ex-internacional da AF Porto, de Lordelo (Paredes), que lidera o elenco para o CA da lista 2. Ao que O JOGO apurou, a corrida a ocupar o lugar de José Fontelas Gomes (candidato a integrar a Direção de Proença) está muito renhida.
Principais ideias dos candidatos à presidência
Pedro Proença: “Profissionalização absoluta da arbitragem”
1 - Uma nova era de governação representativa de todos os parceiros e valorizadora da sua experiência e contributo; apresentação de uma proposta de criação de novos órgãos consultivos na maior federação desportiva nacional: o Conselho Superior, o Conselho Estratégico e a Comissão dos Delegados. A “baixíssima taxa de prática de atividade física na juventude” é uma das preocupações do candidato: “Situação que prejudica a vida das federações desportivas, o sucesso e a excelência em todas as modalidades. E, porque não assumir, desperdiça uma oportunidade de prevenção de boa saúde pública. Esta será a causa das nossas causas. A maior de todas num chapéu comum que será a nossa futura Fundação”.
2 - “Este mandato a que me candidato não terminará sem uma profissionalização absoluta do setor da arbitragem. Uma realidade que passará pela implementação de um modelo empresarial para a gestão do setor. A Disciplina exige um caminho de dedicação tendencialmente exclusiva para os seus protagonistas principais. Só com uma arbitragem totalmente profissional, uma disciplina dedicada a 100% e ambas absolutamente autónomas de qualquer interferência de outros órgãos federativos se constrói o respeito”.
3 - “Fez-se um fortíssimo investimento no feminino, mas temos todos de fazer mais. Entendo bem o investimento em promoção da prática e os esforços no topo da pirâmide mais mediática, mas falta um trabalho sólido na base. A Liga e os sócios de classe não são adversários. São família. Vão ver-me, por isso, muitas vezes no Sindicato dos Jogadores, na associação de treinadores, de dirigentes, de médicos, de enfermeiros e de árbitros. Vão ver-me em todo o lado. Pretendemos lançar uma proposta de avaliação e implementação de um polo desportivo e administrativo da FPF no Norte de Portugal.”
Nota: a lista 1 entendeu não responder às três questões feitas por O JOGO. As respostas foram tiradas do programa de candidatura.
Nuno Lobo: “Pacote financeiro para ajudar os clubes”
1 - Quais as linhas orientadoras para o seu mandato?
A primeira mediada será o de tomar contacto com todos os profissionais e colaboradores que integram a estrutura da FPF. Quero conhecer todos e dar-lhes a saber o que pretendemos fazer nos primeiros 100 dias de governação. Uma gestão de grande proximidade com todos os clubes e com todos os sócios ordinários. Depois, começar a desenvolver trabalho para darmos início à descentralização dos serviços a Norte do país, com a criação da futura Cidade do Futebol que irá nascer no eixo Porto-Braga.
2 - Que obras principais quer ver executadas nos próximos quatro anos?
O desporto português tem evoluído bastante nos últimos anos, mas ainda há desafios a serem superados. Pretendendo prestar um maior apoio financeiro ao futebol amador e de base, temos um pacote financeiro estudado, que prevê uma verba de 500 mil euros para os clubes da I Liga e 350 mil euros para os clubes da II Liga, como forma de os ajudar neste momento difícil. A profissionalização das associações e dos vários agentes do futebol será outra das prioridades bem como a aposta na formação e deteção de jovens talentos; ao nível das infraestruturas, reforçar a aposta na renovação e construção de equipamentos desportivos modernos; continuar a fomentar a promoção do desporto feminino e, por fim, o combate à corrupção, introduzindo um novo modelo regulador que permita mais transparência na gestão dos clubes bem como no combate a esquemas de corrupção e gestão fraudulenta.
3 - O que pensa fazer diferente de Fernando Gomes?
Ao longo da campanha referi que queremos continuar o excelente trabalho desenvolvido pelo Dr. Fernando Gomes, mas vamos introduzir o nosso cunho pessoal no modelo de governação. Quero que a FPF e os seus dirigentes tenham uma voz ativa e sempre presente na defesa dos interesses do futebol, do futsal e do futebol de praia. Acredito também que temos todas as condições para que num futuro próximo possamos vencer mais um grande troféu internacional. O desafio do Mundial de 2030 deve ser um desígnio nacional que a todos deve encher de orgulho.