A quatro dias das eleições para a presidência do FC Porto, O JOGO traz-lhe as ideias dos três candidatos no que toca ao futebol de formação
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A capacidade do FC Porto para formar jogadores com talento nunca esteve diretamente dependente da existência de uma infraestrutura. De Diogo Costa, João Mário e Francisco Conceição, referências da “cantera” na equipa principal, a Vitinha (41,5 M€), Fábio Silva (40 M€) e André Silva (38 M€), que surgem no top-10 das vendas mais caras de sempre do clube, ao longo da última década foram vários os frutos colhidos pelos azuis e brancos devido a uma aposta vincada na formação. A isto juntou-se a conquista de um inédito título da equipa B na II Liga (2015/16) e uma Youth League até então (2018/19) única em Portugal pelos sub-19, que esta temporada viram o sonho da repetição desse êxito ser travado somente nas meias-finais.
Mesmo sem arrecadar um troféu interno há muito tempo - o mais recente foi em 2018/19 (sub-19) -, os dragões conseguiram um pleno sem igual, apurando todas as equipas, dos sub-14 aos sub-19, para a fase final dos respetivos campeonatos. Gonçalo Ribeiro, Martim Fernandes ou Rodrigo Mora já se encontram na forja para alimentar o plantel principal. À boleia disso, O JOGO convidou as três candidaturas a detalharem as ideias que pretendem implementar nesta área tão importante para qualquer clube. Qual é o plano para aumentarem os níveis de aproveitamento dos jovens talentos, atuais e futuros, e como será realizada a transição e o acompanhamento para as equipas profissionais? Amanhã o tema do dia serão as modalidades do FC Porto.
LISTA A
Um maior aproveitamento das camadas jovens
A nova academia é uma das principais prioridades desta candidatura e esse é o primeiro grande comprometimento do clube para o maior aproveitamento das camadas jovens e a respetiva transição para as equipas profissionais.
Para potenciar ainda mais o desenvolvimento destes jovens, iremos também criar um programa holístico de competências nos jovens, em que tudo é relevante, desde a componente psicológica, intelectual e física.
Estamos certos de que um maior investimento no departamento de scouting irá fortalecer a jornada de evolução para as equipas principais, em todas as modalidades
Por último, mas não menos importante, estamos certos de que um maior investimento no departamento de scouting irá fortalecer a jornada de evolução para as equipas principais, em todas as modalidades e em particular no futebol, sendo também um dos pilares fundamentais de exportação de talento do clube, através da capacidade da captação de jovens talentos noutros emblemas e noutras geografias, formando-os no FC Porto.
LISTA B
Projeto assente na chamada precoce dos maiores talentos
O futuro do FC Porto está em formar mais e melhores jogadores. A sustentabilidade do clube depende disso, logo também é importante o que fazemos nos escalões de formação. Aqui, temos de mudar alguma coisa. Juniores: não ganhamos há cinco anos. Juvenis: não ganhamos há mais de 14. Ganhámos uma Youth League e estivemos na luta pela segunda, mas a situação financeira do clube não nos permite aproveitar mais e melhor estes jogadores. Estamos obrigados a vender ao desbarato. Exemplo: vendemos o Vitinha por 41,5 milhões. O Ugarte foi vendido por 60 milhões. Isto acontece porque não temos capacidade negocial. Quando passamos época atrás de época sob o efeito do Fair-Play Financeiro, temos de vender e quem compra vai aproveitar-se disso. Compra abaixo do real valor de mercado.
Para o projeto de formação, o plano tem um horizonte de 12 anos. É o tempo necessário para um jovem de 8 anos atingir a maturidade e chegar a profissional
O objetivo é concretizar o nosso projeto desportivo até 2025. Estrutura do futebol liderada pelo diretor desportivo, com diretores para futebol profissional, prospeção, formação, performance e futebol feminino. Tudo interligado, com as pessoas certas em cada momento.
Para o projeto de formação, o plano tem um horizonte de 12 anos. Porquê? É o tempo necessário para um jovem de 8 anos atingir a maturidade e chegar a profissional. Hoje, o planeamento é a curto prazo, muito reativo. Entendo que o treinador principal deve ter uma palavra importante, mas não deve estar preocupado com a definição e concretização da estratégia do clube a curto, médio e longo prazos. O nosso projeto de formação tem de estar assente na chamada precoce dos maiores talentos à equipa principal. Sem medos, de forma gradual e merecida, mas não para tapar buracos nos treinos. Não podemos é continuar como estamos, com uma política que já resultou na perda de jogadores importantes sem contrapartidas financeiras.
LISTA C
Um modelo único dos profissionais à formação
A aposta na formação assume-se, cada vez mais, fundamental. A aposta nos Juniores A, B e C (antigos juniores, juvenis e iniciados) é fulcral. No caso do FC Porto, e se olharmos para as últimas épocas, consideramos que poderia ter sido feito muito mais (salvo as honrosas exceções da equipa campeã na Youth League e aquela que nos representa este ano).
O ponto de partida desta estratégia terá de se centrar numa regra base. Concretamente, que pelo menos 70 e 80 por cento do plantel da nossa equipa B seja formado por jogadores oriundos dos nossos escalões de formação. Não é aceitável que ao nível da equipa B sejam contratados de forma aleatória, ou pelo menos sem critérios de escolha rigorosamente definidos, jogadores provenientes de outros países, e de qualidade manifestamente duvidosa. Contratar esses jogadores por valores que têm variado, em alguns casos, entre 500 mil e um milhão de euros, e perceber que têm uma passagem fugaz na equipa é desperdiçar e delapidar em permanência recursos financeiros e operacionais que no presente são objetivamente escassos.
Que pelo menos 70 e 80 por cento do plantel da nossa equipa B seja formado por jogadores oriundos dos nossos escalões de formação
Com raras exceções, como seja o caso do Galeno, a generalidade dos jogadores estrangeiros contratados para a equipa B não justificaram o investimento, não valorizaram, ao invés depreciaram. A aposta na formação como fator de integração na equipa B, e posteriormente nos casos em que o talento do jogador o justifique na equipa A, tem de ser a regra e o princípio de orientação. Importa também que o modelo de jogo e o sistema tático utilizado na equipa principal seja também ele implementado nas equipas de formação, assim se criando um modelo de jogo similar em todos os escalões, a exemplo, de resto, ao que com êxito foi feito no Barcelona no tempo de Johan Cruijff e Pep Guardiola.