A um dia das eleições para a presidência do FC Porto, O JOGO traz-lhe as ideias dos três candidatos no que toca às finanças do clube
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Trata-se de um tema absolutamente fulcral nestas eleições, à medida do peso que tem na vida de qualquer sociedade desportiva. Pela sensibilidade, a situação financeira do FC Porto foi um dos pontos que mais aqueceu a campanha eleitoral, entre os diagnósticos e as propostas sugeridas pelas listas de Pinto da Costa, André Villas-Boas e Nuno Lobo.
Os últimos relatórios registam um passivo de 512,7 milhões de euros e uma dívida de 223,1 M€. A recente operação de reavaliação de todo o negócio do Estádio do Dragão permitiu encurtar os capitais próprios para 9 milhões de euros negativos e a SAD vendeu à Ithaka 30% dos direitos comerciais do recinto por 65 M€, durante 25 anos. As finanças não metem a bola na baliza, mas sem dúvida que contribuem para isso, até porque o FC Porto já sentiu na pele os duros efeitos do espartilho da UEFA por não ter cumprido as normas do fair-play financeiro.
As três listas convergem no básico: é inevitável reduzir despesas e aumentar receitas, na exploração das múltiplas áreas relacionadas com o universo FC Porto. Ao mesmo tempo, todos entendem ser imperativo renegociar a dívida. Dentro de exemplos mais concretos, a Lista A aposta numa subida de 25% dos proveitos operacionais e num corte de 20% dos custos totais. A equipa de André Villas-Boas defende uma reestruturação financeira profunda, que deixe o clube menos dependente das receitas da UEFA. Quanto a Nuno Lobo, da Lista C, vê formas ainda pouco exploradas que podem aumentar as receitas, como digressões internacionais no verão e uma aposta forte no aumento de sócios.
LISTA A
Esta é uma área central do nosso programa pois, a curto prazo, é necessário implementar um plano de redução de custos através de aplicação de políticas de melhoria de eficiência. No entanto, é no aumento de receitas estruturais que estará o nosso principal foco.
Iremos duplicar a receita do clube em três anos, através de um aumento anual de 25% dos proveitos através da aposta na internacionalização da marca FCP, nomeadamente em novos mercados, da revalorização de direitos TV, da melhor monetização do estádio, casas, comunidades, academia, banca digital, merchandising e ampliação, muito significativa, do número de associados e das receitas de e-commerce.
Durante o próximo mandato não haverá lugar ao pagamento de prémios de gestão e será criada uma política de custos de representação e de funcionamento que garanta eficácia, sustentabilidade
Vamos reduzir os custos totais em 20% desde o primeiro ano a partir da reestruturação das empresas do Grupo e reforço na evolução da maturidade digital. Durante o próximo mandato não haverá lugar ao pagamento de prémios de gestão e será criada uma política de custos de representação e de funcionamento que garanta eficácia, sustentabilidade, rigor e transparência absolutos.
Iremos proceder ao refinanciamento do passivo, por meio de um instrumento financeiro de dívida de 250 M euros que permitirá, simultaneamente, reduzir o serviço de dívida e reforçar a competitividade da equipa de futebol.
LISTA B
A nossa candidatura pretende restituir ao FC Porto a credibilidade perdida junto dos stakeholders após anos de uma gestão que levou a SAD do FC Porto para uma situação financeira completamente débil. É preciso levar a cabo uma reestruturação financeira profunda, que passa, obviamente, por olhar para a atual dívida financeira do FC Porto que se situa nos 310 milhões de euros. Entendemos que é imperativo que se avance com uma revisão completa das obrigações de dívida existentes, explorando oportunidades de reestruturação que tanto poderá passar pela prorrogação dos prazos de pagamento, como pela redução das taxas de juro. E poderemos até procurar novas fontes de financiamento, a custos mais baixos.
Importante neste processo será também a redução do nível de custos em simultâneo com o aumento de receitas. Do lado dos custos, falamos nos encargos com a dívida, mas também por atacar encargos operacionais que existem atualmente, e sobrecarregam as contas, sem se perceber muito bem a que se referem. Neste sentido, iremos rever e avaliar os contratos existentes, evitando custos desnecessários ou preços fora de mercado.
Ajustar o peso dos custos salariais do plantel ao total das receitas, mas sem penalizar a competitividade
Além disso, consideramos necessário ajustar o peso dos custos salariais do plantel ao total das receitas, mas sem penalizar a competitividade e os resultados desportivos. Como é que poderemos garantir isso? Aumentando também as receitas, que atualmente são em grande medida suportadas pelos prémios da UEFA. Não pode ser! O FC Porto é uma marca valiosa, é um clube com uma vasta história, com uma massa adepta enorme, mas nada disso tem sido valorizado. Se vencermos a 27 de abril, vamos trabalhar para, com recurso às novas tecnologias, reforçar as receitas de bilhética ao mesmo tempo que melhoramos a experiência dos adeptos, mas também, com o eCommerce, fazer parcerias que potenciem a marca além-fronteiras, e, claro, sem esquecer uma gestão mais rentável dos patrocínios.
Tudo isto, acreditamos, irá permitir-nos, a prazo, dar uma nova vida às contas do FC Porto, essencial para que possamos garantir uma equipa capaz de alcançar sucesso em todas as provas desportivas em que participa, tanto nacionais como europeias. São essas contas sãs que nos permitirão reter os nossos melhores jogadores, deixando-os sair apenas e quando entendermos que é bom para o jogador e para o clube. A venda de jogadores é uma realidade em todos os clubes, mas é diferente vender por necessidade ou quando é efetivamente um bom negócio que nos permite reforçar a equipa com outros atletas.
LISTA C
Sendo o FC Porto um dos principais clubes nacionais, com uma ampla massa de adeptos, a decisão entre reduzir o passivo ou investir na equipa de futebol, mantendo-a competitiva, é decisiva. Encontrar um equilíbrio entre ambas é fundamental para garantir tanto a estabilidade financeira como o sucesso desportivo do clube a longo prazo.
Por outro lado, e num contexto em que o clube gera dezenas de milhões em receitas anuais, mas que, a par disso, conta com um passivo enorme, a redução da dívida e a gestão criteriosa da conta de resultados tornam-se elementos cruciais para a sua sustentabilidade financeira futura.
É fundamental negociar com os seus credores a consolidação da dívida. Tem de atacar de frente a necessidade da redução do passivo
É fundamental que o clube consiga negociar com os seus credores a consolidação da dívida. Não chega apenas ir aumentado a maturidade da dívida com a renovação dos empréstimos obrigacionistas e com a boa vontade dos agentes, é preciso atacar de frente a necessidade da redução do passivo. Caso não tivessem sido hipotecadas as receitas para os próximos anos, e considerando apenas receitas e despesas correntes, poderíamos supor que o clube seria capaz de ter contas equilibradas. Para lá chegarmos, as principais rubricas terão de ser as seguintes:
- Apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões (que provavelmente não o conseguiremos no próximo ano, mas que poderemos colmatar, do ponto de vista financeiro, com a participação do FC Porto no novo Mundial de Clubes);
- Aumentar número de associados (com inerente incremento das receitas de merchandising e de bilheteira);
- Potenciar a afluência ao museu, com packs para os turistas que incluam os jogos da equipa de futebol (sempre tendo em mente potenciar as receitas de bilheteira e o merchandising);
- Correta negociação dos direitos televisivos em 2028;
- Rentabilização do valor da equipa de futebol e digressões internacionais durante o verão.