O presidente do Sindicato de Jogadores insiste na mudança de paradigma no futebol Mundial.
Corpo do artigo
Joaquim Evagelista, presidente do Sindicato de Jogadores, aponta vários aspetos a resolver no imediato mas lembra que todas as decisões terão de ser concertadas. "É fundamental que haja normas gerais para todos, que haja um quadro no qual nos possamos organizar. Onde possamos discutir a redução da massa salarial; a duração dos contratos ou janelas de transferências; os empréstimos de jogadores; o agenciamento e as novas regras e outras questões. Deverá haver um quadro dirigido a todos e que não fosse cada país a adotar as suas próprias medidas. Uma medida importante é mudar o paradigma do futebol e que este se ajuste à realidade económica. Precisamos de medidas que regulem e antecipem problemas. Medidas como o fair-play financeiro para que quando ocorre uma situação inesperada responder sem pôr em causa tudo", sublinhou, olhando para o caso português.
"Rapidamente tem de resolver o problema da conclusão dos campeonatos, era importante para criar um clima de confiança entre os vários agentes desportivos. Aliás, foi por essa razão que se aceitou adiar o Europeu. Depois, temos de encontrar uma plataforma de entendimento entre a FIFA, a UEFA, a FIPRO, que representa os jogadores, as ligas europeias e a ECA, no sentido de encontrar um conjunto de normas se apliquem a todos. Depois, evidentemente, cada país irá ao encontro da sua realidade desportiva e económica", acrescentou o líder do Sindicato de Jogadores.
NÃO SAIA DE CASA, LEIA O JOGO NO E-PAPER. CUIDE DE SI, CUIDE DE TODOS
Joaquim Evangelista reitera o do desejo de ver alguma serenidade na análise dos problemas que resultam da pandemia do coronavírus. "O mais importante é não criar alarmes. Todos dizem que os jogadores têm de reduzir salários, etc. Temos de olhar para esta atividade e perceber que todos temos de fazer sacrifícios. Não têm de ser os jogadores a pagar a fatura que aí vem. Temos de partilhar os sacrifícios. O futebol tem de mudar de paradigma. Vamos encarar o futebol de outra maneira, esvaziar expectativas. Temos de olhar para o futebol de acordo com a sua realidade económica. A própria FIFA adotou medidas para que os clubes não entrassem num despesismo estrutural e que colocasse em causa a própria atividade. Agora, temos ainda de ser mais rigorosos."
"Aves é um caso abuso e uma ofensa aos portugueses"
A finalizar voltou a atacar o comportamento dos dirigentes do Aves por causa do incumprimento salarial manifestado pelos jogadores do clube nos últimos dias. "Há meia dúzia de clubes que são oportunistas. Em Portugal, temos o caso do Aves. É um claro abuso e uma ofensa aos portugueses, é quase criminoso associar o incumprimento, que já nos habituaram, que é recorrente [má gestão] à pandemia. É lamentável. Mas tirando estes clubes que se aproveitam destas situações, o futebol tem dado um ótimo exemplo de sinal de articulação."
Manuel Machado: "Estar alinhado dará garantias de equidade na decisão final"
Manuel Machado também sugere uma ação concertada entre os vários organismos internacionais que gerem o futebol europeu e mundial e as organizações internas. "Não podemos perder o alinhamento com aquilo que a UEFA vier a emanar, será importante para manter um equilíbrio interno. No plano económico, essa realidade não deveria fugir ao que é um conjunto de ajudas que estão a ser disponibilizadas para qualquer outra área de atividade. O futebol é um contribuinte fiscal de peso na atividade do país, legitimamente tem direitos iguais a qualquer uma das outras áreas", reagiu, acrescentando que Portugal não se pode isolar.
"UEFA e FIFA terão uma palavra de muito peso em todas as decisões internas. Por vezes, somos muito particulares e encontramos soluções mais exóticas do que os outros clubes da Europa. Estar alinhado dará garantias de equidade na decisão final. Há um conjunto de fatores que se cruzam e são de alguma complexidade. Há problemas no plano desportivo e económico para resolver e o reflexo na vida das pessoas, de todos os que estão envolvidos nos clubes porque são famílias numa área de atividade como qualquer outra que dependem de um vencimento que está a ser posto em causa", explicou o técnico.
Manuel Machado sugere ainda que a perspetiva de haver menos equipas no panorama europeu é para favorecer as elites. "A perspetiva de menos equipas a nível internacional é falada há muito tempo. Há clubes que emanam a ideia de uma liga que se contrapõe ao que está estabelecido na Liga dos Campeões e na Liga Europa. É um momento de oportunidade, mas não pode ser um momento de oportunismo. Quando se fala na redução de clubes é no sentido de criar uma elite e separar essa elite do tecido que é transversal ao futebol. Uma liga quase por convite para aqueles que possuem fortunas invistam nas suas equipas."