"É como o algodão, se passou pelo Benfica está preparado para Barcelona ou City"
O chief-scout do Benfica, Pedro Ferreira, revelou segredos da prospeção encarnada e abordou os casos de Raúl de Tomás e de Weigl
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Pedro Ferreira, chief-scout do Benfica, participou no podcast do Youtube "Vamos falar de futebol", relatando aspetos do processo de observação de jogadores do clube das águias e revelou como funciona a estrutura e são tomadas as decisões sobre as contratações.
"Esta é a minha 13.ª época no Benfica e quando cheguei o Sporting ainda era mais forte na formação e a nossa ambição era atingir o topo. Sentíamos na altura que os jogadores que nos chegavam ou já tinham ido ao Sporting ou sonhavam ir, um fenómeno que se viria a inverter anos mais tarde. O scouting é desafiante. Não existem bolas de cristal e temos de tentar sermos nós as bolas de cristal e é aí que me foi colocado o desafio de liderar um departamento e reestruturá-lo. Mais do que qualidades, vemos aptidões, se o jogador está apto a fazer algo, vemos a tomada de decisão, a habilidade técnica, ferramentas que lhe dão potencial para, no futuro, quando estabilizar a nível físico poder responder melhor do que os outros", começou por contar, relatando o que considera ser a ultrapassagem ao Sporting no sector da prospeção de talentos.
"O treinador é o cliente final"
Pedro Ferreira destacou a interação na estrutura encarnada e revelou o processo de deteção, análise e avaliação e, por fim, a decisão final: "O rosto aqui é a equipa, do presidente ao Tiago Pinto, ao Rui Costa e pensámos todos juntos para fazermos algo diferente. A grande diferença foi integrar este departamento no futebol profissional, criando uma ligação com Rui Costa enquanto elemento máximo da hierarquia. Precisávamos de mais olhos para ter mais mundo e fizemos uma equipa muito experiente. Criámos um modelo de pirâmide onde cada scout é responsável pelo seu mercado, sinalizando e avaliando jogadores dentro deles e juntando a isso os inúmeros que nos são indicados semanalmente na pessoa do presidente, do Rui Costa ou do Tiago Pinto, que são bombardeados com informações de jogadores e que vamos avaliar todos. Quando se define que estes jogadores, nesta posição, são os que mais se destacam, passamos a um modelo partilhado onde todos vão avaliar os jogadores dos outros. Após a passagem por todos os filtros cabe-me a mim criar uma equipa sombra por posição para apresentar mais tarde os três ou quatro alvos para que podemos avançar. O treinador está dentro da estratégia do clube. Quando o Benfica contrata um jogador para hoje há que ir ao encontro do que o treinador quer e temos de ir ao encontro das características que ele quer. Estamos todos juntos, o treinador é o cliente final."
O chief-scout dos encarnados falou no "carimbo Benfica", um selo de garantia para os melhores clubes do mundo: "O carimbo Benfica comprova a qualidade, um jogador que vem do Benfica está preparado para as exigências do futebol profissional seja onde for. É como o algodão, se um jogador passou no Benfica está preparado para o Barcelona, o Manchester City. Se vemos um jogador X e ele jogou com um ex-jogador do Benfica, ligamos a este a perguntar como ele é, como se comporta. Ainda agora o Weigl disse que o Witsel o incentivou a ir para o Benfica. O Raphael Guerreiro, que não passou pelo Benfica, também o fez."
"Raúl de Tomás? Sabemos que não falhámos, saiu a render mais"
O chief-scout das águias abordou ainda as dispendiosas contratações de Weigl e Raúl de Tomás: "Eles percebem no Seixal que não são números. Tivemos este ano o exemplo do Raúl de Tomás que entrou por um valor muito alto e que saiu a render mais do que quando entrou. Não é um problema para nós, sabemos que não estamos a falhar a contratação pois identificámos o seu perfil e pode não dar aqui mas dará noutro lado. Em relação a Weigl percebemos que havia ali uma brecha, uma possibilidade de sucesso e agarrámos. Sentimos que podia reforçar a posição e fomos atrás dessa probabilidade, com as características que queremos. Eles vêm jogar para o Benfica, que joga em Portugal, mas que se quer comparar com os clubes europeus. Nos últimos anos temos vencido mais do que a concorrência e os jogadores sabem que aqui estão mais perto do sucesso."
A fechar, uma palavra para os jovens da equipa B: "Acreditamos que os jogadores da equipa B estão preparados para o futebol profissional. O jogador da formação está sempre em primeiro lugar e, quem vem de fora, terá de trazer sempre algo mais."