Do Império à guerrilha: o dérbi dos velhos rivais, de Salazar ao árbitro protagonista
O Benfica-Sporting deste domingo será a quarta decisão para a Supertaça entre os velhos rivais. Ganha o leão por 2-1, mas podia ser por três se a Taça Império, em 1944, entrasse na contagem. Os bastidores ao milímetro.
Corpo do artigo
Aperte bem o cinto e prepare-se para uma viagem no tempo. A promessa não é enjoar; a promessa é, sim, contar-lhe tudo o que se passou nos Benfica-Sporting a contar para a Supertaça, história que começou oficialmente em 1980 mas que teve um primeiro ensaio em 1944 - já lá vamos. Para a Federação Portuguesa de Futebol, registam-se até ao dia de hoje três decisões entre os velhos e eternos rivais, com vantagem para o leão (2-1).
Este domingo, às 20h45, no Estádio Algarve, será o quarto. O JOGO foi ao baú, a caixa estava cheia e trouxemos o perfume não só da bola a rolar, mas de tudo o que se passou à volta de um dos jogos mais bonitos do nosso futebol. Eis o dérbi!
Salazar promete... Salazar cumpre
Era este um dos lemas que mais ecoava num Estado Novo preocupado em deixar obra, para este caso específico o Estádio Nacional. A 10 de junho de 1944 - Dia de Portugal -, o vale do Jamor enchia para ver o campeão, o Sporting, e o vencedor da Taça de Portugal, o Benfica, defrontarem-se para a Taça Império, uma "oficiosa" Supertaça que acabou por cair para o lado dos leões. Peyroteo marcou o primeiro golo naquele relvado e foi, com outro, decisivo para o triunfo dos comandados de Joseph Szabo, equipa que levou para casa outro troféu, a Taça Estádio, oferecida pelo Governo. Sabia disto? E sabia, por exemplo, que António Marques, avançado que vestia de verde e branco, jogou sem dormir ou comer nas 24 horas anteriores, pelo facto de a mãe ter falecido? Se não, ficou a saber.
Protagonista foi o árbitro
Na segunda edição da Supertaça "ipsis verbis", mas ainda a viver um período experimental, os rivais encontraram-se. Na primeira mão, empate a dois golos em Alvalade e decisões marcadas para a velha Luz. Depois de ter bisado em casa, Jordão, um autêntico caça-águias, abriu, de penálti, o ativo e provocou... uma onda de insatisfação entre os adeptos encarnados, não pelo golo mas por considerarem que Nemésio de Castro, juiz do jogo, errou ao apontar para a marca dos 11 metros. Choveram, do Terceiro Anel, todo o tipo de objetos para o relvado e a verdade é que os jornais detalharam a "exibição" do antigo árbitro como desastrosa, marcando novo penálti inexistente, agora para o Benfica. João Alves falhou, mas Nené, na recarga, deixou tudo empatado. Tudo empatado até que Vital, perto do fim, decidiu a favor do Benfica. "Não é verdade que tenha tido medo do Terceiro Anel. Ando há 23 anos nisto", confessou... Nemésio.
Cândido de Oliveira, ilustre figura que dá nome à Supertaça, foi treinador do Sporting durante duas épocas. Faleceu em 1958
O brasileiro de pé quente
Passaram-se sete anos até ao reencontro: 1987, nova epopeia em jornada dupla e um autêntico show do Sporting, que partia claramente atrás nas apostas contra o campeão. Primeiro jogo e logo um 3-0 a favor do leão na Luz, com o cunho de um brasileiro chamado Silvinho, rápido, esquerdino e de pé "fino", que com a ajuda do guarda-redes Vital - defendeu tudo -, deixou praticamente tudo resolvido para a segunda mão, onde fez o 1-0 final.
O impensável aconteceu
Última etapa - já concluída - das Supertaças entre rivais. Agosto de 2015 marca provavelmente um dos períodos mais sensíveis entre Benfica e Sporting, ou não tivesse Jorge Jesus, então bicampeão pelas águias, acabado de se mudar para o leão. Valeu quase tudo: o Benfica acusou JJ de enviar mensagens aos ex-jogadores, JJ provocou o seu sucessor, Rui Vitória, e até bateu nas costas de Jonas depois de levar o Sporting ao triunfo (1-0) com um golo de Teo Gutiérrez. O brasileiro do Benfica virou-se ao ex-técnico e pediu-lhe explicações à entrada para o autocarro. Estórias. Hoje há mais...
Silvinho, herói em 1987: "Senti-me com moral e o Vital... Nossa Senhora!"
O JOGO falou com o protagonista da decisão de 1987. Sílvio Paiva - Silvinho -, hoje a viver em Inglaterra, calou a Luz com uma exibição incrível, coroada com um golo. "Foi a passe do Mário Coelho, outro dos nossos brasileiros. E o Vital... Nossa Senhora, defendeu tudo! Estava com muito moral", lembrou o esquerdino que também passou por V. Guimarães e Tirsense, garantindo que continua a seguir o seu Sporting. "Não ganhou na pré-época, mas chegará bem!"