Do bairro de Sambizanga até à afirmação no Minho: "Sempre deu bons atletas e até políticos"
Nélson da Luz despertou no futebol de rua em Luanda, ainda equacionou desistir e rumou a Portugal convencido de que iria triunfar. Leva quatro jornadas como titular
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As interrogações que acompanharam Nélson da Luz nos últimos dois anos começam a deixar de fazer sentido. O internacional angolano de 24 anos figura nesta altura entre as principais opções de Moreno Teixeira, treinador que o preparou na equipa B depois de ter sido contratado em 2020, e revelou-se uma das principais ameaças do Vitória de Guimarães frente ao Benfica, a partir do flanco esquerdo, naquele que foi o quarto jogo consecutivo como titular (ao ponto de somar mais minutos de utilização do que na época anterior).
Contratado pelo Vitória em 2020, o extremo "desapareceu" nos bês para ser polido por Moreno Teixeira. Dois anos depois, tornou-se aposta frequente na equipa principal para jogar na posição certa.
"Está na equipa certa e a jogar no lugar certo. Tornou-se um jogador maduro, com grande atitude em campo, contribuindo até nas ações defensivas. Alcançou por fim o seu momento e ainda pode evoluir", estima Artur Correia, diretor técnico do 1º de Agosto, que trabalhou com Nélson da Luz nos juvenis do clube angolano.
Aos 15 anos já impressionava pela "inteligência, capacidade técnica e velocidade", características típicas do "futebol de rua" que se pratica no gigantesco bairro de Sambizanga, em Luanda. Aldo Vida, repórter da Rádio 5 de Angola, diz que essa é a principal riqueza de uma das zonas mais pobres da capital de Angola. "
"Está na equipa certa e a jogar no lugar certo. Tornou-se um jogador maduro, com atitude, contribuindo nas ações defensivas"
É muito forte no um contra um. Ele era quase vizinho do Mantorras. Esse bairro sempre deu bons jogadores e até políticos: o José Eduardo dos Santos, o antigo presidente da República, também cresceu lá", assinala o jornalista. A formação do 1.º de Agosto recebeu-o de braços abertos, mas o extremo chegou a ser, de início, um caso problemático pela falta de assiduidade aos treinos e ainda por não querer pernoitar na academia do clube.
"O bairro sempre deu bons atletas e até políticos, como José Eduardo dos Santos"
"Faltava muito. Chegou ao ponto de querer desistir de ser jogador futebol e, a pedido do presidente do clube, fui buscá-lo a casa precisamente no dia do seu aniversário. Lembro-me que fui lá numa carrinha juntamente com os outros atletas internos na academia. Com a ajuda do primo Mário Balbúrdia [atualmente no Estrela da Amadora], mudou-se no mesmo dia para a academia. Até mostrei à família o contrato de formação que já tínhamos para ele", conta Artur Correia. Em 2020, aconteceria o salto para o Vitória. "Saiu de Angola a dizer que tinha capacidade para jogar no Vitória e conseguiu", sublinha o jornalista Aldo Vida.
A encher Angola de orgulho
Atento à evolução de Nélson da Luz em Portugal, Artur Correia apreciou a exibição do extremo do Vitória frente ao Benfica e tem a certeza de que tão cedo não sairá da equipa. "Nota-se que está muito diferente a todos os níveis e bem enquadrado no projeto do Vitória. Esteve muito bem contra o Benfica. É muito positivo para o futebol angolano, especialmente para a seleção de Angola, que o Nélson da Luz se evidencie em jogos grandes. Deve estar grato às pessoas do Vitória porque têm-no ajudado muito", avaliou o diretor técnico do 1.º de Agosto.
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