Diego Rodrigues foi aposta surpresa abraçada com alto risco e máximo proveito. Médio viveu estreia de sonho e o encanto chegou a Briteiros. Blessing Lumueno assinala perfil especial
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João Moutinho e André Horta estavam no banco, mas Carlos Carvalhal, que prometera olhar ao momento de forma de cada um, não duvidou sobre quem precisava de lançar em campo para ajudar a controlar uma pressão do Benfica, que até seria de supor mais asfixiante pela diferença de dois golos na Luz. Diego Rodrigues anunciou-se nesse instante, foi farol de segurança e nada estranhou, mesmo superando a concorrência de um campeão europeu ou avistando no rival campeões do mundo da estirpe de Otamendi e Di María. Desafiou-os com a bola nos pés! Os adeptos do Braga olhavam admirados, fosse por choque ou satisfação de mais um menino da “cantera” lançado às feras. Em Briteiros todos rejubilaram, sobretudo na casa de Ronaldo Rodrigues, pai de Diego, antigo profissional nascido na Bélgica, de raízes lusas, fazendo a sua carreira no nosso país a partir dos 20 anos.
“Foi tudo muito rápido. Ele já tinha ficado feliz por ser convocado, ficou ainda mais feliz por ir para o banco. Quando soube que ia entrar ao intervalo, nem sabe descrever o que sentiu. Fiquei preocupado pelas circunstâncias, pensei que o meu menino ia sofrer com aquele ambiente, a reação do Benfica. Mas ele entrou cheio de confiança, tudo correu lindamente. Estou orgulhoso do que fez, da sua personalidade, caráter e frieza, pois nada ligou às bancadas. Isto não é nada, mas é um grande passo”, avalia Ronaldo Rodrigues, garantindo que Diego herdou muitas das suas características, com outro detalhe e afinação.
A subida de Diego Rodrigues a um patamar de eleição num elenco tão respeitado como o do Braga acontece em concordância com um trajeto ascendente no clube e nas seleções jovens, já detendo 18 internacionalizações, dos sub-17 aos sub-20. Em grande nível na equipa B, sob comando de Custódio, o médio brilhou especialmente em 22/23 nos sub-19, juntando faceta goleadora, com Blessing Lumueno, hoje adjunto do Chaves.
“Nunca se sabe como um jogador vai reagir. Mas, respondendo bem, é prova de robustez mental, embora isso não invalide nervosismo mais para a frente. Mas o Diego tem um perfil mental especial, além de ser inequivocamente muito talentoso. Destaca-se pela fome de aprendizagem e isso, penso eu, contribuiu para ser aposta e ter tido uma estreia tão tranquila”, reflete, adocicando o retrato do médio que o Braga desviou do Vitória. A visão é de um portento a médio prazo. “Ele tem criatividade e qualidade de execução. Do ponto de vista ofensivo, é o jogador mais especial e mais completo que tive o prazer de ver treinar e jogar. Com passe longo, curto, drible, remate, bola parada ofensiva e até golos de cabeça. Define no último terço com qualquer pé, junta receções orientadas e elegância. É um almanaque fabuloso de gestos técnicos e sabe perfeitamente quando os utilizar. E, acima de tudo, a calma com que joga, sente que tem tempo para tudo”, elogia Blessing, que explorou um médio mais ofensivo do que foi visto na Luz.
Diego, fã de Kroos, e chamado De Bruyne por alguns colegas por certas trivelas, encaixa facilmente no que é pedido. Carvalhal gabou-lhe a rotação muscular do pescoço como valência cerebral do que ocorre em redor. Blessing concorda. “Tornou-se completo em todos os momentos , inteligente a perceber o que o treinador lhe diz. Comigo jogou mais como 10, com o Custódio mais na cobertura. Tem recebido todos os estímulos”, atesta. “O Diego ainda não foi o Diego na Luz. Tem bem mais!Vamos perceber a margem exibindo regularmente as qualidades. Se o fizer, será um jogador fundamental. Sei que vai colocar o treinador sob pressão. O que o Carvalhal referiu é curioso, vai ao encontro do trabalho do André Ferreira, que me acompanhava. “Olha por cima do ombro; não estás a ver antes de receber ou vê antes”, dizia-lhe.