<strong>ENTREVISTA (PARTE 2) - </strong>O jovem avançado portista trabalhou durante alguns anos com Vítor Matos, que também destaca o entendimento do jogo de Romário Baró e o potencial de Tomás Esteves
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Em sete anos de FC Porto, foram vários os jovens jogadores já consolidados que passaram pelas mãos de Vítor Matos. Fábio Silva e Romário Baró são as atuais joias às ordens de Sérgio Conceição.
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Pelo "Potencial Jogador de Elite" [PJE] passaram jogadores como André Silva, Rúben Neves, Gonçalo Paciência, Dalot, João Félix, André Gomes... Qual o impressionou mais?
-Todos os que passaram por lá fizeram um grande esforço e foram geniais. Mas o Rúben Neves é um exemplo fantástico. Vi-o dos 13 anos até ser capitão da equipa principal. Em termos de mentalidade, naquilo que é a crença individual de cada um, era top. Se o treino era às 10h00, ele estava no campo às 9 horas para treinar passes longos, remates, livres. Isso já existia dentro dele. Fábio Silva é outro exemplo fantástico de evolução de talento. Vi-o com dez anos.
Como era Fábio nessa fase?
- Já tinha esta alegria e à-vontade. Esta alegria de marcar um golo, de fazer uma desmarcação, de aparecer num espaço que só ele consegue ver... É um talento enorme.
Tem batido recordes atrás de recordes.
- Mais do que quebrar recordes, o que mais alimenta o Fábio é a paixão pelo clube, pelo futebol e a sua perseverança. Ele tem mentalidade e cultura de FC Porto. O Fábio tem uma relação fantástica com o golo e com a baliza. Consegue encontrar espaços e timings para finalizar que fazem dele um talento especial. Tem uma variabilidade tremenda na capacidade de finalizar e consegue também servir de apoio mais profundo. A alegria com que joga e a paixão pelo jogo fazem dele especial. Desde essas idades que adora desafios e decerto que os continuará a procurar e a ultrapassar.
Projeta-o a um nível de elite?
- Já está. Tem um caminho a percorrer em termos evolutivos. Está no sítio certo, no sítio de que gosta. E nas melhores mãos.
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O FC Porto tem agora vários atletas da formação na equipa principal.
-O FC Porto consegue produzir qualidade e talento há muitos anos. O aparecimento deles às vezes é uma questão de momento, de oportunidade, da forma como o jogador se consegue manter estável andando entre os treinos da equipa principal, jogos na B, ir aos sub-19...
Trabalhou com Romário Baró nos sub-15, sub-17 e equipa B. Em que posição se pode afirmar mais facilmente?
- Mais do que olhar para ele de forma individual, é importante olhar para a forma como os outros jogadores se relacionam com ele. É um miúdo fantástico, com uma mentalidade incrível. A dinâmica que é criada para ele receber a bola em determinadas posições, na relação com os jogadores à volta dele, é o mais importante. Ele percebe muito bem o jogo.
A Youth League foi um prémio para o vosso trabalho?
- É um prémio para toda a estrutura do FC Porto, para o diretor-geral, o diretor da formação, treinador da equipa B, da equipa A. Mas em especial para o Mário [Silva], que fez um trabalho muito bom. Foi fundamental.
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Um jovem com quem tenha trabalho que em breve vá estar na equipa A?
-Não digo um nome, porque pode fragilizar a posição do próprio jogador. Mas sem dúvida que Fábio, Romário, os outros que estão e os que vão chegar podem ser o futuro da equipa.
Falta-nos o Tomás Esteves. Vê nele capacidade para em breve também se estrear?
-O Tomás é um excelente miúdo, altruísta e com uma personalidade fantástica. Sempre teve uma paixão tremenda pelo treino e pelo seu desenvolvimento. Ele tem uma qualidade técnica e uma inteligência de jogo que lhe permitem resolver diferentes problemas com diferentes recursos. Tem todo o potencial para um futuro brilhante.
"VÍTOR ENTENDE, CONSTRÓI E CRIA; FÁBIO VIEIRA TEM CRIATIVIDADE"
Vítor Ferreira está a caminho da equipa principal e Fábio Vieira também tem boas hipóteses. "Ganharam títulos nacionais e internacionais, têm cultura de FC Porto dentro deles. O Fábio tem uma capacidade fantástica de organizar, de timing, último passe, criatividade no último terço, não só com drible, mas também com remate ou desmarcação que só ele consegue ver. O Vítor cria muito por dentro, em passe ou drible, tem capacidade para entender, construir e criar. São diferentes, mas conseguem jogar juntos, como vimos nos sub-19", resume Matos.
"PJE TAMBÉM TRABALHAVA A MÍSTICA"
Passou por muitas equipas e funções no FC Porto.
- Em função das relações que se foram criando no clube, as coisas aconteceram de forma muito natural. Fiz quase tudo no Olival: fui treinador, adjunto, observador, estive no "Potencial Jogador de Elite"... Isso ajudou-me a ter uma visão macro sobre todo o processo da formação, todos os departamentos e a forma como estes se podem relacionar em direção a um objetivo comum. O FC Porto, enquanto estrutura, faz tudo para desenvolver o maior número possível de jogadores. O PJE tinha que ver não só com o desenvolvimento individual, mas também de cultura de mentalidade, de transcendência, de superação.
"O aparecimento na equipa A às às vezes também depende de como o jogador se consegue manter estável entre a principal, os bês e os sub-19"
Esteve na China durante dois anos.
- Nunca imaginei e estive. A diferença cultural é grande, o futebol está a iniciar-se. Mas foi interessante porque deu para ver que pequenas coisas fazem a diferença.
Acredita que é possível o FC Porto seguir o modelo recente do Benfica e ser dominador com recurso anual à formação?
- O FC Porto tem na sua formação alguns dos melhores talentos que já vi por esse mundo fora. O clube nunca parou de investir na formação e foi sempre forçado a reinventar-se, sem tocar na sua mentalidade e identidade Porto. Na construção do plantel da equipa principal foi criado espaço para estes jovens e isso é uma oportunidade fabulosa; é mais uma prova do caminho que o clube quer percorrer.