Dembelé orienta o FC Porto: a história do fiel adjunto que dispensa publicidade
Chamado a render o castigado Sérgio Conceição com o Vizela, o Siramana Dembelé tem uma história de vida feita de superação constante. Assinou o primeiro contrato aos 25 anos, teve Ribéry como colega, ordenados em atraso em Setúbal e concluiu a carreira aos 32. Desde 2012 que faz a ponte entre Sérgio e os departamentos de observação.
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O castigo de Sérgio Conceição e Vítor Bruno obriga Siramana Dembelé a subir ao palco contra o Vizela, num papel para o qual se começou a preparar há mais de uma dezena de anos, mas que só agora experimentará oficialmente.
Habituado a estar com o intercomunicador na bancada, a comunicar com o banco, oferecendo a Conceição e a Bruno uma perspetiva mais elevada da movimentação da equipa, o francês, de 46 anos, ficará encarregue de dar as indicações para o relvado, do qual se despediu com 32 anos, depois de uma carreira curta mas sempre a subir.
A história no futebol de "Dembe", como é agora carinhosamente tratado no Olival, começou tarde. Incentivado pelos pais a privilegiar os estudos, licenciou-se em comunicação com a opção em publicidade e foi precisamente numa agência desta área que trabalhou enquanto "matava o bichinho" da bola nos amadores do Les Lilas. Protegido pela promessa do patrão de lhe reabrir a porta se a experiência no futebol não resultasse, o antigo médio arriscou e, aos 25 anos, saiu pela primeira vez de Villiers-le-Bel, nos arredores de Paris, para assinar um contrato semi-profissional com o modesto Olympique Alès. Na equipa do terceiro escalão viu os primeiros passos de Ribéry como jogador, saltando na época seguinte para o Cannes e, na posterior, para o Nimes. A chegada às meias-finais da Taça de França despertou atenções e Luís Norton de Matos, que trabalhara na formação do Lille, convidou-o para rumar a Setúbal. No Vitória viveu o drama dos ordenados em atraso e, apesar de ter organizado uma reunião no balneário a exigir (sem sucesso) o pagamento do que lhe era devido, acabou por rescindir o contrato e rumar de seguida ao Standard Liège.
A oferta de Conceição para o "grande amigo Sira"
Foi na Bélgica que conheceu Sérgio Conceição, que já lhe havia ficado na retina quando faltou a um jogo para assistir à meia-final do Euro"2000, entre França e Portugal.
"Reparei nele [Conceição] pela sua agressividade, a sua solidez", revelou, em 2017, em entrevista ao "Le Parisien". Sérgio era o capitão do Standard e até lhe ofereceu uma camisola com a dedicatória "para o meu grande amigo Sira".
O ex-extremo sairia em 2006/07, mas Dembelé continuaria mais uma época, conquistando o campeonato e a Supertaça. Voou de seguida para os israelitas do Maccabi Peth Tikva, pelos quais concluiu oficialmente a carreira, regressando ao Standard aos 32 anos, para integrar a equipa técnica de Laszlo Boloni e trabalhar com jovens como Defour, Mangala (ambos ex-FC Porto) e Witsel (ex-Benfica).
Em 2010/11, Dominique D"Onofrio juntou-o na mesma equipa técnica de Conceição, então ambos como adjuntos. Sérgio decidiu aventurar-se como principal em 2011/12 e convidou o francês a acompanhá-lo na experiência no Olhanense, entregando-lhe a responsabilidade de fazer a ponte entre o técnico e o departamento de análise e observação dos diferentes clubes por onde passaram desde então.
"Tenho seguido os passos de Sérgio [Conceição] e vou segui-lo até ao fim do mundo. A minha visão não mudou. Ele é o chefe... Pode ligar-me vinte a trinta vezes por dia, a qualquer horas da noite, que não vou reclamar", contou, ao "Le Parisien". No domingo terá de o substituir como treinador principal.