Defende a baliza do Lamas, mas disputou lugar com Diogo Costa: "Nem sempre fui suplente..."
Mário Évora, guarda-redes do União de Lamas, viveu época de grande nível e recorda o tempo passado como colega, amigo e rival de posto, de Diogo Costa, na formação do FC Porto
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Mário Évora defende a baliza do União Lamas, sentindo-se aos 26 anos num auge de rendimento e consistência, provando-o o facto de ser totalista de jogos na época dos lamacenses, abastecendo a sua confiança e conferindo créditos de grande promessa na formação do FC Porto e na seleção de Cabo Verde.
"O impacto desta época foi enorme. Sendo uma equipa recém-promovida, conseguimos manter-nos sempre na luta pela fase de subida e realizámos um excelente campeonato. Pessoalmente realizei uma das melhores temporadas, sendo o jogador mais utilizado", assinala o guarda-redes, muito consciente do acerto da escolha. "Os 25 jogos refletem perfeitamente o meu objetivo de ter uma época regular em termos de minutos em campo, tornando esta uma temporada muito positiva", decifra, explanando o crescimento desde que se fez sénior. "Tive sempre a oportunidade de aprender e evoluir. Esta foi a melhor época, a par do primeiro ano de sénior no Águeda. Tenho trabalhado com bons treinadores que têm contribuído para o meu desenvolvimento", aprofunda Mário Évora, agradado pelos ingredientes misturados na atmosfera de cada jogo do Lamas.
"É uma sensação incrível. Seja em casa ou fora, os adeptos estão sempre presentes, apoiando-nos incondicionalmente e tendo um impacto enorme no nosso percurso. São incansáveis, e nós, jogadores, damos tudo em campo para os honrar e dignificar este clube, que tem uma grande história no futebol português", argumenta o guarda-redes, lembrando os muitos anos vividos no FC Porto, que temperaram imensas ambições. "Foram anos fundamentais para o meu crescimento, dentro e fora de campo. Aprendi com grandes treinadores e colegas, absorvendo ensinamentos que me ajudaram a evoluir. A exigência e a cultura de trabalho do clube deram-me disciplina, resiliência e a importância do compromisso diário", reflete Mário Évora.
"Nem sempre fui suplente de Diogo Costa..."
O cabo-verdiano puxa a fita até aos dias que rivalizou com Diogo Costa, convivendo com uma geração dourada no Olival.
"Entre as melhores memórias, destaco o convívio com colegas que hoje são grandes jogadores, os momentos de superação nos treinos e jogos, e a sensação de representar um clube com uma história tão rica. Essas experiências marcaram-me profundamente e continuam a influenciar a minha carreira", junta o guarda-redes do Lamas, ciente da explosão precoce do titular do FC Porto e das suas ferramentas para o topo.
O orgulho é grande, pois foi capaz de dividir espaço na baliza com alguém que é, hoje, um monstro mundial na posição. "Nem sempre fui suplente dele [risos]! Nos sub-15, dividimos o campeonato, onde eu joguei 15 partidas e ele as restantes. Alternávamos a cada dois ou três jogos até ao final da época", relembra.
"Nos anos seguintes, ele foi subindo de escalão mais rapidamente, enquanto eu jogava nos sub-16, ele já estava nos sub-17, e, assim, sucessivamente. Foi um privilégio iniciar a minha caminhada ao lado de um dos melhores guarda-redes da atualidade", tributa, pormenorizando aspetos que o distinguiam.
"Era evidente que tinha qualidades de um guarda-redes de alto nível. Sempre foi muito ágil na baliza e destacava-se pela excelente qualidade no jogo de pés. Curiosamente, o seu vólei já fazia toda a diferença", enaltece Mário Évora, vincando a cumplicidade e partilha de outros tempos com o pilar da atualidade dos dragões.
"Sempre tivemos uma relação muito boa e saudável, tanto nos treinos como fora deles. Vivíamos na Casa do Dragão, estudávamos juntos e jogávamos bilhar na nossa sala de lazer. Na altura, ele já tinha patrocínio e, por vezes, oferecia-me alguns pares de luvas. Além disso, frequentemente dava-me boleia para os treinos da equipa B e dos juniores", recorda, nostálgico, abraçando um hipotético reencontro futuro.
"Se tivesse a oportunidade de o defrontar, acredito que a conversa iria passar por recordar a caminhada juntos. E, claro, não perderia a chance de lhe pedir a camisola!"
Afonso Henriques, uma passagem arrepiante
Mário Évora voltou a um clube de referência, após percorrer a etapa formativa no FC Porto, chega a Guimarães e joga pela equipa B entre 20/21 e 21/22, após Águeda, seguindo para o S. João de Ver. Ainda vê perto o sonho de se estrear na Liga, ao ir para o banco num embate com o Estoril.
"Representou a realização parcial de um sonho. O Vitória marcou-me profundamente a nível pessoal como profissional, foi um clube que me deu oportunidades únicas, incluindo a experiência de estar presente em jogos da Primeira Liga", recua. "Embora sem ser utilizado, aprendi uma lição valiosa: nunca devemos impor limites aos nossos sonhos, porque, com trabalho, podemos alcançar qualquer objetivo", sublinha o guarda-redes, curvando-se à massa vitoriana.
"Os adeptos são realmente diferenciados, vivendo o clube com uma paixão inigualável, independentemente dos momentos bons ou difíceis. Estar no Estádio D. Afonso Henriques, como jogador ou adepto, é arrepiante."
Mário Évora não esquece "uma linda história". "Quem sabe se não se repete. Além disso, tive o privilégio de conhecer pessoas de grande caráter, tanto na equipa B quanto na equipa A, como o Varela, o Jonathan e o Tiago Silva, entre outros. Levarei todos comigo para a vida, pois são pessoas extraordinárias", valoriza.
A pensar na seleção e a tratar do futuro
Mário Évora, uma vez internacional por Cabo-Verde, está também radiante com o sucesso dos tubarões-azuis no caminho tão idealizado para o próximo Mundial.
"A nossa seleção está a fazer uma caminhada incrível, liderando a classificação e demonstrando um trabalho consistente. O futuro é muito promissor, pois as pessoas envolvidas têm feito um excelente trabalho, tornando Cabo Verde cada vez mais forte e preparado para grandes conquistas", vinca o guarda-redes do União de Lamas, com a moldura de uma internacionalização. "O meu grande sonho era tornar-me internacional A por Cabo Verde, e tive o privilégio de o realizar. A minha jornada com a seleção não terminou, quero contribuir para o sucesso da nossa pátria. Vou trabalhar para voltar e fazer parte de novas campanhas de sucesso ao lado dos meus colegas", sublinha, prestando honras a colegas que o marcaram em 2020.
"A seleção é como uma segunda casa. Sempre me senti muito bem acolhido pelos mais experientes, como o nosso capitão Marco Soares e o Vozinha, um dos meus ídolos na baliza. São pessoas com quem, até hoje, mantenho uma grande amizade", destaca Mário Évora, ciente do futuro que pretende, numa altura em que completa o 12º ano, cursando apoio à família e à comunidade.
"Começa com a necessidade de concluir o 12º ano, que ficou pendente após a minha lesão grave no joelho. Não imaginava que iria gostar do curso que escolhi, mas, ao longo do tempo, percebi que ele está totalmente ligado ao nosso dia a dia", desfia. "É uma formação que nos ajuda a compreender melhor a sociedade e a lidar com pessoas de diferentes idades, desde crianças a idosos. Entusiasma bastante, pois estou a perceber o quanto esse conhecimento se aplica à realidade que vivemos diariamente", explica o guarda-redes, reconhecendo a sede de estudar e preparar-se para papéis à altura das suas vontades.
"Quanto ao meu futuro, o meu objetivo é continuar a jogar futebol e, após a minha carreira como jogador, quero manter-me ligado ao desporto. Pretendo formar-me em áreas como Direito Desportivo ou Gestão de Carreiras, pois são competências que desejo desenvolver. Além disso, quero aplicar tudo o que estou a aprender neste curso, pois sei que terá um grande valor na minha trajetória", admite.