Não será na AG de hoje, marcada para as 14 horas, que os clubes vão votar o alargamento da I Liga e os contornos que o mesmo vai ter, mas não deixará de ser uma reunião quente, porque o tema vai entrar em debate
Corpo do artigo
A integração do Gil Vicente na I Liga é "inevitável", como se lê no comunicado ontem emitido pela Direção da Liga, que se reuniu de manhã, mas a forma como será feito o alargamento nunca será pacífica. Há várias possibilidades em equação - nem sequer se pode falar em propostas -, mas nenhuma reúne consenso e há até algumas que parecem, à partida, inviáveis. Por exemplo, alargar a I Liga para 19 clubes - como pretendem alguns clubes - choca desde logo com a verdade desportiva. Segundo os regulamentos, a última jornada tem de ser jogada no mesmo dia e à mesma hora; ora, havendo um número ímpar de participantes, há um que descansa na última ronda e ninguém pode garantir que esse "um" não esteja, por exemplo, na luta pela permanência. Ou seja, o Gil Vicente terá de ser sempre acompanhado no alargamento. Aqui entronca outra questão: repescagem do União da Madeira pura e simples (já aconteceu em 2014/15 com o Atlético, convidado então para disputar a II Liga, o que veio a acontecer), ou então um play-off entre os madeirenses (penúltimos classificados) e o Portimonense, terceiro da II Liga. E isto também não seria novidade - aconteceu em 2013/14, quando o Boavista foi reintegrado, também por ordem judicial. Só que esta decisão foi tomada muito antes de a época terminar, em março, e numa altura em que não se sabia sequer quem iria disputar a prova. A liguilha foi jogada entre o Paços de Ferreira e o Aves, com sucesso para os castores.
O caso atual é bem diferente. A decisão favorável aos gilistas surgiu já depois de os campeonatos terminarem. A ser aprovado, o play-off terá de ser jogado até 30 de junho, data em que termina a época desportiva, mas também isso parece impraticável. Nesta altura, os jogadores estão de férias e construir uma equipa para disputar dois jogos choca com a questão de salvaguarda da integridade física (jogadores sem ritmo de competição - ver texto em baixo) e com a Convenção Coletiva de Trabalho (o direito às férias).
Mas tudo isto pode deixar de se equacionar se o Belenenses entender recorrer da decisão do tribunal - e pode fazê-lo até ao dia 9 de julho, uma vez que é parte interessada na queixa que motivou o processo aos gilistas, como se pode ler em peça ao lado. Embora os azuis ainda não se tenham decidido, quem está por dentro do processo aconselha a que estejam sossegados... Afinal, ao recorrer o Belenenses corre dois riscos: o de ser responsável pelo pagamento da indemnização ao Gil Vicente (no caso de perder o recurso), ou motivar ainda a fúria de Fiusa. Como? Simples: o ato que ditou a descida do Gil foi o mesmo que provocou a permanência do Belenenses. E esse ato, juridicamente, é agora um ato nulo. Ou seja, o Belenenses corre ainda o risco de descida. O clube do Restelo já terá sido aconselhado a ficar quieto, ao que O JOGO apurou.
De tudo isto se conclui que Pedro Proença tem uma batata a escaldar as mãos! O líder da Liga não estaria à espera deste imbróglio, mas também sabe que pode vir aí mais confusão ainda. O assunto não está na ordem de trabalhos nem irá a votação, mas será com certeza discutido, desde que seja aprovada por unanimidade uma alteração à ordem de trabalhos. Mas pode não haver unanimidade. O JOGO sabe que vai ser marcada uma assembleia geral extraordinária para o próximo dia 15 - notícia confirmada esta quarta-feira no comunicado da Liga que convoca os clubes para uma AG extraordinária para essa data - na qual o alargamento será votado. Há clubes que são pela repescagem do União, outros pelo play-off entre os madeirenses e o Portimonense. Não há unanimidade nem na própria Direção da Liga. Segue-se a contagem de espingardas...