De regresso ao Boavista, Ricardo Costa revela: "Tive convites de FC Porto e Paços"
<strong>ENTREVISTA (PARTE 1) - </strong>Ricardo Costa deixou o Boavista no último ano de júnior. Já lá vão 20 anos, mas garante que nunca perdeu a ligação ao clube, até porque tem um filho que joga nas camadas jovens dos boavisteiros.
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Ricardo Costa está de regresso ao Boavista 20 anos depois de ter deixado o Bessa. Aos 38 anos, o defesa-central quer cumprir o sonho de jogar pela primeira vez como sénior dos axadrezados. Em entrevista a O JOGO, que decorreu no Parque da Cidade, no Porto, e na companhia dos filhos - Gabriel Costa, de 12 anos, e central do Boavista, e Tomás Costa, de sete, médio do FC Porto -, o internacional português afirma estar entusiasmado.
O que o leva ao regressar ao Boavista 20 anos depois?
-Vou voltar a uma casa onde me formei e onde tive um passado recheado de títulos. Trabalhei no Boavista com pessoas que me ensinaram muitos valores, umas estão cá, outras já partiram. Vou voltar a uma casa onde nunca joguei a nível sénior, porque saí logo para o FC Porto. Mas fazendo a formação toda no Boavista e sendo internacional português em todos os escalões a representar o clube, queria acabar a carreira num clube que me diz muito e onde tenho um filho a jogar. É um clube familiar e onde a simplicidade das pessoas cativa. Sinto-me uma pessoa da casa. Os sócios do Boavista falam muito comigo, perguntam como correu a minha festa de anos ou como correu o futebol. Na época passada, por exemplo, eu estava no Tondela e diziam-me que não podia ganhar ao Boavista. Estes pormenores são engraçados porque depois de 20 anos chego a um ponto em que digo: vale a pena voltar a casa. Sinto que é uma forma de acabar em grande uma carreira que me custou muito, mas que tinha de acabar ali.
"Queria acabar a carreira num clube que me diz muito e onde tenho um filho a jogar"
A sensação que fica é que nunca perdeu a ligação ao Boavista. É assim?
-Depois de tantos anos na formação do Boavista, fui educado com aquele sentimento bairrista, como uma família, para ganhar e ter êxito. Tive grandes treinadores como o falecido Queiró, que para mim era um exemplo, tive ainda o falecido Espinheira Rios, com quem aprendi e sofri muito em termos físicos, tive ainda Joaquim Libório, um grande treinador, o falecido Amarante, outro grande treinador. Eles incutiram-me valores como humildade, guerreiro, querer e sofrer. Há 25 anos já se falava em títulos. Recordo as lutas que tínhamos com o Sporting, Benfica e FC Porto. O Boavista não tinha a dimensão dos três grandes, mas com os nossos meios e funcionando como família, íamos para a guerra. Isso fica sempre no sangue e foi transportado ao longo da minha carreira, mesmo quando fui para o FC Porto, onde ganhámos tudo. Por isso, ficou sempre aquela vontade de jogar com aquela camisola. Quando surgiu esta oportunidade, disse logo que tinha de aproveitar para jogar num clube que me deu tanto quando eu era miúdo.
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Voltar era um sonho que tinha?
-Era um sonho voltar àquela casa, porque tenho a mágoa de nunca ter jogado pelos seniores do Boavista. Quero jogar naquele estádio e isso vai ser uma sensação nova para mim. Ainda no último jogo desta época estavam 20 mil nas bancadas e isso é de louvar. O Boavista tem de se esforçar para ter sempre a casa cheia, porque o 12.º jogador vai ajudar-nos. Há momentos em que estás por baixo e os adeptos vão ajudar a dar a volta. É um clube com muita história e é bom que esteja novamente a crescer. O clube passou por maus momentos, mas aos poucos está a dar a volta e a tentar ser o Boavista de antigamente.
Esteve para voltar noutras ocasiões, certo?
-Tive uma oportunidade com o João Loureiro, mas não foi uma abordagem muito direta, mas neste caso fui abordado diretamente. Às vezes ia ver o jogo do meu filho e diziam: "Então, não te esqueças". Tinha outras propostas e ainda há pouco tempo recebi uma da China, mas queria voltar a casa.
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O que pode trazer à defesa e à equipa do Boavista?
-Pela minha experiência, pela minha personalidade e pela sabedoria que fui adquirindo durante anos com grandes treinadores e grandes mestres do futebol, posso transmitir tudo isso. Gosto de comunicar e de alertar para os perigos que possam acontecer durante os jogos.
É muito chato com os colegas?
-Por acaso não sou muito chato. Normalmente não sou muito falador, sou mais observador, mas quando estamos dentro do campo transformo-me um bocado porque ali quero ganhar. Passo isso aos meus filhos. O mais velho é defesa e ele ouve-me. Muitas vezes não quer ouvir, mas isso é da idade... [risos]. Essa comunicação é muito importante dentro do campo.
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"TIVE CONVITES DO FC PORTO E DO PAÇOS DE FERREIRA"
Ricardo Costa podia ter emigrado novamente, até porque tinha uma proposta financeiramente muito vantajosa de um clube chinês. Para trás ficaram ainda os convites do FC Porto e do Paços de Ferreira.
Confirma as propostas do Paços de Ferreira e do FC Porto para jogar na equipa B?
-Tive abordagens do Paços de Ferreira e do FC Porto. Neste último caso, era um projeto a longo prazo. Ia para jogar na equipa B, mas quando terminasse o contrato ficava a trabalhar na formação. Quero ser treinador, tirei o curso de I Nível em Viseu e quero começar na formação. Quero ensinar, passar valores e transmitir aos meninos o que aprendi. A proposta do FC Porto era nesse contexto, de tentar ajudar e jogar na equipa B, mas senti que este não é o momento. Quero lutar por outros objetivos. O Boavista tem o objetivo de ir à Liga Europa e ser forte em casa.
"Quero ser treinador, tirei o curso de I Nível em Viseu e quero começar na formação"
Aos 38 anos, espera jogar mais quanto tempo?
-Agora vou assinar ano a ano. Não estaria a ser correto comigo se pensasse a longo prazo. Penso no presente. Tenho de ir para o treino a sorrir. Quero chegar lá para tentar ajudar, mas também para aprender.
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