De quase dispensado ao ano sem jogar e aos Estados Unidos, André Franco fintou o pesadelo
Reforço do FC Porto quase foi dispensado, passou um ano sem jogar e teve azar nos Estados Unidos, mas deu a volta e alcançou "o que mais desejava"
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"Orgulho" foi uma das palavras mais utilizadas por André Franco nos dias que se seguiram à apresentação como reforço do FC Porto. Algo que não surpreende, uma vez que, há cerca de quatro anos e como o próprio admitiu, esteve perto de desistir do futebol, fruto de uma sucessão de más experiências.
Tiago Fernandes estreou André nos Sub-19 do Sporting e na equipa principal do Estoril e conta a história do médio a O JOGO. "Se calhar, aquele ano de paragem até lhe abriu os olhos", afirma.
O JOGO quis conhecer a história ao pormenor e, nesse sentido, falou com Tiago Fernandes, treinador que estreou o novo camisola 20 dos dragões na equipa principal do Estoril, anos depois de terem trabalhado juntos na formação do Sporting. Resultado: aos 24 anos, Franco já tem muito para contar. De praticamente dispensado nos iniciados dos leões a uma época inteira sem jogar - com uma passagem de má memória pelos Estados Unidos de permeio -, o médio conseguiu dar a volta por cima ao pesadelo e realizar o sonho de jogar num clube grande.
"O André estava para ser dispensado no Sporting, mas pedi que ficasse no escalão abaixo, mesmo sendo iniciado de segundo ano, para que pudesse amadurecer connosco", começa por contar Tiago Fernandes, que também dava os primeiros passos na estrutura do clube verde e branco. No final do ano seguinte Franco acabaria mesmo por deixar Alcochete. Foi já em 2016/17, após uma época nos juniores do Belenenses, que os destinos de André e Tiago voltariam a cruzar-se, então nos Sub-19 leoninos. "Foi a meu pedido que ele voltou ao Sporting", prossegue o técnico. A verdadeira provação chegaria na temporada seguinte.
Com 19 anos, na primeira época de sénior, o agora jogador do FC Porto esteve um ano sem jogar. Franco treinou à experiência no 1.º de Dezembro, do Campeonato de Portugal, mas, aconselhado a esperar até janeiro por outras oportunidades, acabou por ver as portas fecharem-se por todo o lado. Já a pensar em retomar os estudos, havia uma solução no horizonte: o "soccer". "Lembro-me que, naquela altura, vários miúdos tentaram a sorte nos Estados Unidos. O João Moutinho [lateral do Orlando City] foi um deles, o André foi outro. Queria conciliar o futebol com os estudos, mas as coisas não correram como ele esperava. Não teve colocação", relata Tiago Fernandes. Além "das saudades de casa e da família", o clube onde Franco treinou durante duas semanas ficou sem vagas para estrangeiros.
Após uma época nos Sub-19 do Belenenses (2015/16), André Franco voltou ao Sporting (juniores) e pôde disputar a Youth League. Seguiu-se o fatídico ano sem jogar.
Obrigado a recomeçar do zero, 2018/19 abriu uma janela de esperança. "Foi nos Sub-23 do Estoril que ele voltou a jogar e, mais tarde, chamei-o à equipa principal. O talento estava intacto, mas encontrei um Franco mais maduro, mais adulto, à procura de recuperar o tempo perdido. Antes de se estrear, disse-lhe que tinha a capacidade de vingar como profissional. Hoje em dia, é um miúdo muito equilibrado, que não se deixa ir abaixo quando não joga e não se deslumbra quando as coisas correm bem", detalha Tiago Fernandes, que acredita que os obstáculos moldaram o criativo. "
É difícil dizer, mas, se calhar, aquele ano de paragem até lhe abriu os olhos e fez com que o André visse que o futebol de alto nível não é para todos ou para quem quer. As coisas acabaram por correr bem e ele chegou a um clube grande como futebolista sénior, que era o que mais desejava", refere o treinador, que aponta o caráter de André Franco como o fator decisivo na hora de deixar o passado conturbado no baú das memórias. "O facto de ser boa pessoa e bom profissional foi decisivo para que voltasse a jogar [em 2018]. O controlo emocional que mostrou durante o período complicado levou a que superasse as dificuldades. No fim, o trabalho veio ao de cima e a prova disso está aí. Agora, o André Franco é jogador do FC Porto", remata.
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Golo valeu "boca" à equipa técnica
Adjunto de Bruno Pinheiro no Estoril em 2021/22, João Coimbra recordou a O JOGO um episódio caricato que teve André Franco como protagonista.
"Antes do jogo com o Arouca, na primeira jornada, queríamos que um médio entrasse na área e, na brincadeira, até dissemos: "Neste caso tem de ser o Miguel Crespo, porque o Franco não entra." O que é certo é que o André marcou mesmo, depois de furar na área e, mal o jogo acabou, virou-se para o banco e atirou: "Então não entro na área? Tomem lá e venham festejar"", contou João Coimbra, entre risos.
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