David Neres: expulso da escola, já foi médio defensivo, adepto das cartas e de Messi
Reforço de peso entre os que começam já a contar para Roger Schmidt, chegou a jogar como... médio-defensivo e até lateral-esquerdo. Treme com a Champions, mas em campo transforma-se.
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Reforço mais sonante entre aqueles que se apresentam ao trabalho já com Roger Schmidt, David Neres é conhecido por ser alguém reservado fora de campo, mas que nunca vira a cara à luta. Algo bem visível em campo.
E mesmo sentindo o nervosismo das grandes partidas, não teme quem está do outro lado, nem que seja Cristiano Ronaldo.
David Neres começou a jogar futebol em criança, na rua, no bairro de Perus, em São Paulo, e antes de ingressar no Tricolor, o clube do seu coração, ainda passou pelo Saturno, clube do seu pai, e Nacional de Pirituba. Aos dez anos, foi a testes no São Paulo, a 28 de setembro de 2007, um dia antes do aniversário do pai, Miguel. "Ele disse que foi o melhor presente que já recebeu", revelou Neres, ele que teve de convencer a mãe. "Ficava preocupada e dizia que tinha de estudar, mas apoiou-me", contou.
Tímido, Neres dava, contudo, alguns problemas. "Quando eu era pequeno era muito mais agitado, gostava de uma boa briga. Lutava todos os dias", revelou em tempos David Neres. Tal personalidade valia para tudo. O próprio primo, Bruno, chegou a contar um episódio em que desafiou David a lutar por umas meras batatas fritas. O desafio era enfrentar, nos jogos entre equipas formadas por crianças de cada prédio, o maior miúdo da outra equipa. David Neres pegou na bola, definiu o adversário, fez a bola passar-lhe por cima e marcou golo. De imediato reclamou o "prémio".
A personalidade irreverente causou-lhe problemas na escola, da qual chegou a ser suspenso por insultar a diretora. O próprio assumiu a questão, vista então como mais um obstáculo a superar. "Tive problemas na escola, fui expulso. Mas consegui dar a volta por cima. Tive um problema com a diretora da escola, mas tudo deu certo", assumiu, isto apesar de ter pensado em sair do Tricolor, tendo o Palmeiras chegado a mostrar-se interessado.
Contratado pelo Benfica para desequilibrar as defesas, David Neres nem sempre foi extremo. Aliás, começou a jogar mais recuado. No início no São Paulo ofereceu-se para jogar a... médio-defensivo. "Havia dois meninos que perguntaram: "Quem faz de médio?". Nesse jogo fiz dois golos", recordou no passado em entrevista. A partir daí ficou na posição e chegou até a fazer um campeonato como lateral-esquerdo. "Nunca ficava na linha da defesa, ia sempre lá pra frente", assumiu, ele que após muito insistir na mudança teve, a partir dos 14 anos, a oportunidade de jogar como atacante, perto de Lucas Fernandes, médio-ofensivo agora do Botafogo e que já passou pelo Portimonense. Depois de um mau início de relação - "Com 13, 14 anos não nos dávamos muito bem", confessou o agora jogador de Luís Castro - tornaram-se grandes amigos. A ponto de Lucas Fernandes contar um segredo bem guardado: "Nos estágios, sempre que ele ia dormir tinha na cama um ursinho de peluche."
Fã de jogos de cartas, ao invés de consolas, e apaixonado por música funk, foi ganhando espaço na formação do São Paulo, mas em 2014 chegou a ver a ser ameaçado de dispensa... tal como Éder Militão, que viria a dar o salto para o FC Porto e daí para o Real Madrid. "O Militão e o Neres naquele momento já apresentavam algumas valências que, para quem estava no São Paulo na época, eram problemáticas. O Neres na questão mais física. O Militão na compreensão tática...", revelou Júnior Chávare, ex-diretor-executivo do São Paulo. Ficou e explodiu, fazendo apenas oito jogos pelos paulistas antes de ser vendido por 15 milhões de euros ao Ajax.
Ídolo em criança de Ronaldinho e preferindo Messi a Cristiano Ronaldo - "Sempre admirei o estilo de jogo de Messi", contou -, chegou a ser comparado a Neymar. Peter Bosz, técnico do Ajax quando foi contratado, atirou a analogia para o lixo. "Isso faz-me rir. Os nossos olheiros fizeram um grande trabalho, mas não vou fazer promessas", disparou.
Após meia época de adaptação a Amesterdão - onde conheceu a sua namorada, a modelo Kira Winona, que o considera como muito organizado: "Despe uma t-shirt e dobra-a de imediato" -, foi uma das principais figuras dos lanceiros em 2017/18 e 2018/19. Nessa época brilhou na Champions, ajudando o Ajax a chegar às "meias" com golos a Real Madrid e Juventus (de CR7), que deixou pelo caminho. Neres classificou a exibição no Bernabéu como "marcante" na sua carreira, mas apesar das boas exibições assume ansiedade na prova. "Com a música da Champions... É um nervosismo muito grande, fico com o coração na boca, as pernas tremendo...", confessou. Apesar disso, nem com Cristiano Ronaldo do outro lado se intimida: "Temos a nossa qualidade, não interessa quem está do outro lado."
Marcas
Estreia pela mão de Ricardo Gomes
O primeiro jogo de David Neres no Brasileirão foi a 17 de outubro de 2016. Na altura, o jovem de 19 anos foi lançado aos 60 minutos no embate do São Paulo com o Fluminense, substituindo Robson Fernandes. Os paulistas triunfaram por 2-1 na casa dos cariocas.
Colega de jogadores bem conhecidos
Formado nas escolas do São Paulo, Neres encontrou no plantel principal de 2016 jogadores que passaram no futebol português. Por exemplo, Maicon e Kelvin (FC Porto), Renan Ribeiro e Matheus Reis (Sporting) ou Alan Kardec (Benfica).
Lançado no Ajax por Peter Bosz
A ida de Neres para o Ajax rendeu ao São Paulo 12 M€. Pelo clube neerlandês, o extremo faria 180 jogos, sendo o primeiro deles frente ao Heracles: entrou aos 72" de um jogo disputado a 26 de fevereiro de 2017.
Com Keizer à porta da Champions
Em 2017/18, primeira época de início no Ajax, trabalhou com Marcel Keizer, que treinaria o Sporting na época seguinte. E com o neerlandês esteve perto de chegar à Champions. O clube de Amesterdão teve de disputar a terceira eliminatória de acesso à prova mas foi eliminado pelo Nice.
Passagem pela Luz, estragos com o leão
A primeira vez que Neres esteve na Luz foi ainda pelo Ajax, para a Champions. Na fase de grupos, em 2018, foi titular no 1-1. Jonas marcou pelas águias, Tadic pelos visitantes. Na época passada visitou Alvalade, vencendo por 5-1 e na receção em Amesterdão marcou no triunfo neerlandês por 4-2. Foi o seu último golo oficial.
Benção de Tite em 2019 no escrete
São sete os jogos de Neres pelo Brasil. Foi lançado por Tite num particular contra a Chéquia a 26 de março de 2019. As restantes presenças do jogador na canarinha foram todas nesse ano, tendo feito o único golo num 7-0 às Honduras, a 9 de junho.