ENTREVISTA, PARTE 2 >> Daniel Ramos leva cinco anos de I Liga e é um profissional feliz, porque cumpriu sempre os objetivos a que se propôs, mas houve quem não olhasse para o que realmente é como treinador
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Para além da ambição, tem condições para treinar um dos grandes do futebol português? Já chegou o momento?
-Tenho ambição e tenho convicção que o posso fazer. Da mesma forma que quando treinava as divisões inferiores estava convicto que haveria de chegar à I Liga, como cheguei. A persistência foi compensada. Estou mais perto de demonstrar o meu valor para outros patamares.
O professor Jesualdo disse há dias, numa entrevista em O JOGO, que você é um bom exemplo de um treinador que subiu a pulso...
-Agradeço essas palavras do professor. Fui fazendo a minha carreira, tomei algumas decisões erradas, mas aprendi com os erros. Hoje sinto-me muito melhor preparado, ao nível tático, do conhecimento do jogo. Acredito que se continuar a fazer bons trabalhos, treinar um grande acabará por acontecer.
Teve oportunidade de sair agora e de ganhar muito dinheiro. Preferiu ficar por cá...
-A minha continuidade teria lógica desde que garantissem as condições que pedi, essencialmente, uma boa base de continuidade. A ambição de continuar no futebol português tem que ver com esse objetivo de chegar mais longe. Poderia estar a ganhar muito mais dinheiro neste momento, mas estou a apostar na minha carreira desportiva. E é com muito prazer que continuo no Santa Clara.
"Quando treinava nas divisões inferiores também acreditava que ia chegar à I Liga"
Foi reconhecimento geral que o Santa Clara praticou ao longo da última época um futebol atrativo, criando muitos problemas a equipas como FC Porto ou Sporting. Daniel Ramos não gosta de defender...
"Quem me conhece sabe a minha ideia de jogo e a forma como gosto que as minhas equipas joguem - um futebol agradável. Na minha carreira, tenho três subidas de divisão e fui campeão nacional com o U. Madeira [na extinta II Divisão, em 2010/11, n.d.r]. Tive registos importantes nas várias divisões em que treinei. Quando se chega à I Liga podemos passar uma imagem errada fruto de algum momento da época, dos planteis que temos ou dos momentos que vivemos", explica Daniel Ramos.
E esta explicação tem um sentido, quando esteve no Marítimo, na segunda época, foi considerado um treinador defensivo.
"Senti-me triste mas felizmente que essa imagem está a desaparecer. Gosto de um futebol dinâmico, onde a organização defensiva e ofensiva tem que estar presente. Viver de um processo defensivo não é a minha ideia de jogo. Nestes cinco anos de I Liga, acho que já deixei bem clara qual é a minha ideia de jogo e felizmente tenho tido projetos para o demonstrar".
E recorda: "No Rio Ave fiz um dos melhores trabalhos desde que estou na I Liga. Quando cheguei, o clube estava mal, mas terminámos em sétimo e a jogar muito bem. Isso não foi valorizado, porque as pessoas se esqueceram da recuperação que foi feita. No Boavista foi razoável, conseguimos a permanência, que era o objetivo. No primeiro ano no Marítimo foi bom, no segundo razoável, agora, no Santa Clara fizemos um trabalho excelente"...
O plural - "fizemos" - tem a ver com os louros que Daniel Ramos distribui pela sua equipa técnica: Renato Pontes, Joel Serrão, Danildo Accioly e Tiago Sousa: "Cada um tem a sua função, como é natural, temos um entendimento perfeito, uma comunhão de ideias que sai da troca de opiniões que vamos fazendo", realça Daniel Ramos, para rematar com alguma ironia. "Sinceramente, acho que não nos temos saído mal"... É verdade que não e nos Açores contam com eles mais uma vez.