Márcio Rodrigues, presidente desde 2010, fez crescer, com a ajuda da família, o clube da aldeia, que está a brilhar na Série A.
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Provavelmente já ouviu falar de Vilar de Perdizes por ser a "terra das bruxas", ou pelos congressos anuais de medicina popular, mas recentemente há outro motivo de interesse na aldeia mais mística de Portugal: o GD Vilar de Perdizes está em quarto lugar na Série A do Campeonato de Portugal, com 22 pontos, tendo, no fim de semana passada, vencido em casa do Tirsense por 2-0.
Márcio Rodrigues, antigo jogador que assumiu a presidência em 2010, alavancou o clube da terra com cerca de 400 habitantes. Lembra-se de quando, ao domingo, pegava no carrinho de mão e, juntamente com o pai, marcava, com cal o pelado. "O clube estava parado", recorda.
Com a ajuda da família - a mãe trata da rouparia, a esposa é diretora na formação, o pai mantém-se na Direção e o irmão é team manager - trouxe os raianos para os nacionais, num sonho "real" e "bem estruturado". "Em 2015/16 qualificámo-nos pela primeira vez para a Taça de Portugal. No ano seguinte, fomos contemplados com um fundo de apoio da FPF, fizemos uma bancada coberta para 350 pessoas, colocámos um sintético e em 2017 inaugurámos o nosso estádio que, no entanto, não tem as medidas oficiais porque, na altura, o antigo município não acreditou no Vilar de Perdizes", critica. "Chamam ao nosso campo a Pedreira dois porque temos um talude atrás de uma baliza, que devia ter sido removido para ampliar o campo", acrescenta. De facto, a equipa anda com a casa às costas. Joga no complexo desportivo do Chaves, nada que abale a ambição de Márcio. "Em 2021/22 fizemos uma época de sonho na AF Vila Real. Um percurso brilhante. Este ano, estamos a superar as expectativas, mas até podíamos ter mais pontos. Com o Monção (derrota em casa, por 2-0), demos um tiro nos pés, senão estávamos mais acima", sublinha.
O orçamento, alicerçado em verbas camarárias e por "meia dúzia de patrocinadores desde a fundação" obriga a que o dinheiro seja contado. "Os jogadores não vêm para aqui para ganhar dinheiro, mas sim para se valorizarem", comenta. E, em terra de bruxas, pode o clube ser mais famoso do que as festas do oculto? "O padre Fontes, que meteu Vilar de Perdizes no mapa por causa das bruxas, diz que hoje se fala mais de futebol e que eu vou seguir o legado dele. Isso emociona-me", termina o dirigente.
Os oito cafés que esperam pelo estádio
As obras no Estádio Municipal da Lage contribuíram para que o recinto tivesse uma bancada para cerca de 350 pessoas, mas as dimensões do relvado não estão homologadas para as competições nacionais. Márcio Rodrigues lamenta o transtorno que isso causa na economia da aldeia - longe vai o tempo em que assentava no contrabando e mais longínquo ainda o tempo do volfrâmio. "Quem perde são os três restaurantes de Vilar de Perdizes, os oito cafés, o supermercado e as gentes da terra. O clube, se calhar, é quem menos perde com isto. O futebol traz uma grande envolvência e o Grupo Desportivo Vilar de Perdizes é o maior cartaz da aldeia, porque joga durante um ano. Não é um evento isolado", considera. "Fico triste porque os jogadores não sabem nem sentem o que é jogar no nosso campo", lamenta o dirigente.
O clube transmontano é uma entidade formadora três estrelas e também tem futsal, num total de cerca de 170 atletas federados. "Estamos abertos a todas as crianças e jovens, de todas as idades, dos petizes aos juniores, rapazes e raparigas. Este clube é uma família", elogia.
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