ENTREVISTA A CUBILLAS - Os nomes saem-lhe em catadupa quando desafiado a recordar os melhores com quem jogou. O "tão bom como louco" António é o eleito, mas não esquece o talento do bibota.
Corpo do artigo
Cubillas não se lembra bem do CUF-FC Porto [0-0] da estreia, mas sabe na ponta da língua o plantel que o recebeu. "Rui e Tibi na baliza. Bené, Ronaldo, Rolando, Abel, Nóbrega, Flávio, Oliveira... E nunca me esquecerei de um tremendo jogador, o miúdo Gomes, que estava a aparecer. E houve ainda Gabriel, Seninho..."
13051527
Quem foi o melhor com quem jogou no FC Porto?
- É uma pergunta difícil. Todos os que enumerei eram muito bons. Mas o melhor, bem, o melhor... Oliveira. Fazíamos cada combinação. E como companheiro também era muito bom. Era um génio e eu identificava-me com ele pelas assistências. Sempre gostei mais de assistir do que marcar. Achava que devia haver uma tabela, mas só havia a dos goleadores. Hoje já se aponta tudo, mas há 40 anos eu apontava as minhas assistências. Eram o triplo dos golos. Oliveira também oferecia muitos... Era um ponta direita genial, tinha tanto de bom jogador como de louco, como se costuma dizer [risos].
Quer explicar melhor?
- Alguns jogadores gostam mais de boa vida do que outros. Era o caso de Oliveira. Mas quando tinha de dizer presente, aparecia e ajudava a ganhar. Vão pedir o quê? Fazendo que fazia, havia era que o deixar viver como quisesse. Se calhar, se se dedicasse apenas a treinar, a produção não seria tão boa.
Cubillas assistiu à promoção do Bibota à equipa principal e ficou impressionado com a forma como este se impôs no lugar de Flávio. Acredita que pode ajudar muito como diretor
Falou de outros jogadores no início da conversa...
- [interrompe] Seninho foi o mais rápido que conheci. Rolando era o capitão, o maior de todos, tinha grande seriedade e impunha respeito. Nóbrega... que jogador! Bené também importante. Sei que está em Boston, perto de mim. Gabriel era excelente. E o miúdo Gomes... Com aquela juventude, 17 anos, ficou com o lugar que era do Flávio, um craque do Brasil, internacional. Não era fácil e ele conseguiu. Soube que esteve doente e fico feliz por estar bem, porque além de um grande jogador, era e é um grande amigo. Estive na estreia dele. Que qualidades extraordinárias. Fui um privilegiado.
Mantém contacto com ele?
- Quando regressei, em 2012, ele promoveu uma reunião em sua casa de ex-companheiros. Seninho apareceu, Rui e outros. Todos levaram as famílias, falámos, falámos...recordámos outros tempos.
Agora é diretor e responsável por todo o futebol de formação, sabia?
- A sério? Que bom! Pode ajudar muito com a sua experiência. E ele sempre teve perfil de diretor. E foi um miúdo da casa que chegou a estrela da primeira equipa. Pode acrescentar muito.
13043302
"SÓ PAREI DE JOGAR POR CAUSA DA PANDEMIA"
A última aparição pública de Teófilo Cubillas, em outubro, mostrou um homem de 71 anos muito parecido com o de 50 anos quando o peruano publicou um vídeo a dar os parabéns a Pelé pelo octogésimo aniversário e foi a sua "juventude" que impressionou. O segredo? Muito exercício físico.
Em 2012, quando esteve no Porto, estava muito bem conservado, era fácil ser reconhecido...
- [risos] E agora também. Cuidei-me muito, vou fazer 72 anos [em março] e vejo-me igual aos tempos em que jogava [risos outra vez]. Tratei sempre da saúde, do meu corpo e da minha imagem. Acordo muito cedo e faço exercícios todos os dias, incluindo sábado e domingo. Começo às 6 horas da manhã, faço meia hora de abdominais, dorsais e agachamentos, mais meia hora de estiramentos. A seguir são 40 minutos na bicicleta em que consigo queimar 750 calorias. No final vou nadar para a piscina, são 20 a 25 minutos. Tenho que baixar o ritmo porque os anos não perdoam, mas a verdade é que resulta [volta a rir], por isso é melhor não. Cada dia quero fazer mais e melhor. É uma disputa contra mim mesmo. Tenho artroses nos dois joelhos, já tive quatro operações, artroscopia... Só não posso correr, mas tudo o que seja para ajudar os meus joelhos eu vou fazer. Só não quero é tomar medicamentos.
"Faço meia hora de ginástica. A seguir são 40 minutos na bicicleta em que consigo queimar 750 calorias. No fim vou nadar, são 20 a 25 minutos"
Mas já não joga futebol, ou ainda dá uma perninha?
- Só parei há um ano. Decidi isso quando apareceu a pandemia. Aliás, ia todos os dias ao ginásio, mas agora montei tudo em minha casa. Quase não saio. Mesmo quando tenho reuniões com a FIFA, passou a ser em casa, por "Zoom". Quando jogava nem televisão havia, agora reúne-se por "Zoom". Jogava essencialmente no Peru, ia lá uma vez por mês. Era conselheiro do presidente da federação e combinava sempre com os meus amigos de sempre, muitos deles ex-colegas do Alianza Lima e de outros clubes. Jogávamos um 6 contra 6, primeiro no cimento, mais recentemente em relva sintética. Bem, mas a pandemia mudou tudo. Agora, só quero jogar com os meus netos. Eles vêm sempre ver-me. O de 10 anos joga bem e está numa equipa. O de 11 anos gosta mais de futebol americano. O pai dele [genro] jogava futebol americano. Vou sempre ver os dois e fico na primeira fila. Também tenho duas netas, uma joga voleibol, outra é ginasta. Somos uma família de desportistas.