Críticas ao relvado do Marítimo não são recentes: o que disseram Daniel Ramos e José Gomes
Segunda avaliação negativa da Liga ao relvado impede o Marítimo de jogar em casa. Não foi a tempo, contudo, de evitar as queixas do FC Porto. Comissão técnica visita hoje o recinto
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As imagens do Marítimo-FC Porto foram esclarecedoras para a Liga, que deu nota negativa (1,67 numa escala de zero a cinco) ao relvado do Estádio dos Barreiros e o interditou a treinos e jogos.
De acordo com o procedimento definido no Manual de Licenciamento de Competições, o organizador das provas profissionais anunciou, na segunda-feira, em comunicado, a interdição, que surge "depois de o mesmo ter sido pontuado com a segunda nota 2 consecutiva no jogo contra o FC Porto, tal como já havia ocorrido no encontro da primeira jornada entre Marítimo e Braga, tendo [então] sido notificado o clube para o risco de interdição".
O presidente do Marítimo, Carlos Pereira, reagiu com indignação às críticas de Sérgio Conceição ao estado do relvado, após o empate (1-1) na última jornada, embora as péssimas condições tenham sido percetíveis até para quem assistiu ao jogo pela televisão. Depois, no twitter do clube, as críticas da SAD madeirense voltaram-se para o organismo que tutela o futebol profissional, acusado de ter "um peso, duas medidas", com uma lista de outros relvados alegadamente em más condições: o do Municipal de Arouca, o do estádio do Tondela e o do Farense.
Os problemas do relvado do Caldeirão não são novidade. Desde que foi substituído, no verão de 2016, o rol de queixas, e não apenas de treinadores adversários, é vasto. Até mesmo entre os da casa. A 9 de setembro de 2017, Daniel Ramos, técnico maritimista à data, pôs o dedo na ferida: "Há momentos da época em que se tem relvados piores do que o desejável. Também lamento que o relvado esteja mau porque ainda não consigo treinar cá". Duas semanas depois, o Aves apresentou um protesto do jogo nos Barreiros, pelo estado da relva.
Em julho de 2020, outro treinador da casa, José Gomes, lamentou publicamente o estado do tapete. "Tenho dificuldade em perceber porque é que o relvado está no estado em que está. Fui o primeiro a dizer, desde o dia em que cheguei, que prefiro não treinar aqui e ter o relvado em condições para o jogo", afirmou.
Em novembro seguinte foram colocadas novas faixas de relva, mas o efeito não foi duradouro, pois Bruno Pinheiro, treinador do Estoril, em janeiro de 2021, por ocasião de uma eliminatória da Taça de Portugal, declarou-se preocupado com o piso. Tinha razão, porque, em fevereiro, o estádio foi interditado a treinos e o relvado terminou a época 2020/21 com a pior classificação entre os do escalão principal. Especialistas madeirenses têm escrito, na imprensa local, que o problema está no solo, afetado por fungos.
Hoje, o recinto será visitado pela comissão técnica da Liga, que continuará a acompanhar a evolução da condição do relvado. Quando houver melhorias, a interdição será levantada. Na prática, o Marítimo pode nem sequer ser afetado a nível competitivo, visto que o próximo jogo em casa será daqui a três semanas, com o Arouca.
Jamor foi o mais polémico
No final da primeira volta do último campeonato, o FC Porto também protestou contra o estado do relvado do Jamor, casa do Belenenses - que agora está a jogar, temporariamente, em Leiria, devido o mau estado do tapete. O jogo entre azuis terminou, então, com um empate a zero. Nessa altura, já o recinto estava interditado a treinos, desde dezembro, sendo usado apenas para os jogos.
Inconformado, Sérgio Conceição usou a mesma argumentação de domingo: o relvado em mau estado é benéfico para equipas que defendem mais. Os protestos não surtiram efeito e, quatro dias depois, o Jamor recebeu o Belenenses-Vitória de Guimarães e as críticas duríssimas de João Henriques, então treinador dos vimaranenses. Só no dia seguinte o recinto foi interditado pela Liga.
O Estádio Nacional voltou a receber a vistoria da comissão técnica, a 18 de fevereiro, dois dias antes da receção ao Nacional. O parecer foi favorável, mas a jornada nem por isso: o jogo desenrolou-se num relvado encharcado, fruto também da muita chuva da depressão Karim.
O relvado do Jamor continua em obras. O Belenenses disputa em Leiria os três primeiros jogos na condição de visitado.