Costinha nos 20 anos do golo em Old Trafford: "Ainda hoje digo ao meu filho..."
EXCLUSIVO - O Ministro recorda em O JOGO um golo eternizado na memória dos adeptos do FC Porto e que deu asas ao sonho concretizado de vencer a Liga dos Campeões de 2004
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Uns recordam-no pelo festejo de José Mourinho numa correria desenfreada pela linha lateral, outros pela comunhão entre a equipa e uma falange de adeptos em êxtase num cantinho da bancada daquele que viria a ser o Teatro dos Sonhos para o FC Porto. Cumprem-se hoje 20 anos do golo que muitos consideram ter lançado os dragões para a caminhada triunfal na Liga dos Campeões de 2004, apontado a 31 segundos do relógio bater nos 90 minutos, por Costinha. Um momento épico que o antigo médio recorda numa pequena conversa com O JOGO e que coloca no topo da carreira, a par de um outro obtido pela Seleção Nacional, contra a Roménia, no Euro'2000.
Volvidos 20 anos, ainda consegue descrever as sensações do golo que marcou em Old Trafford ao Manchester United?
Bom, as sensações ficarão para sempre, porque é um jogo extremamente importante para a história do FC Porto, não só pela forma como encarámos a eliminatória, mas também pela forma como nos afirmámos em termos europeus, derrotando um dos grandes candidatos à vitória nessa prova, que era o Manchester United. O FC Porto foi uma equipa extremamente competente.
O posicionamento foi estudado?
É verdade que, dentro da história do jogo, quando olhámos para esse lance, está cheio de coisas que passam muito pelas sensações dos jogadores, como o míster [José] Mourinho já teve a oportunidade também de o dizer em algumas entrevistas. Desde o homem que bateu a bola no livre, que foi o Benni [McCarthy], ao afastar o Ricky [Ricardo Fernandes], como eu que deveria estar na barreira e não estava... Quando estava na área e olhei para a altura do [John] O'Shea com o Maniche, percebi que, se calhar, era melhor o Maniche ficar com o Wes Brown e eu ficar com o [John] O'Shea, porque temos quase a mesma altura. Não temos a mesma altura, porque ele é mais alto do que eu, mas, se calhar, poderia, numa bola que caísse ali, em termos de luta, ser mais contundente do que ele [Maniche] com um jogador como o O'Shea. Portanto, naquele momento, a única coisa que me recordo é de ver a bola sair, de ter a perceção de que os jogadores ficam a olhar para ela em vez dos jogadores que têm de marcar e de me conseguir libertar da marcação do O'Shea, contar com aquela defesa do Howard e empurrar a bola para dentro da baliza. Isso, para mim, foi o mais importante, porque deu ao FC Porto a possibilidade de passar mais uma eliminatória.
Portanto, foi algo do momento...
Sim. Hoje em dia é muito comum ouvir-se, se calhar porque que há uma maior liberdade e abertura para a comunicação do que no passado, mas muitos treinadores, em certos momentos do jogo, também deixavam que os jogadores tivessem essa tomada de decisão, porque nós não somos robots, somos humanos, e gostamos, muitas vezes, de dar o nosso “apport” à equipa. Acho que é um bom complemento para o treinador e, naquele caso, penso que foi um complemento espetacular, porque saiu tudo bem, desde a saída da bola do pé do Benni [McCarthy], à recarga, à forma como atacámos a segunda bola, como fizemos o golos e nos qualificámos para os quartos de final.
Quando viu pela primeira vez o golo depois do jogo?
Vi o golo no dia seguinte e fiquei muito feliz, porque o único jogo que não joguei nessa competição foi em casa com o Manchester United e sentia que tinha que dar a minha contribuição. E isso não significava só jogar, porque estávamos a perder. Tinha que ser jogar e tentar fazer algo mais. Se calhar, por isso é que decidi não ir para a barreira, como estava estabelecido, para tapar a visão do Howard, mas para dentro da área. Fiquei muito feliz por isso, porque considero que no primeiro jogo fomos muito superiores à equipa do Manchester United em casa e só conseguimos fazer dois golos, quando devíamos ter feito três, quatro... Ali foi como o meu “apport” à equipa. A forma como os adeptos – parece que estou a ver agora –, naquele cantinho do estádio, se manifestaram o jogo todo e a alegria que tiveram aquando do golo... Foi com eles que fui festejar, porque, efetivamente, são também uma parte importante daquilo que é a história deste clube.
Foi o golo mais importante que marcou?
Os dois golos mais importantes da minha carreira são, seguramente, este e o golo contra a Roménia pela Seleção [Euro'2000], porque esse também permite que tenha uma participação mais ativa na Seleção. Mas, em termos clubísticos, posso dizer que é “o” golo. Ainda hoje muitas vezes digo ao meu filho: “O golo do pai é importante sabes porquê? Porque, no final, o FC Porto conquistou a Liga dos Campeões. Porque já existiram jogadores do FC Porto a marcar golos em Old Trafford e ninguém fala deles.
O diria o Costinha comentador televisivo sobre aquele golo?
O que foi falado, não faria melhor. Portanto, acho que está bem documentado. Foi um lance que, sendo ao minuto que é, é difícil conter as sensações e as emoções, porque há um extravasar de emoção. Ainda para mais é uma equipa portuguesa, como todas as equipas portuguesas devem ser apoiadas nas provas europeias, para bem do nosso futebol. Portanto, acho que tentaria extravasar... Melhor não sei se conseguiria, mas tentar ser igual àquilo que foi a narração do golo.