Numa entrevista exclusiva a O JOGO, o mexicano, um dos mais antigos do plantel, passa em revista os quatro anos de FC Porto e projeta o que resta desta época em que o objetivo, garante, é ganhar tudo.
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Após mais uma sessão de trabalho de preparação do jogo de domingo, com o V. Setúbal, Corona esteve à conversa com O JOGO para falar um pouco da sua carreira no Dragão e também das metas para esta temporada, em que tem surgido mais vezes como lateral, posição que o obriga a redobrar a atenção. Por si, porém, até joga a central, porque quer é estar dentro do campo, onde se sente feliz.
Apesar de estar há quatro anos a jogar em Portugal, ainda não se adaptou ao frio e ontem até se queixou disso. Mas garante que está muito bem no Dragão, razão pela qual renovou contrato em março desde ano. E até já se vê a usar a braçadeira de capitão. Ganhar as quatro provas em que a equipa está inserida é o objetivo e Tecatito, como gosta de ser chamado, garante que o FC Porto tem jogadores para isso. Perder com o Benfica é o que mais lhe custa e espera ainda poder voltar a jogar com Casillas...
Chegou em 2015. Quatro anos depois, contava ainda estar aqui?
-Não imaginava ficar aqui tanto tempo a jogar.
Mas a verdade é que em março até renovou...
-Porque gosto do FC Porto. Estou bem aqui, claro que, como todos os jogadores, gostaria de continuar a crescer futebolisticamente, mas renovei porque achei que essa era a melhor opção.
Sendo dos mais antigos, gostava de ser capitão?
-Penso nisso e gostaria, claro. Mas penso mais no momento e logo se vê.
A última época foi a mais consistente no FC Porto?
-Sim. Foi quando joguei mais e terminei mais jogos.
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Agora, teve de recuar para ter essa sequência de jogos...
-Sim, mas sem qualquer problema. Gosto de jogar, ponto final. Seja em que posição for.
O que é que Sérgio lhe disse para o convencer a deixar o ataque e ir defender?
-Não foi preciso dizer nada. Jogo a extremo, a lateral, a 10, a avançado. Sinto-me feliz é a jogar.
Isso não o pode prejudicar?
-Não sei. Se for para jogar, até pode ser a central, é no campo que me sinto bem.
"Jogo a extremo, a lateral, a 10, a avançado... Se for para jogar, até pode ser a central, é no campo que me sinto bem"
A verdade é que no ano passado tinha quatro golos por esta altura, agora ainda não marcou...
-Já joguei como avançado nesta época e não marquei. Tenho de trabalhar mais e de rematar à baliza.
Recuar um jogador com as suas características não retira capacidade de fogo ao FC Porto?
-Não penso dessa forma. Há outros jogadores no plantel que podem fazer esse trabalho.
Jorge Tello, elemento da seleção mexicana, não vê com positivo que um jogador possa ser utilizado em várias posições...
-Vivo o momento e respeito as opiniões de cada um. Falaram sobre isso, mas eu gosto de jogar seja onde for. Não há qualquer receio da minha parte.
Sente que tem evoluído? Está mais completo?
-Sim, acho que isso me tem ajudado, é verdade.
Sérgio Conceição disse que o Corona dá sempre tudo, o que tem e o que não tem. Como recebe estas palavras do treinador?
-Obviamente fico feliz por ele pensar isso de mim. A verdade é que tento dar sempre qualquer coisa a mais, tento ajudar a equipa.
Nestes anos todos de FC Porto, qual foi a derrota que mais lhe custou?
-Contra o Benfica. Não gosto nada de perder contra o Benfica.
E o seu melhor jogo?
-Talvez o de Braga [2017/18], pelo golo que marquei lá, embora não tivesse acabado o jogo por causa de uns problemas físicos. Mas foi o que mais me agradou.
O que se passou ao certo para ser afastado da seleção?
-Foi a comunicação que não funcionou, nada mais. De uma coisa pequena fez-se uma tempestade.
Ficou a ideia de que não queria ir à seleção, depois o seu representante foi aos Estados Unidos...
-Sim, foi para esclarecer as coisas e ajudou. Depois, conversei com o selecionador sobre isso e ficou tudo bem.
Desta vez não foi convocado por opção?
-Sim, há vários jogadores novos a trabalhar para ir, é normal. Mas continuo a trabalhar e a acreditar em mim.
"Como defesa tenho mais cuidado"
Saravia, Manafá, Mbemba e... Corona. Em comum, o facto de todos já terem sido utilizados por Sérgio Conceição na posição de lateral-direito. Mas é o mexicano que mais minutos soma nessa posição, num recuo no terreno que o próprio treinador do FC Porto "sofreu" nos seus tempos de jogador. Corona não se importa de jogar mais atrás, mas admite que isso lhe exige mais concentração e sente que ainda pode evoluir. O apoio de Casillas tem sido muito importante e o mexicano ainda espera ver o espanhol, a quem se refere como "um dos nossos", voltar às balizas ainda esta temporada.
O que tem o Corona de diferente que os outros não têm?
-Honestamente, não sei...
Mas é muito diferente jogar a extremo e a lateral?
-Claro. Na defesa tens de ter mais cuidado, porque é a última linha da equipa.
É preciso estar mais concentrado?
-Acho que sim, especialmente porque não é a minha posição habitual. Obriga-me a estar mais atento, concordo.
Sérgio Conceição também era extremo e foi obrigado a jogar a lateral e não encarou isso muito bem...
- Sabia que era extremo... Mas eu jogo onde for preciso, onde o treinador me quiser.
Casillas disse que no FC Porto não havia muitos jogadores iguais a si...
-Agradeço-lhe, mas sinto que ainda posso evoluir mais e isso será alcançado com o trabalho do dia a dia.
Por falar em Iker, como é vê-lo de fora a trabalhar todos os dias. É estranho?
-Claro, porque vê-se que tem vontade de jogar, quer treinar e estar connosco. É um dos nossos, está sempre ali e ajuda de várias formas, está sempre disponível e a rir. Ajuda muito.
Acredita que ainda o vai ter na baliza?
- Sim, espero que sim, se for a vontade dele.
"Temos de dar um bocadinho mais"
O Tecatito acredita no grupo e na capacidade que este tem para responder à altura das exigências. O mexicano assume que a eliminação precoce da Champions "custou", mas garante que a equipa está empenhada da mesma forma na Liga Europa e em todas as competições em que o FC Porto se encontra envolvido. Apesar de ter feito um balanço positivo do primeiro terço da campanha, o jogador reconhece que é importante que todos contribuam um pouco mais para elevar o nível. E salienta que, por vezes, o facto de a bola não entrar não significa que tenha faltado empenho. Apontando o exemplo do empate com o Marítimo, Corona explicou que, no exterior, confundem por vezes um momento com o todo, dando a ideia de que a equipa está em crise. Corona defende ainda que o plantel tem conseguido dar respostas, independentemente de quem marca, estendendo a responsabilidade de chegar à baliza contrária a todos os jogadores e não só aos avançados, que passam até uma verdadeira travessia do deserto.
Está concluído o primeiro terço da época. Que balanço faz?
-É um balanço positivo, ainda que tenhamos passado por coisas difíceis, como todas as equipas. Mas soubemos dar sempre o passo seguinte, formando um bom grupo e uma boa família.
A margem para evoluir é grande?
-Sim, acho que sim. Acreditamos muito na forma como funcionamos, na capacidade e na qualidade de cada um de nós, e somos dirigidos por um grande treinador e uma grande pessoa.
Pode dizer-se que a eliminação da Champions contra o Krasnodar foi a maior desilusão até esta altura?
-Sim, como é evidente, queríamos estar na Liga dos Campeões, mas estamos numa competição que também é importante.
No final do empate com o Marítimo disse que a equipa tinha de dar mais. Isso significa o quê?
-Que podíamos ter dado mais nesse jogo? Pode ser que sim. Às vezes tentas dar tudo e a bola não entra, e o empate faz parecer que estás a atravessar um mau momento. Às vezes, isso faz toda a diferença.
Mas é de opinião que a equipa está a jogar bem?
-Acho que a equipa está bem. Temos talvez de dar um bocadinho mais, começando por mim.
A equipa não tem feito uma boa campanha na Liga Europa e o FC Porto está no último lugar do grupo. Isso acontece por demérito próprio ou por mérito dos adversários?
-Creio que um pouco das duas coisas. É óbvio que queremos ganhar todos os jogos, mas não aconteceu. Há que olhar para a frente e esperamos dar a volta à situação.
A motivação é a mesma na Liga Europa?
-Claro. Temos muito prazer em estar a disputar a Liga Europa. Mas é verdade que custou sermos eliminados da Champions.
As contas não estão fáceis. Acredita no apuramento?
-Claro que sim. Estamos aqui para isso, para vencer os dois jogos que faltam e seguir em frente. Mas primeiro temos o jogo de domingo com o V. Setúbal, para a Taça, e é nisso que estamos focados.
Há dias, Sérgio Conceição apontou as saídas de vários jogadores e as grandes mudanças que o grupo tem sofrido para justificar algumas exibições menos conseguidas. Concorda que alguns reforços estão a tardar em afirmar-se?
-Não sei... não entro nessas considerações. Acho que estamos bem e confio plenamente nos meus companheiros.
Jogadores como Marega, Tiquinho e Zé Luís não marcam há já algum tempo. A equipa tem conseguido resolver com outras soluções...
-Toda a equipa trabalha para isso, não só o Marega, o Tiquinho ou o Zé Luís. Tem a ver com toda a equipa.
Mas o FC Porto tem tido dificuldades em marcar. O sistema e as dinâmicas estão bem identificados por todos?
-Talvez, chegaram muitos jogadores. Comigo aconteceu o mesmo, demorou algum tempo. Chega-se ao FC Porto e não se sabe o que é o clube, estás a aprender. Mas não sabes o que significa marcar um golo no Dragão, ou ao Marítimo, na Madeira. Acho que é por aí.
"Ser Porto é nem admitir empatar"
Reconhece que o facto de o FC Porto ter vencido o Benfica na Luz permitiu à equipa aliviar alguma pressão, na ressaca da eliminação da Liga dos Campeões. Na quinta temporada de dragão ao peito e como um dos jogadores mais antigos do plantel, o mexicano está completamente identificado com o clube e aposta num final de temporada cheio de sucesso, com festejos nos Aliados, como manda a tradição portista. Até lá, todos os jogos são para ganhar.
Que significado teve a vitória na Luz, depois de um início mais complicado?
-Significou muito, porque estávamos cabisbaixos e ganhar ao rival, em casa dele, permitiu-nos respirar melhor, ficar com um ar melhor para continuar a trabalhar.
"Ganhar em casa do rival [Benfica] significou muito e permitiu-nos respirar melhor"
À margem desse resultado, fora de casa o FC Porto ainda não mostrou consistência... O que está a faltar?
-Na verdade, não sei. Trabalhamos muito nos treinos, damos tudo nos jogos. Talvez seja falta de alguma sorte, que acaba por fazer a diferença quando a bola não entra.
O Benfica é o único rival do FC Porto na luta pelo título?
-Estamos todos na luta, acho que qualquer um pode chegar lá. É uma final a cada fim de semana. Qualquer um pode ser campeão.
Acredita que vai voltar aos Aliados em maio?
-Espero bem que sim, acredito nisso.
O que é ser Porto?
-Ser Porto é querer ganhar tudo e ter de disputar finais de três em três dias para ganhar. Não nos passa sequer pela cabeça a possibilidade de empatar - é sempre para ganhar. Foi isso que aprendi aqui.
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"A Taça está entalada"
No próximo domingo, o FC Porto volta a disputar a Taça de Portugal, com a receção ao V. Setúbal. A semana começou marcada por várias ausências devido aos compromissos com as seleções, mas o mexicano garante que os que ficaram no Porto têm trabalhado com muito empenho, justificando que a Taça de Portugal é uma competição que o clube quer ganhar a todo o custo, depois de duas temporadas consecutivas perto do triunfo. Na última tentativa, Corona foi um dos protagonistas, pela negativa, acabando expulso no jogo anterior à final, que falhou para cumprir suspensão. A lição está aprendida e o erro assumido, mas, desta vez, todos estão muito focados para estar no Jamor em maio, na festa do futebol português. O desejo estende-se, aliás, à conquista da Taça da Liga, pelo que o que não faltam são desafios aos azuis e brancos. O objetivo "é ganhar tudo", repetiu com insistência.
Estamos em semana de seleções. Como tem sido a preparação do jogo com o V. Setúbal?
-Falta muita gente, mas quem cá ficou está com uma entrega grande. Vejo todos muito motivados.
É uma prova que o Corona e o FC Porto têm entalada...
-Verdade. Por isso é um objetivo a curto prazo que temos. Não só a Taça de Portugal como a Taça da Liga. Temos equipa para ganhar tudo esta época.
Na temporada passada, o Corona foi expulso no jogo anterior [Sporting] e perdeu a final da Taça. Serviu-lhe de lição?
-Sim, claro. Fiquei de fora numa final que perdemos e senti-me muito frustrado por não ter podido ajudar a equipa. Foi um erro que cometi e com o qual aprendi.
"Fiquei de fora numa final que perdemos e senti-me muito frustrado"
Em 2018/19, a equipa esteve em todas as frentes até ao fim, mas na reta final do campeonato terá pago essa fatura fisicamente. Não é arriscado demais assumir a luta por tudo?
-Mas os nossos objetivos são esses: ganhar tudo. Por isso temos de nos preparar ainda melhor para essa reta final.