Contra-ataque deixa Dortmund de rastos: "A defender, é permeável, é uma casa a arder"
Mariano Barreto, campeão europeu em 1997 pelo clube, aponta a mentalidade ofensiva como razão de desequilíbrio. Fernando Meira diz a O JOGO que os alemães são "permeáveis" e que o leão é "favorito"
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O Borússia Dortmund leva 40 golos marcados na época e é reconhecido como uma máquina ofensiva, no entanto esse risco com a bola tem gerado problemas defensivos.
Com 29 tentos sofridos em 19 jogos (média de 1,53 por encontro), os alemães só conseguiram manter a baliza intacta quatro vezes e sentem dificuldades nas transições defensivas: 13, ou seja 44,8% dos tentos sofridos, advêm de contra-ataques dos rivais e as maiores perdas de bola acontecem no corredor central, pois 11 dos 21 golos nasceram de passes no corredor central.
Mariano Barreto, contratado em 1996 para ser preparador quando Paulo Sousa chegou da Juventus, explica a O JOGO esta vertigem. "É uma daquelas equipas que têm na essência uma filosofia de ganhar. Arriscam muito mais, porque a ideia não é ganhar por 1-0. Preferem espetáculo e vencer por dois ou por três golos", diz, lembrando a paixão dos fãs, com os quais festejou a Liga dos Campeões de 1997: "A cidade confunde-se com o clube. Apoiam sempre a equipa e vivem o futebol como poucos."
Fernando Meira esteve sete anos (de 2001 a 2008) em Estugarda e corrobora a ideia de que o Dortmund se desposiciona e que fica em perigo quando perde a bola no seu meio-campo. "Concordo. Já no primeiro jogo, o Sporting teve transições ofensivas. Há espaço entre linhas e falta-lhes velocidade no último reduto. Faltam referências na sua zona central e o Hummels, que dá experiência, não pode jogar contra o Sporting. Eles muitas vezes estão pouco concentrados na saída de bola, tentam inventar e não têm um trinco que dê estabilidade. Sempre foi uma equipa de futebol ofensivo, mas, a defender, este Dortmund é uma casa a arder. É permeável", expressa com propriedade o ex-jogador, que alinhava como central e médio-defensivo.
Apesar de assinalar que o Dortmund "é historicamente forte na Alemanha", Meira aplaude o momento de forma do leão: "O Dortmund é um colosso, mas não terá o Haaland, o seu grande goleador e uma referência mundial no ataque, a par de Benzema e Lewandowski. Neste momento, respeitam o Sporting. Poucos pensavam que depois da goleada contra o Ajax, o Sporting estaria a discutir o apuramento. E, para mim, são favoritos. Está com moral, tem crescido o nível exibicional. O Pedro Gonçalves voltou a ser uma referência ofensiva e o Matheus Nunes e o Palhinha fazem uma dupla fantástica."
"O Sporting tem hipóteses, nota-se que os jogadores acreditam. Têm vencido muitos jogos quando não parecia possível e já ninguém fala em crise no clube e a Direção dá estabilidade", acrescenta Barreto, que saiu há três meses dos ganeses do Asante Kotoko, já depois de experiências em Angola, Etiópia, Rússia, Lituânia, Chipre e Arábia Saudita e muitos anos em Portugal.
Também na bola parada o Dortmund tem mostrado fragilidades, encaixando oito golos, três de canto. O Sporting pode registar que, em caso de cruzamento, deve apontar ao segundo poste: cinco dos nove golos sofridos em centros foram finalizados nessa zona. E, claro, o leão tem de atacar cedo, pois uma vantagem de dois golos dá apuramento milionário, no entanto o Dortmund mais desconcentrado vê-se na segunda parte: tem seis golos encaixados no regresso dos balneários e oito (!) nos últimos 15 minutos de jogo.