Último exercício fechou com lucro de quase 9,5 milhões de euros. Sociedade tem folga para cumprir o fair play financeiro. Saídas de Bueno e Bazoer implicaram gasto adicional
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A SAD do FC Porto entrou no último ano do acordo efetuado com a UEFA, no âmbito das regras impostas pelo Fair Play Financeiro daquele organismo, com uma almofada ligeiramente superior a 22 milhões de euros.
Pagamento de prémios e rescisões aumentaram os custos com pessoal, mas 2018/19 terminou bem acima da linha
Para esta folga muito contribuiu o resultado financeiro consolidado obtido no último exercício contabilístico, que encerrou a 30 de junho, no qual a sociedade azul e branca apresentou um saldo positivo de sensivelmente 9,5 milhões de euros, a que se devem juntar mais 12,8 M€ de gastos que não são contabilizáveis pela UEFA.
Não fosse a saída prematura da Liga dos Campeões, que obrigou a uma revisão do orçamento previsto para esta época (2019/20), e o conforto de Fernando Gomes em relação à obtenção do break-even exigido seria quase total.
"Trouxe um constrangimento de que não estávamos à espera, porque estava incluída uma receita semelhante à do ano anterior, mas que é amortecido pelo bom resultado que obtivemos nas épocas anteriores face ao que tínhamos definido com a UEFA", esclareceu o administrador para o sector financeiro da SAD portista, não negando, porém, que para colmatar este valor será necessário "fazer mais-valias com jogadores até 30 de junho".
A meta até já está estipulada. "O valor consta do novo orçamento, que foi corrigido, e o expectável são mais-valias na ordem dos 65 milhões de euros", esclareceu. Para chegar a esse valor, porém, é preciso encaixar uma verba sem deduções bem superior. A título de exemplo: em 2018/19 as mais-valias foram de 42,7 M€, apesar de Militão e Felipe, por exemplo, terem sido vendidos por 70 M€ (50+20).
FC Porto entrou agora na última época do acordo financeiro com a UEFA
Bueno e Bazoer levaram
ao aumento dos custos
Embora só hoje se vá conhecer ao pormenor as operações financeiras efetuadas entre 1 de julho de 2018 e 30 de junho de 2019, os quase 9,5 M€ de lucro anunciados ontem significam o regresso da SAD do FC Porto ao terreno positivo - a última vez tinha sido em 2014/15 (19,9 milhões). Mesmo com um aumento dos custos na ordem dos 16,8 milhões, os proveitos operacionais, excluindo passes de jogadores, registaram uma subida em flecha, passando dos 105,8 milhões em 2017/18 para os 176,3 em 2018/19.
Este incremento deve-se, fundamentalmente, aos prémios recebidos pela participação na Liga dos Campeões (chegada aos quartos de final) e à entrada em vigor do contrato assinado com a Altice para os direitos de transmissão dos jogos da equipa principal. Já as mais-valias geradas com a venda de jogadores "ficaram-se" nos 42,7 M€, depois de no ano anterior terem atingido os 50 M€.
O crescimento dos custos com o pessoal, que passou dos 78,8 M€ para os 91,6 milhões, foram explicados por Fernando Gomes por três fatores. "A rescisão de contrato de alguns jogadores, como Bueno e Bazoer, que tinham vencimentos pesados; o ajuste do rendimento dos jogadores e da equipa técnica por terem ganho a liga no ano anterior e o pagamento do prémio extra por terem passado à fase seguinte da Liga dos Campeões", enumerou o administrador, vincando que "a base [neste ponto] está nos 78 M€".
As mais-valias alcançadas pelo FC Porto com a transferência de jogadores ao longo da última temporada atingiram os 42,7M€
Redução do ativo e passivo e uma subida do EBITDA
Depois de em 2017/18 ter apresentado um EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de sensivelmente 28 M€, em 2018/19 verificou-se uma subida exponencial desta rubrica, que ajuda a saber quanto é que a SAD está a gerar de caixa com base somente nas atividades operacionais. A verba encontra-se agora nos 73,8 M€, algo que Fernando Gomes classificou de "excelente".
O administrador explicou ainda que o ativo e o passivo registaram quedas de 52,7 e 56 milhões de euros, respetivamente, pelo facto de os dragões terem pago alguns empréstimos durante a última temporada. Além disso, revelou que a SAD procedeu a alguns investimentos, como a renovação da cobertura do Estádio do Dragão, a instalação do novo relvado e a criação da FC Porto TV.
"O expectável em 2019/20 são mais-valias na ordem dos 65 milhões de euros"
Resultado do futebol superior a 12 milhões
Os 9,5 milhões de euros que constam do resultado líquido consolidado dizem respeito a todas as empresas que fazem parte do universo do FC Porto. No que toca apenas ao futebol, o saldo é de 12,8 milhões de euros positivos, em contraste os 32,7 milhões negativos da época anterior.
Valorização feita por baixo ao plantel
O atual plantel do FC Porto está valorizado neste R&C em "apenas" 74,9 milhões de euros, menos 7,6 milhões do que o de 2017/18. A avaliação, contudo, não é a real, uma vez que tem como base o princípio de que o jogador é avaliado pelo preço de custo e que ao longo dos anos de contrato vai perdendo valor.
Merchandising e bilhetes deram mais
Os azuis e brancos fecharam o último exercício com mais 1,2 milhões de euros de receitas em merchandising e bilheteiras do que em 2017/18. O primeiro rendeu 6,6 milhões e o segundo 9,6 milhões.
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Capitais próprios continuam negativos
O FC Porto continua a apresentar capitais próprios negativos. No entanto, verifica-se uma melhoria neste capítulo em relação há um ano. O valor é agora de 34,8 milhões de euros, quando em 2017/18 era de 38,1 milhões.
Investimento nas infraestruturas
O Dragão sofreu algumas transformações na última temporada. Além do relvado, que foi trocado assim que terminou a fase final da Liga das Nações e inaugurado no dia da apresentação do plantel, a cobertura do recinto também sofreu algumas remodelações.
Wi-fi para todos na receção ao Famalicão
O Dragão será o primeiro estádio em Portugal a ter cobertura integral de wi-fi, permitindo que todos os adeptos tenham acesso simultâneo à internet. O teste vai ser feito durante o próximo dia 27 de outubro, na receção ao Famalicão, atual líder do campeonato.