Invasão da Academia por cerca de 40 elementos da Juventude Leonina levou à queda de Bruno de Carvalho, à saída de ídolos do clube e a medidas drásticas que O JOGO explica.
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Um ano passou desde aquele que é, para muitos, um dos dias mais negros da história do Sporting, dando início ao princípio do fim de Bruno de Carvalho como presidente do clube.
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Falhado o objetivo de qualificação para as pré-eliminatórias da Champions na Madeira, frente ao Marítimo, apimentado pela indignação das claques nos Barreiros e no aeroporto, os jogadores concentraram-se na Academia para começar a preparar o último e único objetivo da temporada, a conquista da Taça de Portugal, quando cerca de 40 elementos da Juventude Leonina, a principal claque do clube, entraram pelo portão adentro, chegaram ao balneário e agrediram jogadores e staff técnico.
Quebrou-se uma barreira de confiança e paixão entre quem apoia e é apoiado, vitimados então por portadores de bastões, soqueiras e tochas. Bas Dost ficou com uma ferida aberta na cabeça, foi o rosto da tragédia, mas as marcas na mente e coração dos presentes ainda perduram, contudo foram sendo atenuadas por um conjunto de medidas que O JOGO lhe dá a conhecer por parte da então administração da SAD, liderada por Sousa Cintra - nomeado interinamente para o cargo pela Comissão de Fiscalização que brotou do processo de destituição de Bruno de Carvalho -, e do técnico José Peseiro, que após a tomada de posse de Frederico Varandas (diretor clínico à época e que assistiu a tudo o que se passou) se centrou na recuperação psicológica e desportiva de uma equipa dividida e divorciada do clube e das suas claques/adeptos.
Um balneário novo para retomar a normalidade
Sousa Cintra e José Peseiro sabiam que o regresso dos atletas ao local dos acontecimentos seria penoso - ainda ecoavam na cabeça de quem lá esteve os gritos e os sons dos detetores de fumo -, pelo que o objetivo foi simples: modificar aquele que, para muitos, é um local sagrado, o balneário, e a zona envolvente. O chão, cinza, deu lugar à relva artificial, os cacifos foram mudados e nas paredes, despidas, surgiram as conquistas do futebol, tal como palavras motivadoras - "Esforço" e "Superação" são alguns exemplos. Mas houve mais: para quem não conhece a Academia, quem entrava na zona reservada aos atletas tinha corredores simples, passagens onde foram colocadas imagens de conquistas antigas e recentes, como a primeira Taça da Liga da história do Sporting, que aqueles mesmos jogadores, atingidos por um vulcão de inconsciência, tinham levantado meses antes.
O mandato de cinco anos de Bruno de Carvalho entrou em declínio acentuado a partir desse dia. Foi mortal a frase sobre a invasão: "Foi chato..."
O regresso de Bruno de Carvalho fez tremer tudo
Frederico Varandas já era presidente do Sporting quando, no final de setembro, foi conhecido o derradeiro chumbo à providência cautelar interposta por Bruno de Carvalho que visava anular as deliberações da assembleia destitutiva de 23 de junho. O medo tomou então conta dos jogadores leoninos. O JOGO sabe que muitos deles, principalmente os mais visados pelos adeptos, casos de Bas Dost ou os argentinos Battaglia e Acuña, temiam o regresso do ex-presidente. José Peseiro, que tinha efetuado várias reuniões individuais com os atletas, participou diretamente com Sousa Cintra na construção do melhor plantel possível para atacar a época, e o seu staff voltou a sentir o peso da instabilidade. Os primeiros dias de trabalho tinham sido penosos, jogadores a chegar a conta-gotas, sem vontade de treinar e tão-pouco, quando surgiram as primeiras aparições junto dos adeptos, de agradecer o apoio vindo das bancadas. Apupos, alguns jogos menos conseguidos, geraram divisões: no plantel, houve quem não quisesse sair do meio-campo no momento de aplaudir. Depois, diga-se, as tarjas de contestação a quem tinha rescindido contratos e voltou atrás, aliadas a insultos, acentuaram as clivagens. Frederico Varandas, primeiro, e o tempo ajudaram a sarar algumas das feridas mais dolorosas.
CURTAS SOBRE O ATAQUE
Coates assumiu-se como motivador
Além das reuniões individuais com o treinador José Peseiro e quem o acompanhava, os jogadores efetuaram uma espécie de terapia de grupo entre si. Aí, Coates, um dos que tiveram oportunidade de rescindir mas não quebraram, assumiu o papel de líder.
Os craques tremiam perante os adeptos
Ansiosos, Bas Dost, Battaglia, Acuña e Bruno Fernandes não tiveram tempos fáceis. Sentindo que tinham os adeptos desconfiados, acusaram nos primeiros jogos a incapacidade para render o desejado e a indevida pré-época. Os problemas físicos de Bas Dost resultam da deficiente preparação.
Propostas chegavam todos os dias
Sousa Cintra e José Peseiro fizeram o plantel que entenderam possível, até porque poucos eram os que queriam ficar no Sporting. O JOGO sabe que todos os dias chegavam propostas a Alvalade pelos jogadores, quase todas muito abaixo do valor dos atletas.
Pressão dos agentes de quem ficou
Bas Dost regressou e foi aumentado, com Bruno Fernandes houve comissão paga ao agente, Battaglia melhorou o contrato e Acuña renovou mais tarde, o que incomodou. Os agentes de alguns elementos do plantel que ficaram pediram aumentos e outras regalias.
Taça de Portugal é ponto de honra
Perder a Taça de Portugal com o Aves após o ataque acentuou a carga dramática sobre os atletas. Quem ficou no plantel olha para o duelo com o FC Porto, dia 25, como uma oportunidade de reescrever a história e vencer a prova. É uma questão de honra.
44 arguidos à espera da fase instrutória
As investigações policiais levaram à constituição de 44 arguidos pelo ataque. 37 estão em prisão preventiva e a fase instrutória voltou a ser adiada. Entre estes, há quem tenha acabado cursos na prisão, fruto de autorizações especiais para fazer exames no exterior, mas também quem esteja em depressão.
MOMENTOS
Encapuzados espalharam o terror
Na ressaca da derrota frente ao Marítimo, cerca de meia centena de encapuzados ligados à claque Juventude Leonina invadiram a Academia e agrediram jogadores, elementos da equipa técnica e membros do staff.
Derrota frente ao Aves selou o divórcio
Em fanicos a nível emocional, o Sporting foi derrotado na final da Taça de Portugal pelo Aves, com os jogadores a acabarem em lágrimas e insultados pelos adeptos.
Antes do ataque reinava a simplicidade
As fotografias dos jogadores nos respetivos cacifos eram destaque de um balneário simples, como mostra a foto que junta Márcio Sampaio, William e Bruno César.
Conquistas retiraram carga emocional
Com o intuito de arejar um espaço marcado por feridas profundas, o Sporting optou por assinalar as conquistas do clube para uma reformulação total do balneário.