"Com Vale e Azevedo havia a ideia de se comprar jogadores caríssimos e não se pagavam"
PREMIUM >> Recordando que em 2000 "não havia dinheiro para nada", o antigo dirigente do Benfica, João Carvalho, realça que "havia espectáculo e patrocinadores a aparecer", ao contrário deste momento. "Será um desafio bem superior", diz
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Membro do Conselho Fiscal das Direções de João Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho - vogal com o primeiro, vice e presidente com o segundo -, João Carvalho viveu tempos muito conturbados na Luz. Tendo feito parte do período inicial da reconstrução do Benfica no pós-Vale e Azevedo, com o qual saíra em desacordo, João Carvalho realça a O JOGO que a atual Direção vai ter de ser "criativa e de reinventar-se" no sentido de fazer face à crise gerada pela pandemia da covid-19 e procurar novas fontes de receita. Tudo porque se na altura a situação "era gravíssima" o clube contava com "um mercado em expansão". "Agora não, não há espectáculo e está tudo parado", frisa.
"Havia uma coisa que falta agora: o espetáculo estava montado e havia potencial para a recuperação. Apareceram muitos patrocínios e até o valor dos jogadores sofreu grande inflação. Agora não há mercado"
"Eram tempos de vacas magras no clube, mas com Manuel Vilarinho havia uma coisa que falta agora: o espetáculo estava montado e havia potencial para a recuperação. Apareceram muitos patrocínios e até o valor dos jogadores sofreu grande inflação. Agora não há mercado", sublinha, realçando que por isso "os patrocinadores estão a desaparecer". "Vai começar a haver quebra de contratos ou renegociação em queda", argumenta o ex-dirigente, deixando um alerta: "Os clubes vão ter de pensar de outra forma e redimensionar-se bastante, com cortes ou reduções salariais. O valor dos jogadores vai descer bastante e os clubes de futebol têm de fazer uma reformulação completa. Se os clubes grandes da Europa, muito mais poderosos do que os nossos, e o Sporting já o fez, vai ser o mesmo."
"O valor dos atletas vai descer bastante e os clubes têm de fazer uma reformulação completa"
Realçando que Luís Filipe Vieira e seus pares enfrentam agora - "mesmo com o clube a caminho de uma posição favorável financeiramente" - um "desafio bastante superior" ao que existia no passado, pois "havia espetáculo e fontes de receita a crescer", enquanto agora os clubes "vão sofrer um grande abalo com esta crise, que é um verdadeiro problema", João Carvalho recorda os problemas encarados em 2000, quando Manuel Vilarinho foi eleito para suceder a Vale e Azevedo como presidente. "Não havia dinheiro para nada. No tempo de Vale e Azevedo, havia a ideia de se comprar jogadores caríssimos e não se pagavam. Contratava-se com promessas. Os outros clubes tentavam vender, precisavam de recursos e acreditavam que o dinheiro chegava, mas só com queixas na UEFA se pagava", adianta, explicando, por isso, que "no tempo de Manuel Vilarinho não havia nada de nada". "Não havia dinheiro nem para equipar as casas de banho", atira, declarando que, numa fase inicial, foi com "garantias pessoais que se conseguiu pagar a jogadores, a fornecedores como o Estado ou até a relva e as manutenções".
"Não havia dinheiro nem para equipar as casas de banho"
"Havia bastantes ordenados em atraso. Tínhamos de ter o cuidado para manter os ordenados em dia com os internacionais e estrangeiros para não terem justa causa para rescindir, mas a verdade é que aquando da entrada da direção de Manuel Vilarinho praticamente toda a equipa estava em risco", recorda, explicando que "foi com o dinheiro da constituição da SAD que se conseguiu equilibrar a situação e fazer algo pela equipa de futebol". A finalizar, João Carvalho lembrou que "a constituição da SAD foi a alavanca, mas os patrocinadores foram aparecendo também porque havia espetáculo".