Poveiros viram aprovado dois PER's e podem ambicionar um futuro mais tranquilo para ultrapassar uma grave crise financeira
Corpo do artigo
O Varzim vai colocar uma cobertura na bancada sul do seu estádio, nos primeiros dois meses de 2025, para dar mais conforto aos seus adeptos nos dias de chuva. O anúncio foi feito por Aires Pereira, presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, que irá suportar o custo da obra, durante as cerimónias que assinalaram o 109.º, aniversário do clube, na manhã desta quarta-feira, dia de Natal, data da fundação do emblema poveiro,
No evento que contou a presença de algumas dezenas de associados e de Pedro Soares, em representação da Associação de Futebol do Porto e da Federação Portuguesa de Futebol, foi igualmente revelado que o clube teve finalmente homologados os dois PER’s, vendo agora "uma pequenina luz ao fundo do túnel" no sentido da sua recuperação financeira. "Ainda decorre um prazo para uma possível impugnação, mas vamos crer que não continuarão a fazer o Varzim sofrer para que possamos traçar o futuro do clube com os pés bem assentes no chão. Desde a Comissão Administrativa que começamos a falar verdade e a dizer aos associados qual era a verdadeira situação do clube e o caminho que tínhamos. Quase um ano depois, temos as decisões homologadas para podermos andar para a frente", disse o autarca, lembrando a importância de o clube "não ter deixado entrar um determinado investidor ou suposto investidor" brasileiro, que viu noticiadas ligações a fações criminosas de tráfico de drogas que estariam, alegadamente, a tentar lavar dinheiro no futebol português. "O clube e a própria cidade tinham de se proteger desse tipo de pessoas. Tenho de agradecer, enquanto presidente de Câmara, por terem percebido essa mensagem. Esse é o caminho correto e que nos pode levar, com os pezinhos assentes no chão, para chegarmos a algum sítio", disse Aires Pereira.
O líder do município e elemento do Conselho Varzinista, órgão consultivo do clube, sugeriu que se faça agora "uma discussão profunda para dar passos consolidados" rumo ao futuro. "O Varzim não tem recursos financeiros para continuar a fazer as asneiras, para gastar dinheiro mal gasto e caminhar para a sua não resolução económica porque não voltamos a ter outra oportunidade. O Varzim ainda tem alguns anéis, vai vendê-los, e esperemos que se traduzam em investimentos seguros no caminho que o clube tem de traçar para o seu futuro e a responsabilidade de assegurar que chegue às próximas gerações".
Aires Pereira enfatizou ainda a importância dos adeptos varzinistas que "estão sempre na bancada quer faça chuva quer faça sol", garantindo apoio para a cobertura da bancada sul, à margem da grande remodelação que será feita no estádio de forma faseada. "Muita gente não percebe como é que este clube, na Liga 3, tem uma massa associativa tão motivada que vai a todo o lado e que responsabiliza quem o dirige ,porque não é normal um clube desta dimensão, até pela tragédia que tem passado, continuar a ter um apoio tão grande da cidade para aquilo que é a sua atividade. A propósito disso, e uma vez que os sócios não têm um sítio para ver o jogo quando chove muito, mas também porque não temos dinheiro para fazer uma grande bancada e uma grande cobertura, pedi ao Ricardo um orçamento para cobrirmos a bancada sul sem gastarmos muito dinheiro. Vamos dar uma ajuda para essa cobertura. É uma obra relativamente rápida para que as pessoas tenham um mínimo de conforto até darmos passos no sentido mais efetivo com toda a obra que está projetada, de forma faseada, para que cimentemos o estádio neste local, tal como foi a decisão que os sócios tomaram, e bem, de não querer sair daqui. No início do próximo ano iremos avançar com esse apoio para que, num mês ou dois, possamos executar esta empreitada".
Sobre as hastas públicas que vão decorrer para a venda da antiga sede e do antigo campo de treinos, o presidente da autarquia espera que "apareçam investidores para que possamos caminhar no sentido de o Varzim ter recursos financeiros para fazer face ao futuro".
Com a certeza de que Ricardo Nunes, presidente da Direção, "tem tido uma gestão com os pezinhos no chão", Aires Pereira revelou que tem "acompanhado de perto" a mesma e constata que, "às vezes, é um sufoco". "Ainda por cima, estamos em dezembro e ainda andamos atrás do dinheiro da zona de jogo deste ano, pois são 120 mil euros que fazem muita falta à tesouraria do clube. Mas não tenho dúvidas de que vem, nem que seja até ao último dia do ano porque isto, para um clube que está completamente sufocado, cria inúmeras dificuldades. Desportivamente as coisas não estão a correr mal e todos gostamos que o Varzim ganhe, mas não devemos fazer disso o principal objetivo, nem pôr essa responsabilidade sobre a Direção. Por vezes, quando não contamos é que as coisas correm realmente bem. Quero dar os parabéns ao Ricardo pela coragem da sua equipa ter assumido o desafio. Cabe-nos a nós e às empresas da cidade continuar a apoiar e aos associados continuar a ter paciência", concluiu o autarca.
Já Ricardo Nunes, presidente da Direção do Varzim, deixou uma "mensagem de confiança em relação ao futuro, sem esquecer o que foi o passado e os tempos recentes difíceis que não queremos que se voltem a repetir". "Temos feito das tripas coração para conseguir manter este clube com a cabeça fora da água. Tem sido uma tarefa hercúlea que nos passaram, lembrando que a Comissão Administrativa fez um grande trabalho. O clube poderá começar a navegar por águas muito mais tranquilas. As situações do PER estão completamente resolvidas e, agora sim, o Varzim poderá ter um futuro mais risonho. Este terá de ser um momento de união de todos porque apenas com o varzinismo de todos e a paixão dos adeptos o clube tem sobrevivido às tempestades. Queremos deixar uma mensagem de credibilidade, dizendo que o Varzim está forte e unido e tudo iremos fazer para o colocar no lugar onde merece, mas com os pés bem assentes na terra".
Ivo Maio, em representação da Assembleia Geral, sublinhou que "são 109 anos de história e essa já ninguém nos tira". "Há quem diga que este clube é ingovernável, mas ele teima em resistir”, sublinhou o dirigente, lembrando "o que importa é o futuro, sem nunca esquecer o passado do clube e dignificar a sua história". Muitas das vezes estamos preocupados com os resultados desportivos, mas não podemos esquecer que, num momento de grande fragilidade do Varzim, esta Direção teve a coragem de assumir o barco. O importante, neste momento, é manter este clube de pé e continuar com o caminho de responsabilidade, que tem estar acima de tudo. Estou certo de que esse lema vai continuar”.
Refira-se que após as cerimónias protocolares, os varzinistas deslocaram-se ao cemitério da cidade para homenagear os fundadores e os antigos atletas Quim Rosa e Artur Ferreira, falecidos este ano.