ENTREVISTA - Em dia de clássico, O JOGO falou com Hélder Postiga: o antigo internacional português jogou no FC Porto e no Sporting e conhece bem a filosofia de jogo dos treinadores holandeses. Trabalhou com Co Adriaanse e lembra a preocupação que o técnico tinha com o ataque
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O clássico vai colocar frente a frente dois estilos de jogo muito diferentes. E se o futebol de Sérgio Conceição já está enraizado, o de Marcel Keizer ainda está a impor-se. Hélder Postiga, antigo jogador dos dois clubes, perspetivou o encontro de hoje em declarações a O JOGO. Aliás, além de ex-jogador e comentador, conhece bem os dois tipos de futebol.
Pela experiência que teve com Co Adriaanse, como define a escola holandesa?
-A grande preocupação passa pelo momento ofensivo. Quando Co Adriaanse chegou ao FC Porto notou-se a vontade de construir uma equipa em que a sua força fosse o ataque. Aliás, na altura, implementou uma grande novidade que passava pela utilização de apenas três defesas e a equipa sempre muito balanceada para o ataque.
"Os holandeses têm dificuldades contra rivais competentes"
Vê algumas semelhanças entre o futebol de Co Adriaanse e o de Keizer?
-Nota-se que o treinador do Sporting vai muito na linha dos treinadores holandeses, que colocam as suas equipas a praticar um futebol muito balanceado para o ataque. Mas depois surgem as dificuldades no momento defensivo. E isso nota-se no Sporting, que tem sofrido mais golos do que acontecia com José Peseiro. Isso também nos aconteceu com Co Adriaanse. É um facto que marcávamos muitos golos, mas também sofríamos muitos. Recordo-me do jogo com o Artmedia, da Liga dos Campeões, que não nos correu tão bem precisamente porque quando as equipas adversárias são competentes e descuras os aspetos defensivos acabamos por ter mais dificuldades. Agora, para consumo interno, foi uma grande vitória de Co Adriaanse, porque o FC Porto mostrava poderio ofensivo.
O que pedia Co Adriaanse aos jogadores?
-No trato pessoal, Co Adriaanse, mantinha algum distanciamento, mas tinha as ideias bem definidas e sabia que tipo de jogadores queria para o seu modelo de jogo. Seguia muito aquilo que é a escola holandesa e que passa por colocar cada jogador na sua posição, ou seja, o extremo tinha de ser um jogador rápido, bom no um contra um e que fizesse muitas assistências; o 9 tinha de ser um jogador de área, que atacasse sempre a bola ao primeiro poste. A mim colocava-me como jogador de ligação entre o meio-campo e o avançado.
Como antevê esta luta entre Keizer e Sérgio Conceição?
-São dois treinadores com ideias de jogo diferentes. Aliás, a grande vantagem do FC Porto de Sérgio Conceição é que tem uma ideia sólida de jogo. Foi uma ideia que transitou da época passada. Em contraponto, Keizer está a implementar uma ideia arrojada a meio de uma temporada. Por isso mesmo, hoje em dia estamos a ver um Sporting bipolar, um Sporting que entusiasma e outro sonolento, como aconteceu em Tondela. Já no FC Porto a ideia de jogo é sempre a mesma, variando apenas alguns detalhes consoante o adversário. Por exemplo, para este jogo com o Sporting, Sérgio Conceição pode aplicar o 4x3x3, mas a ideia de jogo mantém-se, com o FC Porto à procura do futebol em profundidade e com um futebol vertical.
Treinadores como Co Adriaanse e Koeman não aguentaram muito em Portugal. Tem alguma explicação para isso?
-Posso falar do caso de Co Adriaanse, porque trabalhei com ele, e não foi por uma questão de adaptação, foi por incompatibilidade com o clube. Profissionalmente, achei Co Adriaanse muito competente, mas tinha uma forma de ser e de estar complicada.