Os miúdos ao comando são cenário que os jogos virtuais já previam. Mas e na realidade, o que os diferencia?
Corpo do artigo
Dois miúdos ao comando das defesas de Benfica e FC Porto é cenário que só o "Football Manager 2019" conseguiu antever. Rúben Dias e Éder Militão são promessas reais, mas os scouts virtuais andam um passo à frente dos scouts de verdade.
Já há algumas edições do mítico jogo simulador de treinadores que se ia percebendo que os agora indispensáveis centrais de Benfica e FC Porto estariam na alta-roda em breve. Na edição 2018/19, Rúben e Militão são mesmo, a par de João Félix, os únicos jogadores do campeonato português com o "potencial máximo de desenvolvimento", que, na prática, é um algoritmo que garante, no jogo, que os dois podem atingir o topo do futebol mundial. Ao que parece, por cá, do lado real do futebol, também é assim.
Rúben Dias tem 21 anos e é, na ausência de Jardel, figura incontornável e indispensável na defesa do Benfica. Um ano mais novo, Éder Militão assumiu protagonismo no FC Porto por ter sido o único reforço da era Sérgio Conceição que se assumiu de imediato e do qual já ninguém duvida. A estreia na seleção brasileira e na Champions multiplicou por dez o seu valor: o FC Porto pagou quatro milhões ao São Paulo e vários empresários de elite acreditam que, no mínimo, ele já vale 40 milhões. Entre os dois, é o portista que parte um passo à frente para o jogo de domingo. Foi também com base no simulador de futebol mais conhecido do mundo que escolhemos 14 parâmetros para avaliar os dois jogadores. E como o Benfica-FC Porto tem sido nos últimos anos o clássico mais apetecível do futebol português, ninguém melhor do que o próprio futebol português para avaliar os dois miúdos que mandam nos respetivos sectores. E isso implicou questionar 18 centrais ou ex-centrais (um por cada equipa da I Liga) a propósito do tema, traçar médias e, no final, fazer a comparação.
Éder Militão teve, contas absolutas, notas um pouco superiores. Mas porquê? Acima de tudo, é mais amplo nas suas competências do que Rúben Dias, um central muito mais vocacionado para a dimensão física do jogo. O portista é mais rápido, mais evoluído tecnicamente e melhor nos aspetos relacionados com o posicionamento e o usufruto dele para recuperar bolas. Rúben impõe-se na marcação e terá o espírito de líder já mais desenvolvido, acreditam os 18 pares inquiridos. Éder, por ser mais novo e só agora ter chegado, vai precisar de alguns meses para vincar a personalidade da mesma forma que o benfiquista. E o facto de jogar ao lado de Felipe, com traços muito fortes de personalidade, também o apaga um pouco a esse nível.
A idade tenra evita que algum tenha notas acima dos oito valores em média, embora o defesa do FC Porto tenha ficado muito próximo no item relativo à velocidade e o benfiquista na agressividade. Todos acreditam que os dois são produtos ainda inacabados, apesar de já serem indiscutíveis nas respetivas equipas. Rúben Dias foi o único a conseguir três notas dez, mas também o que conseguiu a pior pontuação parcial: três pontos do drible, votou Pica. Em resumo, um jogador de mais altos e baixos do que Militão, aparentemente mais homogéneo e ligeiramente superior ao rival.
O valor dos centrais do clássico
Perder Rúben é uma dor de cabeça maior
Na sequência das notas, colocámos outra pergunta aos especialistas do eixo da defesa: entre Rúben Dias e Éder Militão, qual é o mais imprescindível e porquê? Aqui, a tendência foi esmagadora: 12 dos 16 que aceitaram responder a esta pergunta apontaram Rúben Dias como o jogador cuja eventual ausência conferiria maior impacto à respetiva equipa. Já no entender de André Vilas Boas, Pica e Jorge Andrade, o internacional português é tão imprescindível no Benfica como o internacional brasileiro no FC Porto, e apenas Ávalos se inclina para o portista.
Os motivos para esta discrepância não se prendem tanto com a qualidade de um ou de outro, até porque já vimos que pouca os separa, mas com o contexto que se verifica na equipa orientada por Rui Vitória. "O Rúben Dias é mais imprescindível, não só pela lesão do Jardel, mas também pelo fim da carreira do Luisão", aponta Marco Almeida, antigo central do Sporting, enquanto Paulo Jorge, ex-Braga, afirma que, no Benfica, "não há outro jogador com a liderança, agressividade e segurança que transmite aos companheiros". Por outro lado, Tonel, ex-Feirense, sublinha que "o Diogo Leite começou a época a titular e esteve em bom plano", para sustentar que "é mais fácil substituir o Militão do que o Rúben". Por contraponto, Jorge Andrade lembra que Militão "veio ocupar o lugar do Marcano" e que "tem a vantagem de jogar a lateral".
Não obstante, é legítimo afirmar que todos concordam com Vilas Boas: "O Rúben e o Militão têm um grande peso no sucesso das equipas que representam." E não é à toa que neste momento é deles que mais se fala.