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A derrota no clássico frente de sexta-feira, por 2-1, veio confirmar um padrão que já dura há quatro anos: o FC Porto não cede no Estádio da Luz.
É o quarto jogo em que os encarnados recebem os dragões e não conseguem vencer, com um empate a uma bola (em 2020/21) e três derrotas (em 2019/20, 2021/22 e 2022/23).
O nosso jornal foi tentar perceber como é que ex-jogadores e ex-dirigentes olham para este registo negativo e que explicações podem estar por detrás destes resultados, que demonstram um bloqueio encarnado quando têm os dragões como adversários, neste caso concreto na liderança do campeonato e com mais dez pontos.
António Pacheco, antigo jogador encarnado (de 1987 a 1993), considera que os atletas já sobem ao relvado com diferentes motivações: "Dá-me ideia, e não é de agora, não tem a ver especificamente com a era do Sérgio Conceição, mas dá-me a ideia que o FC Porto gosta de jogar com o Benfica, mas o Benfica não gosta de jogar com o FC Porto. Ou seja, o FC Porto motiva-se imenso a jogar contra o Benfica, e o Benfica joga sempre algo receoso contra o FC Porto e isso é uma questão mental, não diria um bloqueio, mas um impedimento. Acho que isso tem de ser melhor trabalhado por quem está na estrutura, neste caso por quem faz parte das equipas técnicas ao longo destes anos. Acho que é um assunto que merecia maior atenção".
A mesma opinião tem José Manuel Capristano, antigo dirigente, que admite que a equipa já pode estar condicionada antes do apito inicial. "Psicologicamente, os jogadores são capazes de sentir a força da tradição, mas também é verdade que o staff tinha a obrigação de lhes incutir a ideia de que não há justificações para jogar com o PSG e com a Juventus de uma forma e, depois, com o FC Porto não o conseguirem. Se calhar, Sérgio Conceição estudou melhor a equipa do que Schmidt estudou o FC Porto, já que o jogo foi tão desapontante", analisou o antigo dirigente.
Já para Álvaro Magalhães, jogador das águias de 1981 a 1989 e treinador-adjunto (2003 a 2005), a confiança com que os azuis e brancos encaram o clássico pode estar a ser determinante para o resultado final: "O FC Porto, tradicionalmente, tem tido resultados positivos e isso acalenta uma predisposição diferente quando vai jogar à Luz. Sentem-se confortáveis e confiantes de que podem ganhar mais uma vez". O antigo defesa reconheceu ainda a qualidade da desempenho do adversário. "Foi um jogo menos conseguido do Benfica, mas tem de se dar mérito ao FC Porto, porque preparou a equipa de forma a chegar à Luz e conseguir anular os pontos fortes do Benfica e demonstrou isso ao longo dos 90"", concluiu, uma posição igualmente sublinhada por Capristano: "O jogo de ontem é merecedor de uma análise sensata, dizendo que o FC Porto jogou bem melhor que o Benfica, dominou e, por isso, outro qualquer resultado seria injusto." Por outro lado, António Pacheco estranhou a forma como a equipa de Schmidt não conseguiu segurar o resultado: "Para mim, o mais grave é que o FC Porto colocou-se junto à área do Benfica logo nos primeiros segundos e a equipa não foi capaz de inverter essa situação, quando tinha todas as condições para o fazer. Mais estranho ainda, na primeira vez que vai lá a frente, consegue fazer golo e não conseguiu um ponto final na suposta desorganização posicional de ocupação dos espaços em campo."
O campeonato "não está em risco"
Num ponto os três benfiquistas concordam, mesmo com a derrota de anteontem na Luz e com a vantagem na liderança reduzida, as águias têm todas as condições para vencer o campeonato.
"Como disse, a questão é contra o FC Porto... com as outras equipas isso não se coloca e acho que o Benfica ainda tem uma vantagem substancial que vai conseguir gerir", refletiu António Pacheco, apoiado pelas palavras de Álvaro Magalhães: "Não creio que o campeonato esteja em risco, a pontuação é confortável. No futebol há sempre surpresas, porque há equipas que precisam de pontos para a permanência, outras para cumprir os objetivos e chegar à Europa e podem surpreender. Mas só depende do Benfica e acho que não vai deixar fugir o campeonato". Já o ex-dirigente encarnado espera uma resposta da em campo já no próximo jogo da Liga dos Campeões: "Os níveis de confiança podem baixar, mas espero bem que a estrutura faça já com que terça-feira, no jogo com o Inter, seja dada a resposta e o Benfica volte ao seu lugar".
Inquérito
1 Considera que existe um "bloqueio" do Benfica nos jogos, em casa, frente ao FC Porto?
2 Com esta derrota, a equipa pode desmoralizar e haver um quebra que coloque o campeonato em risco?
"FC Porto gosta de jogar com o Benfica, ao contrário não"
1 Dá-me ideia, e não é de agora, não tem a ver especificamente com a era do Sérgio Conceição, mas dá-me a ideia que o FC Porto gosta de jogar com o Benfica, mas o Benfica não gosta de jogar com o FC Porto. Ou seja, o FC Porto motiva-se imenso a jogar contra o Benfica, e o Benfica joga sempre algo receoso contra o FC Porto e isso é uma questão mental, não diria um bloqueio, mas um impedimento. Acho que isso tem de ser melhor trabalhado por quem está no Benfica.
2 Acho que não, porque acho que, como disse, a questão é contra o FC Porto, com as outras equipas isso não se coloca e acho que o Benfica ainda tem uma vantagem substancial que vai conseguir gerir.
António Pacheco
Antigo jogador
"Não acredito que o campeonato esteja em risco"
1 Penso que não, acho que o FC Porto, tradicionalmente, tem tido resultados positivos e isso acalenta uma predisposição diferente quando vai jogar à Luz. Sentem-se confortáveis e confiantes de que podem ganhar outra vez. Foi um jogo menos conseguido do Benfica, mas tem de se dar mérito ao FC Porto, porque preparou a equipa de forma a chegar à Luz e conseguir anular os pontos fortes do Benfica e demonstrou isso ao longo dos 90".
2 Não creio que o campeonato esteja em risco, a pontuação é confortável. No futebol há sempre surpresas, porque há equipas que precisam de pontos para a permanência, outras para cumprir os objetivos, chegar à Europa e podem surpreender. Mas só depende do Benfica.
Álvaro Magalhães
Antigo jogador
"Se calhar Conceição estudou melhor a equipa do Benfica"
1 Psicologicamente, os jogadores são capazes de sentir a força da tradição, mas também é verdade que o o staff tinha a obrigação de incutir nos jogadores a ideia de que não há justificações para jogar com o PSG e com a Juventus de uma forma e depois com o FC Porto não o conseguirem. Se calhar, Sérgio Conceição estudou melhor a equipa do que Schmidt estudou o FC Porto.
2 Os níveis de confiança podem baixar, mas espero bem que a estrutura do Benfica faça já com que terça-feira, no jogo com o Inter, seja dada a resposta e o Benfica volte ao seu lugar. Nunca vi ninguém no Benfica dizer que o campeonato estava ganho. No fim é que se fazem as contas e às vezes há surpresas, mas nada está garantido.
José Manuel Capristano
Antigo dirigente