Clássico: a postura do FC Porto, o lugar de Matheus Reis e a chave da eliminatória
José Manuel Ribeiro, João Ricardo Pateiro e Luís Freitas Lobo respondem a algumas questões em torno do clássico desta quinta-feira, da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal.
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1 De que forma o resultado da primeira mão pode influenciar os onzes de Sérgio Conceição e Rúben Amorim?
José Manuel Ribeiro
-É raro que Sérgio Conceição faça a equipa para tentar tirar partido do resultado, sobretudo nas provas internas. Poderá fazê-lo a pensar no perfil do Sporting. Também acredito que, para Amorim, pese mais o jogo do que o resultado, em especial a forma como o FC Porto conseguiu anular Matheus Nunes. Conjugada com o dérbi de domingo, essa necessidade pode levar a uma alteração, algures entre o meio-campo e o ataque (talvez Edwards, talvez um recuo de Pedro Gonçalves).
João Ricardo Pateiro
-Penso que não terá grande influência! As equipas não seriam muito diferentes se o resultado tivesse sido outro na primeira mão. Eventualmente, se o Sporting tivesse ganho, Sérgio Conceição poderia jogar com Evanilson e Taremi em simultâneo no ataque. Depois de ganhar 1-2 em Alvalade acredito que apenas um dos avançados será titular.
Luís Freitas Lobo
-Penso que só poderá influenciar, em termos estratégicos, o de Amorim. A obrigatoriedade de ganhar impede qualquer opção mais conservadora em termos de reforço da organização defensiva. A equipa terá de respeitar o seu mais forte padrão táctico ofensivo habitual. Um dos pontos onde isso se poderá notar é na opção do central pela esquerda, que, na gestão defensiva do resultado, seria um central de raiz, mas que, na necessidade de ganhar, deverá ser um lateral puxado para dentro para dar essencialmente melhor saída de bola para o ataque.
2 Face à vantagem na eliminatória é de esperar de início um FC Porto agressivo ao estilo do clássico no Dragão para a liga ou mais cauteloso como sucedeu em Alvalade para a Taça?
José Manuel Ribeiro
-Cauteloso e descontraído seria o indicado, até pelos embaraços recentes do Sporting com um Benfica desse género, mas Sérgio Conceição é imprevisível e joga em casa. Será agressivo no meio-campo, isso sem qualquer dúvida. O FC Porto não costuma ter os desequilíbrios do Benfica, por um lado, nem armas tão boas para contra-atacar, embora a ideia de Coates e, eventualmente, Neto um pouco adiantados seja sedutora. Taremi tem boa memória de Coates, pelo Rio Ave.
João Ricardo Pateiro
-O FC Porto não consegue jogar em bloco baixo nas competições domésticas, muito menos quando joga em casa. Jogar na expectativa não faz parte do ADN do FC Porto de Sérgio Conceição. Se o jogo fosse em Alvalade admitiria a possibilidade do FC Porto se apresentar num bloco médio. No Dragão não acredito que isso possa acontecer. E também não vejo que a forma de jogar do Sporting consiga empurrar os dragões para trás.
Luís Freitas Lobo
-Espero um FC Porto dentro do seu modelo habitual em termos ofensivos mas com necessárias atenções à transição defensiva para evitar saídas rápidas do Sporting (em contra-ataque ou na busca da profundidade). Tal implica definição de zonas de pressão colectivas mais em função do adversário e o evitar de jogos de pares na organização defensiva para evitar exposição ao um-para-um. Fechar melhor os flancos é fundamental em face da forma do Sporting atacar por fora, obrigando os laterais portistas a serem mais defesas em muitos momentos do jogo.
3 Esta época o Sporting ainda não ganhou ao FC Porto, mas esteve em vantagem nos três embates anteriores. Que explicações encontra? Demérito dos leões ou mérito dos dragões?
José Manuel Ribeiro
-Cada um desses três jogos tem uma explicação diferente. Por regra, a proposta de jogo do Sporting tira partido do risco que o FC Porto, por regra, assume. No último clássico não foi tanto assim, mas o FC Porto tende a expor-se mais e o Sporting, baixo no campo, defende muito bem, com as particularidades da linha de cinco defesas. O Benfica impediu-o de jogar dessa forma (vindo de quatro "sessões de treino" na Liga dos Campeões); para o FC Porto, seria uma inversão muito radical.
João Ricardo Pateiro
-É o melhor trabalho de Sérgio Conceição em cinco anos no Dragão... e isso explica quase tudo! É um Porto Vintage. O Sporting tem feito uma boa época. Em condições normais até deveria dar para ser campeão nacional, mas o FC Porto ainda consegue ser melhor, tem sido sensacional. É um bocado a história do antigo treinador, Joaquim Meirim, que dizia ter o melhor guarda-redes da Europa... e ficava no banco de suplentes!... Porque o titular era o melhor do mundo.
Luís Freitas Lobo
-Um jogo tem sempre dois factores. O jogo do campeonato foi muito diferente do da Taça, até pelas incidências verificadas num e noutro que condicionaram muito a forma de jogar (ou melhor, reagir ao jogo) das equipas, sobretudo o Sporting em inferioridade numérica quando ganhava no Dragão no campeonato. Mesmo assim penso que o mais relevante foi o mérito do FC Porto e sua capacidade coletiva e individual em ambos os jogos. Na capacidade de atacar e perceber a melhor forma de o fazer nos momentos decisivos em que tinha de reagir e reverter a tendência do jogo.
4 No Sporting, Matheus Reis regressa após castigo na Liga, onde deverá jogar: central ou lateral esquerdo?
José Manuel Ribeiro
-Lateral. O Sporting precisa do resultado. O que vimos no dérbi foi uma equipa caída para a direita, de Pedro Porro, sem equivalente no outro extremo. Por outro lado, o flanco direito tende a ser o mais trabalhoso. Será um corredor de combate, à medida do Matheus Reis, mas nem precisamos de meter tática nisto: Amorim não pode prescindir de um jogador com aquele nervo.
João Ricardo Pateiro
-Penso que Matheus Reis deverá jogar a central pela esquerda, passando Gonçalo Inácio para o lado direito, com Coates ao meio, saindo Neto do onze inicial. Pedro Porro e Nuno Santos deverão manter-se nas laterais.
Luís Freitas Lobo
-Esta é uma pergunta que remete para a primeira resposta onde a opção fica determinada pela necessidade de como jogar em face da necessidade de virar o resultado. Nesse sentido, vejo Matheus Reis a central pela esquerda e Nuno Santos a fazer toda a faixa, dentro do sistema de jogo habitual do Sporting de Amorim.
5 Em que sector poderá estar a chave do encontro e eliminatória? Porquê?
José Manuel Ribeiro
-Quase sempre é o meio-campo. Em Alvalade, o FC Porto teve Uribe e o Sporting teve Ugarte, em vez de Palhinha. Agora, Uribe está, pelo menos, em dúvida e Ugarte cresceu. São circunstâncias diferentes. Acredito que se decida pelas nuances: o posicionamento de Otávio, a vagabundagem de Fábio Vieira, o acrescento de um eletrão livre (Edwards, Pedro Gonçalves, Daniel Bragança) que emule, no Sporting, a assimetria do FC Porto...
João Ricardo Pateiro
-No miolo do campo está quase sempre a chave! Ou, pelo menos, é lá que está o motor. Acredito que jogará, de leão ao peito, Ugarte e Matheus Nunes. E com o Dragão no emblema Grujic e Vitinha. Seria muito bom para o FC Porto se Uribe pudesse ir a jogo, mas tenho muitas dúvidas que esteja em condições. Penso ainda que a magia de jogadores como Fábio Vieira, Vitinha e Otávio pode fazer estragos numa defesa do Sporting que não está fiável, à excepção de Porro e Matheus Reis.
Luís Freitas Lobo
-Neste caso, olhando o poder ofensivo das duas equipas e, dentro disso, as exibições nos últimos jogos, diria que na defesa. Só defendendo bem qualquer equipa poderá ter hipótese de ganhar o jogo (isto é, proteger o que o ataque irá, pelo talento natural existente nas duas equipas, conseguir). O FC Porto tem defendido melhor nesta segunda metade da época. Nesse sentido, penso que é esse o grande desafio que se coloca ao modelo e estratégia de Amorim para este jogo: defender bem para atacar melhor e ganhar.
6 O dérbi deu sinais a Amorim de que há jogadores outrora importantes num mau momento. Palhinha e Pote devem ser substituídos no onze?
José Manuel Ribeiro
-Esquecemo-nos de que Pedro Gonçalves é médio. Há sempre a hipótese de o fazer render noutra posição. Palhinha está a perder a luta com Ugarte, que é mais completo e atira o jogo do Sporting para patamares mais altos. E também não há um Darwin que justifique os cuidados de Amorim, mesmo que, a perder 2-1, esses cuidados fossem a prioridade.
João Ricardo Pateiro
-Se eu estivesse no lugar de Rúben Amorim retiraria Palhinha e Pedro Gonçalves... E entraria de início com Ugarte e Marcus Edwards. Ugarte tem uma amplitude de jogo, raio de acção, completamente diferente de Palhinha. Para além de "tratar" melhor a bola! E Pedro Gonçalves não está em boa forma. Acontece aos melhores jogadores. Neste momento, Marcus Edwards dá mais garantias de poder desequilibrar.
Luís Freitas Lobo
-Em relação a Palhinha, a opção é pelas características em contraste com as de Ugarte, um jogador com maior capacidade de saída de bola em construção, mantendo o sentido posicional defensivo. É verdade que Pote não está no mesmo nível da época passada mas a sua capacidade de resolver é potencialmente superior à de Edwards. Os grandes jogos são para os grandes jogadores e este é um dos casos em que essa combinação implica meter Pedro Gonçalves.