"Chorei sim! E foram muitas lágrimas, não tanto por não poder jogar, mas sim pelas dores"
A vontade de regressar à competição norteia os passos de um dos mais categorizados avançados que já pisaram os nossos relvados. Agora de volta e em Portimão, quer voltar a ser feliz.
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A lesão, o calvário, o regresso, os golos, o FC Porto, o Portimonense, a família, Falcao e até a música - o colombiano confessou-se a O JOGO cerca de uma semana depois de voltar ao futebol português e, entre certezas e algumas dúvidas, dá conta de uma força quase sobrenatural que caracteriza os campeões.
Chegou a chorar?
-Chorar? Sim, claro! Chorei sim! E foram muitas lágrimas, e muitas vezes, não tanto por não poder jogar, mas sim pelas dores. Dava o melhor, procurava superar-me, mas, sem dúvida, os momentos mais difíceis, em que chorei, foram aqueles em que as dores não me largavam. Nem com os medicamentos. Nada me acalmava, passei momentos realmente dolorosos.
A lesão no tornozelo esquerdo deixou-o mais de ano e meio sem jogar. É mesmo muito tempo...
-Tenho o mesmo compromisso e uma mentalidade forte. Houve alguns momentos em que quase desanimava, mas depois recuperava o ânimo e voltava a lutar por uma oportunidade, que, felizmente, surgiu agora.
Acredita que pode voltar à ribalta?
-Tudo tem o seu tempo. Quem sofre lesões no trabalho sabe o que tem de passar. A carreira de futebolista é muito bonita, deu-me oportunidade de crescer, de fortalecer a vida, e agora, também, de interiorizar algumas coisas. Estou sempre grato a Deus, pelas oportunidades que me tem dado. Estar lesionado foi um tempo duro, mas, ao invés, outra área da minha vida foi fortalecida. Passei mais tempo com os filhos, com a família, algo que valorizei muito. Foi uma pausa que serviu para veres outras coisas, outras realidades, saber com quem contas, nas boas e nas más horas. Importante é saber que não sou o único a passar por estes problemas e é fundamental seguir em frente, com saúde e mais motivos para agradecer a Deus.
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O que têm dito de si na Colômbia? Asprilla considerou que não voltaria a ser o mesmo Jackson do FC Porto...
-Obviamente, sabes que a tua lesão é complicada e num futebolista deixa sequelas complicadas. Voltar a ser o mesmo do FC Porto não é algo que esteja na minha mente. Quero ser jogador de novo, mas não, obrigatoriamente, o Jackson do FC Porto. Desejo é sentir-me melhor, é essa a minha ambição, treinar cada dia mais e melhor. Isso será excelente. Não penso de outra maneira e o Fausto Asprilla sabe bem o que é uma lesão destas, tipo crónica, mas não posso confirmar em que contexto é que ele proferiu essas declarações ou se foi isso que ele disse na realidade.
Quer comentar o exemplo de Falcao, que voltou a ser destaque depois de muitos o darem como acabado, devido a grave lesão no joelho esquerdo?
-Aproveito para dizer duas coisas: quando ele se lesionou, muitos duvidavam da sua recuperação como futebolista. É fácil dar uma opinião... e até diziam que "já não podes caminhar". Mas, quando ultrapassas tudo isso, sabes o que dizem? Levantou-se e caminhou! É o aproveitamento do momento para darem uma opinião de algo que não sabem como vai terminar. Ele levantou-se e voltou a ser o Falcao que todos conhecemos, triunfou mais uma vez. Trocámos muitas mensagens, falámos bastante, num momento em que aquilo de que mais precisas é de ânimo, de gente ao teu lado, que diga que te vais levantar. Alegrou-me muito o regresso do Falcao à seleção, o ter voltado a atuar num Mundial [o de 2018], inclusive porque tinha falhado o de 2014 devido à lesão. Desejo-lhe, obviamente, o melhor.
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ESPOSA ATÉ PERDEU O GOSTO PELO FUTEBOL
Enquanto espera pela chegada da família a Portimão, o jogador colombiano dá conta das preocupações da sua mulher, que o acompanhou de perto, e a sofrer, durante o último ano e meio, nos momentos de enorme calvário, face à grave lesão no tornozelo esquerdo.
A sua família já está em Portimão?
-A minha família ainda não chegou. Primeiro, estou a tratar de encontrar casa e essas coisas relacionadas com a mudança e com a nossa instalação. Filhos? Tenho dois, um menino e uma menina.
Aceitaram bem a mudança?
-A minha esposa, depois da lesão, perdeu um pouco o interesse que tinha pelo futebol. Gostava de ver os jogos, inclusive pela televisão, mas agora a preocupação dela é o meu pé. Independentemente do lugar onde estamos, pensa em mim e na recuperação, no desejo que tenho de voltar à competição. Ela sabe bem o que passei e o que sofri, porque, obviamente, esteve sempre ao meu lado e isso foi muito importante para mim.
"NUNCA NINGUÉM DO SPORTING FALOU COMIGO"
A notícia - dada por O JOGO - que surpreendeu meio mundo veio mesmo a concretizar-se. Agora, o craque colombiano até confessa que a organização do seu novo emblema o deixou admirado.
Como é que António Folha o abordou para ingressar no Portimonense?
-Tive a oportunidade de falar com ele quase no fecho da janela do mercado das transferências. Tinha outras opções, outros clubes manifestaram algum interesse, mas precisava de um lugar onde me sentisse confiante e soubesse que, pouco a pouco, podia recuperar e jogar. Estou há muito tempo sem competir e o Portimonense foi determinante neste processo. Depois, o Folha sabe o que posso dar à equipa e sabe que, se eu disser que tenho dores, é porque é mesmo verdade.
Houve outros clubes interessados?
-Sim, havia outros clubes interessados, fizeram algumas perguntas, e o próprio Guangzhou Evergrande, na China, estava à espera que eu recuperasse. Foram vendo a minha evolução, mas o treinador decidiu não me inscrever porque precisava de espaço para outro estrangeiro que estivesse bem. Já treinava, mas evoluir em competição, naturalmente, é muito melhor.
O Sporting falou consigo?
-Pessoalmente, não falei com ninguém do Sporting. Ouvi notícias, sei que saíram algumas sobre esse eventual interesse, mas não entraram em contacto comigo, nunca houve um contacto oficial.
Conhecer Folha e a liga portuguesa foram então determinantes para optar pelo Portimonense?
-Totalmente. Conhecer o treinador e ele conhecer-me a mim foi um fator determinante e ainda mais importante do que conhecer a liga portuguesa.
O que lhe parece este Portimonense?
-O Portimonense é um clube que trabalha com o que tem, como todos, mas tem bons recursos, contrata jogadores para potenciar e cria boas equipas. É um clube organizado, com uma boa estrutura, o que até me surpreendeu um pouco, já que está há pouco tempo na I Liga. A parte administrativa funciona, cada jogador é bem tratado e acompanhado, e o presidente, pelo pouco que conheço dele, porque cheguei há pouco mais de uma semana, está completamente por dentro de todas as situações.
Conhecia alguns jogadores?
-Conhecia o japonês [Nakajima] e também o Paulinho, já os tinha visto jogar. Os outros companheiros só pelos resumos que vi dos dois últimos jogos.
Eles olham para o Jackson como um craque...
- Quando um companheiro tem um apreço grande pelo que já fizeste na tua carreira... talvez seja isso. E talvez tenham ficado surpreendidos pela minha maneira de ser. É normal um certo tipo de reconhecimento quando chega um jogador novo a um clube, mas o que mais importa é a atitude, o dar cem por cento e o ajudar. Mais do que o estatuto, é isso. E eu vou retribuir.