"Chorámos muito, foram meses horríveis. Como posso pedir segurança quando matam por uma mochila?"
A mulher de Di María até já tinha decorado a casa em Rosário e matriculado as filhas na escola, mas as ameaças à família ultrapassaram os limites e o jogador voltou atrás, cancelou a ida para o Rosário Central e comprometeu-se com o Benfica
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Em entrevista ao jornalista Juan Pedro Aleart, do meio argentino Rosario3, Ángel Di María falou finalmente dos momentos de pânico que a sua família viveu devido às ameaças que levaram a que abandonasse a ideia de voltar ao Rosario central, acabando por comprometer-se por mais um ano com o Benfica.
"Não foi algo financeiro ou desportivo, foi mais do que isso, foram ameaças à minha família que ultrapassaram tudo. Só o facto de ver o nome da minha filha num cartaz e de, numa caixa, terem enviado o que enviaram, foi mais do que qualquer coisa que eu pudesse fazer. Foram meses horríveis. Onde só pensámos e chorámos todas as noites por não conseguirmos realizar o sonho", explicou.
Di María chegou a atacar os que não queriam que voltasse e voltou a atacar: "Porque é que não vão contra aqueles que ameaçam, porque é que não melhoram a cidade para que todos possamos ser felizes e viver em paz? Vocês são todos muito corajosos para me lixarem a mim e à minha mulher na Internet, é a coisa mais fácil de fazer, não é?"
A questão da segurança foi a nota dominante da conversa: "Como posso pedir segurança quando há tanta insegurança em Rosário, como posso pedir isso quando o povo de Rosário é morto como se não fosse nada, é uma falta de respeito falar de segurança e de protocolos para mim quando o povo de Rosário não pode sair para trabalhar, não pode esperar o autocarro sem ser assaltado, é morto por causa de uma mochila. Como posso pedir isso? Gostaria e desejo segurança para todos e gostaria de deixar claro que, apesar de tudo o que está a acontecer no país e na minha cidade, apesar de tudo, sempre optei por regressar! Quando disse que não voltaria, foi em março, depois das ameaças pessoais, e não por causa da insegurança em Rosário. Que foi uma desculpa para continuar na Europa? Desculpas? Por favor! Eu tinha tudo pronto para voltar e a direção do Central sabia disso. Por isso, fico descansado. Por vezes, é embaraçoso ouvir os teus colegas jornalistas falarem como falam, só porque têm um microfone na mão. Mas já me habituei e não respondo porque não dá, é um desperdício de energia. Estás a dar-lhes publicidade, como alguns deles já tiveram."
Não foi desta que Di María voltou ao Rosario Central, mas garante que não desiste do sonho: "Sempre tive obstáculos na minha carreira e este é mais um. Vou continuar a tentar, vou continuar a lutar pelo meu sonho. A vida é assim. Vou continuar a tentar enquanto as portas estiverem abertas. As pessoas confundem deixar a seleção nacional com a minha reforma. Deixar a seleção nacional não é dizer 'quero reformar-me', é deixar uma parte da minha carreira que penso e estou convencido de que a deixei no momento ideal, como se com um lápis tivesse escrito o melhor final de um belo filme. Mas isso não significa que não esteja vivo, e é aí que as pessoas se confundem. O sonho é voltar ao Central. Sou adepto do Central e vou continuar a dizê-lo, independentemente do que digam."
O jogador do Benfica falou ainda do futuro, do curso de treinador e de uma possível despedida da seleção na Argentina, contra o Chile: "Comecei o curso porque gostava de o fazer. Porque mais tarde verei o que quero fazer. Para já, só quero continuar a jogar. Adeus da seleção contra o Chile? Talvez. Vou falar com o Chiqui Tapia e com o Scaloni porque eles ofereceram-me isso e a verdade é que seria muito bom despedir-me na Argentina para agradecer ao povo todo o carinho que me deram."