Edmilson, um tratado de futebol nos Barreiros e D. Afonso Henriques, habituando plateias a belas pinturas. Torce por triunfo insular, mas não esquece paixão única na cidade-berço. Avançado brasileiro chegou a Portugal pelo Nacional, seguiu para o Marítimo, a sua passagem mais longa, mas ainda chegou a Guimarães a tempo de encantar com 98 jogos e 30 golos.
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Edmilson marcou 84 golos, repartindo a receita entre 54 no Marítimo e 30 no Vitória, o que também se relaciona com a proporção de jogos: 158 pelos ilhéus, 98 pelos minhotos. O atacante foi um dos nomes grandes do futebol português na década de 90, com uma criatividade estonteante, recheando as pontuações das suas equipas com golos e assistências. Hoje, com 54 anos, dirigindo uma academia no estado de Idaho, nos Estados Unidos, Edmilson Lucena tem o dom de suscitar admiração nos Barreiros e D. Afonso Henriques, embora apenas um dos clubes possa gozar de apoio declarado do avançado para o jogo de amanhã, no Funchal.
Pesam, apenas, interesses de sobrevivência, que não chocam com o carinho bem dividido, depois da mudança do Funchal para Guimarães em 1997/98. "Joguei seis anos no Marítimo e três no Vitória. Vejo o Marítimo numa situação muito aquém do que é esperado. Por esse momento delicado, sendo adepto de ambos, diria que a permanência do Marítimo depende de um triunfo imediato. Mas também estou a torcer para que o Vitória volte aos seus grandes dias e atinja os objetivos, que passam pela Europa", confessa o brasileiro, que, aĺém do repertório individual, esteve alinhado em grandes plantéis das duas equipas. "Não posso esquecer a minha participação no primeiro apuramento para a UEFA do Marítimo, que veio de uma vitória por 3-2 sobre o Boavista. Eu marquei um e o Ademir dois. Isso valeu uma comemoração incrível, festa a noite toda na marina, na casa do presidente, nos bares e discotecas. Ninguém se fartou!, exclama. Contrapondo ainda: "Do Vitória há imagens mais globais, cada jogo era incrivelmente intenso, os adeptos únicos em Portugal, não dividiam o coração com os grandes. Cheguei a Guimarães e notei fortes diferenças. Fosse o jogo que fosse, os adeptos estavam a 100 por cento a puxar por nós. Isso era um amor e um calor que transbordava nos jogos, sentíamos a paixão e necessidade de vencer. Era obrigatório dar alegrias a essa gente efusiva", rebobina Edmilson.
As recordações surgem envoltas em nostalgia. "Não era fácil sair da Madeira, não havia internet e os jogos vistos eram só com os grandes. Um jogador do Marítimo tinha de ser muito regular toda a época, sendo avançado tinha de marcar muitos golos e tinha de estar sempre em alto nível contra os grandes. Os convites que me chegaram nunca foram tentadores para sair até chegar o Vitória. Foi uma chance e um desafio, sabia que iria ganhar visibilidade jogando num clube que lutava sempre pelas posições cimeiras", puxa atrás, não esquecendo quem mandava. "Lembro Pimenta Machado, posicionava-se como presidente, mas sem grande contacto com os jogadores. Era polémico, mas deixou obra e engrandeceu o clube", conta.
"Jovens a ganhar calo"
Já pondo foco no presente e num período crítico, cede uma reflexão ao universo vitoriano. "Não consigo acompanhar muito, sei que tem um plantel jovem, tem passado por altos e baixos e está difícil a UEFA. Aquilo que posso dizer é que quando não há nomes de vulto, é preciso saber apoiar essa prata da casa. Esses jovens estão a ganhar calo para fazerem a diferença no futuro. E, não duvido que vão ajudar muito o Vitória", rebate Edmilson. "Eu vivi uma era de grandes plantéis com Neno, José Carlos e Paneira e com brasileiros como Arley, Alexandre, Riva ou Gilmar. Dávamos luta aos do topo e até ficámos uma vez em terceiro."
Surpresa com o despedimento de Pacheco e a alegria com Quinito
Edmilson jogou em Guimarães entre 1997 e 2000 e fez três épocas com contributo elevado, vendo o Vitória acabar em terceiro, quinto e sétimo. "Apanhei o Jaime Pacheco no primeiro ano, estávamos em segundo lugar e ele foi despedido após um empate com o Boavista. O presidente não gostou nada", recorda. Conheceria logo o seu personagem favorito. "Pacheco não ficou muito tempo e veio Quinito. Deu-me muita liberdade, era adepto do futebol bonito e de criativos. Tive Autuori, foi fantástico, mas Quinito mudou o meu rendimento. Eu jogava por mim e por ele, tinha de devolver responsabilidade, passei a produzir muito mais jogadas de ataque e de potencial golo. Deixei de ter medo de errar!"