"Cheguei a estar seis a sete meses sem conseguir ter uma noite seguida de descanso"
Juan San Martín passou por uma depressão, suspendeu a carreira e teve meses de insónias. Agora já marca, pelo Cova da Piedade.
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O mundo mudou quando Juan San Martín começou a sentir que algo não estava bem. Depressão foi o diagnóstico do uruguaio, 28 anos. Teve insónias durante mais de seis meses e mudanças repentinas de humor. Parou a carreira em novembro e voltou, agora, no Cova da Piedade, onde bisou no triunfo (2-1) com o U. Santarém.
É público que passou por uma depressão. Voltar a marcar foi tão ou mais especial do que quando voltou a jogar?
-Foi uma sensação de felicidade por voltar a fazer o que sempre gostei. Tinha tomado a decisão de fazer uma pausa na carreira, naquilo com que sempre sonhei, e voltar a jogar e agora a marcar é incrível!
Mas quando e como começou a sentir que algo estava errado?
-Na época passada, no Olhanense. Em janeiro, os ordenados começaram a atrasar e a pressão de subir à Liga 3 aumentou. Na última jornada precisávamos de empatar, mas perdemos com o Real SC e não subimos à Liga 3. Ficámos com três meses de ordenados em atraso, que até hoje não foram regularizados. Comecei a ter mudanças de humor radicais. Sempre fui muito alegre, brincalhão e passei a não ter vontade de falar, nem com a Liliana, minha namorada, que foi quem mais me apoiou. Por vezes estava a ver televisão e começava a chorar. Foi aí que ela percebeu que eu não estava bem e decidimos ir a um especialista, que me diagnosticou uma depressão.
E daí para a frente, o que enfrentou?
-O médico queria receitar-me medicamentos, mas eu achei que não era necessário. No entanto, estive muito tempo sem dormir a partir do final de época. Comecei a não dormir com frequência e numa semana só conseguia ter uma noite seguida de descanso. Cheguei a estar sete a oito meses sem dormir uma noite completa e durante o dia não tinha sono. Foi bastante complicado. Treinava sempre a 100 por cento, todavia comecei a sentir dores musculares, mazelas e isso não ajudava o meu humor. O psicólogo resultou, mas o mais importante foi a Liliana. Com ela conseguia desabafar de uma maneira diferente..
E conseguia corresponder em campo sem descansar?
-Quando me dava o sono, era a hora de ir treinar. Tive um jogo com o Pinhalnovense [esta época, no Esperança de Lagos] sem dormir uma hora. Marquei um golo e fiz uma assistência.
E agora, já dorme melhor?
-Agora já consigo ter oito horas de sono tranquilas. Isso ajuda-me bastante no descanso e na recuperação.
Em novembro decide interromper a carreira. Imagino que não tenha sido uma decisão fácil...
-Nunca pensei que ia ter que parar de jogar. Falei com o presidente do Esperança de Lagos e na altura não disse o que se estava a passar, por vergonha. Só a minha namorada e o meu empresário sabiam que eu saía de casa com vontade de treinar, mas pelo caminho começava a chorar. A certa altura, era algo que não me estava a fazer bem. Foram duas a três semanas assim. Mais tarde liguei ao presidente do Esperança e contei-lhe a situação.
A saúde mental dos jogadores é um problema que merece mais atenção?
-É um tema bastante importante. Sou uma pessoa muito alegre, brincalhona e faz falta falar. Nunca pensei passar por algo assim.
E à sua Liliana, que foi o seu principal pilar, que mensagem lhe deixa?
-Só tenho a agradecer. Ela foi fundamental na minha recuperação. Sem ela, não digo que fosse impossível, mas seria dez vezes mais difícil. E como ela me apoiou, eu vou estar sempre lá para a apoiar. Casamento? Ela está a pressionar. Quer que eu faça o pedido [risos].