Chegou a ser cogitado para o FC Porto B e diz: "Procuro projeto ambicioso e exigente em ligas profissionais"
Tiago Moutinho fala da saída da Académica, depois de ter colocado os estudantes na pista da Liga 2. Treinador de 43 anos orgulhoso do que fez em Coimbra e por ter despertado gigante adormecido mas ciente que já se posiciona para outros voos
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Aos 43 anos, Tiago Moutinho é um técnico que se sente motivado a assumir novos e atrativos desafios, após passagem de época e meia positiva pela Académica, histórico que legitima paixão mas também acrescenta ambição. Separou-se da Briosa no final da época, após ter colocado os estudantes a lutarem por uma subida à Liga 2, discutindo o apuramento de campeão e os lugares de promoção na Liga 3, encerrando no quinto lugar, sem conseguir, nesse mini-campeonato, oferecer a luta necessária a clubes como Alverca, Felgueiras, Lourosa ou Braga B. Após trabalhar algum tempo com Sá Pinto, percorrer alguns países como Sérvia, Grécia, China ou Espanha, o portuense Tiago Moutinho tem agarrado o comando de clubes de tradição, como foram a Sanjoanense e, recentemente a Académica, experiência que durou época e meia.
"A passagem pela Académica foi muito positiva. O objetivo inicial era chegar à fase de subida que conseguimos a duas jornadas do fim. Depois surgiu o objetivo de terminar em primeiro lugar que também o conseguimos de uma forma brilhante. A equipa jogava com qualidade e fomos alimentando, entre todos, o sonho da subida", admite o técnico, tocando em alguns cruéis desfechos. "No início da fase de subida fomos quase sempre superiores aos nossos adversários, mas não os conseguimos vencer. Creio que com alguma justiça estaríamos com mais pontos nas primeiras jornadas. O final foi um pouco cruel. Fomos até à penúltima jornada com possibilidade de subir, mas, infelizmente, não conseguimos alcançar esse sonho", lamenta, puxando os créditos da caminhada feita.
"Entre muitas estatísticas positivas, fica na história ter sido o quarto treinador da Académica com maior média de pontos por jogo: 1,7 pontos em 43 jogos", sublinha, passando um retrato mais profundo sobre um gigante com vontade de acordar, historiando contingências e aflições superadas. "Há quinze meses quando cheguei à Académica o clube estava em último lugar e numa situação muito complicada. Até se falava na possibilidade de descida e, consequentemente, o fim do clube. Fizemos uma recuperação espetacular com seis vitórias em oito jogos e conseguimos a manutenção. Este ano que terminou, tínhamos um dos orçamentos mais baixos da Liga 3. Creio que, na fase de subida, éramos o segundo orçamento mais baixo", argumenta.
"Além das equipas B (Braga e Sporting) fomos a equipa com a média de idades mais baixa. Era um grupo jovem. Durante a época, foram convocados dois jogadores para os sub-20 de Portugal o que muito nos honrou. Conseguimos potenciar muitos jovens e estou convencido que alguns deles serão vendidos e ajudarão financeiramente o clube", relata, sem travão nesses méritos. "Estreamos um jogador de 16 anos, da formação da Académica, no jogo com o Covilhã. Ajudamos o Dávila a evoluir e a crescer como jogador, tanto que voltou para o seu clube no mercado de inverno. Os resultados desportivos foram positivos. Fazendo um balanço, quinze meses depois, e com o trabalho de todos, Direção, David Caiado, staff, equipa técnica e jogadores, a Académica está bastante melhor e mais perto de conseguir voltar as provas profissionais. É mais respeitada e no clube continuam pessoas muito competentes. Acredito que em breve vão conseguir atingir os objetivos mais altos", observa Tiago Moutinho, abordando as chamadas de Diogo Amaro e Stitch a jogos dos sub-20.
O jovem treinador admite uma separação emocionalmente difícil da Briosa. "Custou! Existia uma proposta de renovação que foi pública. Foi uma decisão difícil, mas ponderada. Foi um ano muito bom para todos onde aprendemos e progredimos bastante. Ano exigente, de muito trabalho, superação e resiliência pelas dificuldades conhecidas e públicas do clube. Agora devo procurar novos desafios, um projeto que seja ambicioso, exigente e em ligas profissionais", avisa o treinador, que chegou a ser cogitado para o comando da equipa B do FC Porto, já como escolha de Villas-Boas.
"É sempre positivo e estimulante quando se é falado para grandes clubes. Tenho experiência como treinador principal na Liga 3 (Sanjoanense e Académica). Como treinador-adjunto, conto com experiências em Portugal (Sporting e Belenenses), Sérvia (Estrela Vermelha), Grécia (Atromitos e Ofi Creta) e Espanha (Ponferradina). No futebol de formação, dois anos como treinador principal na China (Shandong Luneng). O meu objetivo imediato, e sinto-me preparado, passa por treinar uma equipa profissional, num projeto ambicioso e que lute por vitórias, em Portugal ou fora de portas", projeta Tiago Moutinho, seguro das suas ambições e competências.
"Quero continuar a fazer aquilo que mais gosto e que tenho uma enorme paixão que é o treino e o jogo. Continuar a aprender, evoluir no conhecimento e ajudar equipas e jogadores a atingirem os seus objetivos. Aspiro avançar na minha carreira de uma forma progressiva e sustentada", adianta o técnico, de 43 anos, elogiando a aprendizagem continuada bafejada por uma competição composta por invejável frescura e mediatismo.
"A fase de subida da Liga 3 foi extremamente competitiva. Acabou por ser decidida na última jornada e por detalhes. Não só pela qualidade dos plantéis, do investimento de muitas equipas que tinham o objetivo de subir de divisão, mas também pela qualidade das equipas técnicas. É sem dúvida uma excelente preparação e escola para os campeonatos profissionais. A visibilidade e a atração mediática ajudaram bastante a promover o trabalho nesta liga tão exigente e equilibrada", resume.