Castigo a Cerqueira sem unanimidade: "Estamos a falar de um telemóvel, não de um botão de punho"
Um dos juízes do Conselho de Disciplina, Coutinho de Almeida, do coletivo que tomou estas decisões, apresentou uma declaração de voto de vencido em que se mostra contra o castigo a Rui Cerqueira
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O treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, foi ilibado pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) no caso dos incidentes no clássico com o Sporting, com os dirigentes Vítor Baía e Rui Cerqueira condenados.
Quanto ao antigo guarda-redes, a decisão fundamentada nota os vários insultos que este dirigiu ao presidente do Sporting, Frederico Varandas, tendo confessado "a conduta ofensiva da honra de outro agente desportivo", o que atenuou a pena aplicada.
A SAD dos dragõesfoi punida por publicações nas redes sociais, sendo absolvida de outras acusações, com o CD a fundamentar a decisão mais pesada sobre Rui Cerqueira em vários pontos.
Foi dado como provado que o diretor de imprensa bateu numa mão do presidente leonino, fazendo cair o telemóvel que este segurava, com o CD a elencar vários elementos de prova, como o pedido, por parte de Varandas, de renovação do cartão de cidadão que "se encontrava guardado na capa do telemóvel", entre outros.
Acrescente-se ainda que um dos juízes do Conselho de Disciplina, Coutinho de Almeida, do coletivo que tomou estas decisões, apresentou uma declaração de voto de vencido em que se mostra contra o castigo a Rui Cerqueira.
"Os elementos probatórios não permitem assegurar ou garantir que o arguido Rui António Soares Leal Cerqueira tenha praticado os factos de que está acusado e aos quais a decisão acaba por aderir. Estamos tão só perante diferentes abordagens da prova recolhida e produzida e da sua subsequente valoração", pode ler-se no comunicado do órgão da FPF.
"Como referi no projecto de acórdão que relatei e apresentei, a mera publicação na rede social Twitter de uma fotomontagem, em que é visível um telemóvel no chão, com a legenda 'Pinto da Costa, 40 anos a tirar a rede a Lisboa', não se referindo objectivamente a qualquer telemóvel ou ao Presidente da SAD do Sporting, a qualquer clube ou a qualquer agente desportivo da cidade de Lisboa, não vislumbramos onde possa estar o apontado cariz grosseiro ou soez, do que não deixa de ser uma "laracha". Uma simples publicação de uma fotomontagem, com uma legenda, sem qualquer outra referencia concreta, jamais poderá ser entendido como violadora de quaisquer deveres e muito menos enquadrar tal comportamento no ilícito [...], referiu ainda na declaração de voto vencido.
"Que o arguido estava no local, dúvidas não há, pois ele próprio nunca o negou e, por isso,
pouco importa que nos ditos relatórios ali o situem. [....] Mas, de facto, quanto ao episódio do telemóvel, as dúvidas não são poucas e algo não bate certo no reino dos mortais. É costume dizer-se que "uma imagem vale mais do que mil palavras"... Ora, nas imagens
exibidas consegue ver-se claramente o Sr. Presidente da SCP Frederico Nuno Faro Varandas a sair do ajuntamento de pessoas em direcção ao autocarro, ao lado de um dos elementos que o acompanhava (que até lhe coloca a mão sobre o ombro direito), mas com um aspecto divertido e descontraído, como se nada se tivesse passado [...] Ora, não é humanamente normal ou compreensível que alguém seja "agredido" com uma palmada ou seja despojado ou desapossado de um telemóvel (e eventualmente dos haveres pessoais, como o cartão de crédito e o cartão de cidadão) e saia do "aglomerado" ou da "contenda"(diremos assim) daquela forma, a sorrir, sem manifestar desagrado ou esboçar qualquer gesto no sentido de os recuperar. [...] Estamos a falar de um telemóvel, de um objecto de índole pessoal que à partida conterá elementos e informações importantíssimas para o seu titular e não de um simples botão de punho ao de um outro qualquer elemento decorativo. Qualquer cidadão normal, naquelas circunstâncias, não saía do local sem saber o que acontecera ao seu telemóvel ou aos seus haveres. Qualquer pessoa, o chamado homem normal ou o homem médio, procurava as autoridades policiais (que se encontrava no local, ali mesmo à mão, mais do que um elemento), apresentava queixa e exigia que as autoridades buscassem os bens [...], referiu ainda Coutinho de Almeida.
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