Carvalhal: "David Carmo é uma ave rara e ficará no FC Porto, no máximo, um ano"

David Carmo, jogador do FC Porto
ENTREVISTA, PARTE I - Carlos Carvalhal não tem dúvidas: o FC Porto acertou em cheio na contratação de David Carmo. O antigo treinador do Braga acredita, inclusive, que o central vai estar apenas um ano no Dragão.
Corpo do artigo
Carlos Carvalhal trabalhou com David Carmo no Braga nas últimas duas épocas e aceitou o repto de O JOGO para falar pormenorizadamente das características do defesa-central. Diretamente dos Emirados Árabes Unidos, o atual treinador do Al Wahda destacou as qualidades, lembrou o trabalho que fez e que o transformou por completo, mas também o que ainda tem de aperfeiçoar o mais caro reforço de sempre dos dragões.
O FC Porto acertou na contratação de David Carmo?
-O FC Porto é um clube que escrutina muito bem os jogadores, analisa-os bem antes de partir para a sua contratação e esta particularmente é de um valor muito avultado, que careceu de certeza de uma análise muito profunda, de todos os detalhes. O David tem evoluído imenso como jogador, fundamentalmente na última época. Acalmou depois de ter vindo da lesão e tornou-se num jogador muito mais completo. Aquilo que se espera é que possa evoluir jogando, disputando jogos importantes, como na Liga dos Campeões. Mas ele está preparado para o desafio que aí vem, porque sabe lidar com a pressão. Num clube como o Braga já está habituado a jogar com uma pressão muito grande.
O FC Porto tem em David Carmo um central para quantos anos ou será que em pouco tempo pode render alguns milhões?
-A impor-se e a evoluir, creio que ficará no FC Porto, no máximo, um ano.
Porquê?
-Pela idade e pela competência que tem. Se conseguir evoluir e chegar ao nível que todos nós pensamos que poderá chegar, com as capacidades que tem, como o pé esquerdo que tem, por ser um central alto e com boa relação com bola, é uma ave rara hoje em dia no futebol. Todos os clubes andam à procura de centrais de grande qualidade e, sinceramente, se fizer um grande ano, é grande a possibilidade de se transferir num curto espaço de tempo. Há um aspeto importante: foi para um grande clube e já estava num grande, porque o Braga é um grande clube. O FC Porto entra na Liga dos Campeões e ele estará confortável na prova.
Quais são as principais qualidades dele?
-Tem uma relação com bola excelente para a altura que tem. Tem uma capacidade técnica acima da média. Tem passe longo e curto interior muito forte e leitura de jogo muito boa. Em termos de posicionamento melhorou imenso, está um jogador muito mais capaz. No jogo aéreo tem vindo a melhorar, mas pode melhorar ainda mais para tirar partido da sua compleição física. E vimos o golo que marcou na época passada contra o Rangers. É aquilo que tem de fazer mais vezes. Trabalhámos com ele essa situação específica, principalmente ofensiva, porque tem condições para ser uma ameaça para qualquer adversário. É ainda um jogador muito calmo, tranquilo e que não se perturba estando sobre pressão.
Ainda tem alguns aspetos a melhorar?
-Havia a impetuosidade, mas ele transformou-se completamente. Ficou mais calmo, mais tranquilo e não vai tantas vezes ao chão, porque o ir ao chão, e ao contrário do que se possa pensar, para um central é altamente negativo. Esse será sempre o último dos recursos. Na época passada estava muitas vezes no chão, mas depois da lesão veio mais calmo, mais tranquilo e sempre de pé. É um jogador que está em evolução, obviamente que sim, até porque tem aspetos a melhorar.
Quais são esses aspetos?
-Pode melhorar o jogo aéreo defensivo e ofensivo. São estes aspetos em que ele tem mais margem de progressão. Em função da sua compleição física, pode ameaçar muito os adversários. Defensivamente é competente, ofensivamente tem de melhorar, mas já está num nível bom. Devido à altura que tem, pode ser um jogador de nível superior e tem de trabalhar para chegar lá.
Trabalho extra no jogo aéreo ofensivo
A qualidade estava lá, mas havia aspetos a melhorar. Foi o que Carlos Carvalhal e a sua equipa técnica, nomeadamente o adjunto João Mário, fizeram durante os dois anos que trabalharam com David Carmo.
"No caso de alguns jogadores foi necessário fazer um trabalho individualizado e isso aconteceu com o David, principalmente no jogo aéreo ofensivo. Nos aspetos defensivos, como o meu adjunto, o João Mário, treina com os defesas todos os dias, mas todos os dias mesmo, ele estava englobado no setor defensivo e fazia um trabalho setorial. É um trabalho aturado da nossa equipa técnica e alguns aspetos mais individualizados, numa ou noutra situação, fez comigo, principalmente no aspeto ofensivo", explicou o antigo treinador dos arsenalistas em declarações a O JOGO.
